Golpe de Estado foi "um soco no estômago dos guineenses" - Odete Semedo
A investigadora guineense Odete Semedo disse à Lusa que o que aconteceu na Guiné-Bissau foi "soco no estômago dos guineenses", esperando que Presidente Umaro Sissoco Embaló passe um longo período fora do país.
"Foi mais um golpe, aquilo que a gente teve foi um soco no estômago dos guineenses, porque quando nós pensávamos que esta seria a vez do povo falar mais alto através dos seus votos", afirmou à Lusa a poetisa, contista, professora universitária e política, que se participar do 2.º Festival Literário Internacional da Paraíba (FliParaíba), que decorre até sábado na cidade brasileira de João Pessoa.
Os militares assumiram na quarta-feira o controlo total da Guiné-Bissau, antecipando-se à divulgação dos resultados das eleições gerais de 23 de novembro.
Diferente das últimas eleições, desta vez, sublinhou a segunda vice-presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), "o povo vigiou as urnas, o povo vigiou as atas, fotografou-as, esteve lá na contagem dos votos, somou com o seu caderno, com a sua folha, para mostrar e dizer basta".
Na quinta-feira, o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, deposto na quarta-feira por um golpe militar, chegou ao Senegal a bordo de um avião fretado por este país.
A investigadora guineense disse desejar que Embaló passe "um longo" período fora do país "até ele aprender a conviver num país democrático e a respeitar a liberdade das pessoas".
A ex-ministra da Educação e da Saúde da Guiné-Bissau frisou que "gostaria de facto que Umaro Sissoco Embaló demorasse a voltar à Guiné-Bissau e quando voltasse que encontrasse aquele país que Amílcar Cabral [um dos principais líderes anticoloniais da África] desejou e que por ele perdeu a vida", assassinado em 1973.
O general Horta Inta-A foi empossado Presidente de transição da Guiné-Bissau, numa cerimónia que decorreu no Estado-Maior General das Forças Armadas guineense, um dia depois de os militares terem tomado o poder no país, antecipando-se à divulgação dos resultados das eleições gerais de 23 de novembro.
Os militares anunciaram a destituição do Presidente Umaro Sissoco Embaló, suspenderam o processo eleitoral, os órgãos de comunicação social e impuseram um recolher obrigatório.
As eleições, que decorreram sem registo de incidentes, realizaram-se sem a presença do principal partido da oposição, Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e do seu candidato, Domingos Simões Pereira, excluídos da disputa e que declararam apoio ao candidato opositor Fernando Dias da Costa.
Simões Pereira foi detido e a tomada de poder pelos militares está a ser denunciada pela oposição como uma manobra para impedir a divulgação dos resultados eleitorais.