Google criticada por permitir comentários antissemitas a Auschwitz no Maps

A Google está a ser alvo de críticas depois de terem sido descobertos mais de 150 comentários antissemitas na plataforma Google Maps, mais precisamente na página que assinala a localização do campo de concentração de Auschwitz, onde mais de 1,1 milhões de pessoas foram assassinadas.

RTP /
Quase uma centena dos 153 comentários denunciados pelo Guardian foi feita por utilizadores anónimos. Thomas Peter - Reuters

O Google Maps permite aos utilizadores realizarem livremente comentários de avaliação aos locais e empresas assinalados no mapa-mundo. Qualquer pessoa pode ainda deixar uma classificação de uma a cinco estrelas para cada local. O campo de Auschwitz não é exceção, possuindo neste momento mais de 800 comentários.

Uma investigação levada a cabo pelo Guardian constatou, porém, que a Google não filtrou os comentários antissemitas deixados por alguns utilizadores.

Frases como “Heil Hitler” ou “é pena que a SS [Schutzstaffel, organização militar ligada ao partido Nazi] tenha sido dissolvida há tanto tempo” pairavam no Google Maps há meses, sem nunca terem sido eliminadas pela empresa.

Outros comentários foram feitos há anos. “Os banhos [referência às câmaras de gás] foram uma grande experiência”, escrevia um utilizador em 2017. “Bom sítio para ir se quiserem perder peso rapidamente”, lia-se num comentário deixado há nove anos.

Quase uma centena dos 153 comentários denunciados pelo Guardian foi feita por utilizadores anónimos. Alguns deles escolheram para nome de utilizador o de personalidades como Primo Levi, sobrevivente do Holocausto, Michael Wittmann, comandante da Schutzstaffel, ou até do próprio Adolf Hitler.

Junto de cada comentário realizado no Google Maps surge o símbolo de uma bandeira vermelha, para que possa ser denunciado no caso de violar as regras comunitárias. No entanto, mais de 24 horas depois de o Guardian ter reportado os 153 comentários antissemitas, a maioria permanecia online.
Google admite que tem de “fazer melhor”
O porta-voz do campo de concentração de Auschwitz, que em 1947 foi convertido em museu, explicou ao Guardian que o local tem sido há muito um alvo de antissemitismo. “A nossa experiência é que, lamentavelmente, muitos dos comentários perturbadores e antissemitas não são removidos depois de denunciados por não 'violarem o regulamento'”.

“Estes comentários são doentios. A Google precisa de assumir responsabilidade pelo ódio partilhado no seu site e de tomar passos para monitorizar e remover conteúdos tão abomináveis, melhorando e alterando as suas políticas e a sua moderação”, considerou, por sua vez, Karen Pollock, chefe executiva da instituição Holocaust Educational Trust, que luta por educar os jovens sobre as origens e lições do Holocausto.

O Guardian levou a denúncia à Community Security Trust, uma instituição britânica que apoia judeus alvos de antissemitismo. “Estes chamados comentários a Auschwitz são grotescos e não há qualquer justificação para o falhanço da Google em removê-los”, considerou um porta-voz da instituição.

“Infelizmente, a falha da Google é apenas mais um exemplo da necessidade para regulação eficaz. Claramente as políticas existentes das plataformas não estão a funcionar”, defendeu.

Em resposta à investigação, a Google assumiu que tem de “fazer melhor” para remover rapidamente comentários desrespeitosos. “Estamos chocados com estes comentários na nossa plataforma e estamos a agir para remover o conteúdo e prevenir futuros abusos”, avançou um porta-voz da empresa.

“Temos políticas claras que proíbem avaliações ofensivas e falsas [aos locais e empresas assinalados no Google Maps] e trabalhamos a toda a hora para monitorizar o Maps. Neste caso, sabemos que precisamos de fazer melhor e estamos a trabalhar no sentido de avaliar e melhorar os nossos sistemas de deteção”, acrescentou.
PUB