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"Gostaríamos de produzir mais". AstraZeneca responde a críticas da UE

por Inês Moreira Santos - RTP
Dan Himbrechts - EPA

As tensões entre a AstraZeneca e a União Europeia começaram depois de, na sexta-feira passada, a farmacêutica anunciar que as entregas da vacina contra a Covid-19 na Europa seriam inferiores ao previsto. Perante as fortes críticas dos líderes europeus, o presidente executivo da empresa pede um pouco mais de compreensão e garante que a produção decorre durante "24 horas por dia, sete dias por semana". No entanto, Pascal Soriot esclarece que o Reino Unido terá prioridade na entrega das encomendas.

A Comissão Europeia classificou estes atrasos como "inadmissíveis" e pressionou a AstraZeneca para entregar o mais rapidamente possível as doses contratualizadas com a União Europeia. O CEO da farmacêutica, em resposta às críticas europeias, lamentou os atrasos e garantiu também estar "desapontado" com a situação.

"Acho que fomos relativamente específicos com as informações. Claro, estamos todos muito desapontados. Gostaríamos de produzir mais", começou por responder, na terça-feira, numa entrevista ao jornal italiano La Repubblica.

Segundo Pascal Soriot, no contrato com a União Europeia a Astrazeneca comprometeu-se com os "melhores esforços" para entregar as vacinas, mas sem especificar quantidades.

"A nossa equipa está a trabalhar 24 horas por dia, sete dias por semana, para resolver muitos problemas de produção da própria vacina", esclareceu, acrescentando que acha que é possível que a UE receba "no mês de fevereiro uma quantidade razoável, na verdade, muito semelhante ao que outros entregam mensalmente".

"Mas é claro, é menos do que o esperado", confirmou Soriot. "Estamos a trabalhar muito para aumentar os nossos objetivos. Não é tão bom quanto gostaríamos, mas também não é assim tão mau".

A produção de uma vacina passa, essencialmente, por duas etapas: a produção da "substância medicamentosa" e a produção do medicamento mesmo, já em frascos. E, neste momento, os problemas com a entrega das encomendas europeias "têm a ver com a produção da substância medicamentosa".
AstraZeneca dá prioridade ao Reino Unido
Uma das críticas dos líderes europeus é o Reino Unido receber primeiro todas as doses que encomendou e sem atrasos. Mas de acordo com Pascal Soriot, a UE não pode reclamar e querer receber a vacina da AstraZeneca e da Universidade de Oxford ao mesmo tempo que o Reino Unido uma vez que só efetuou as encomendas três meses depois dos britânicos.

"No acordo com a UE é referido que os locais de produção no Reino Unido são uma opção para a Europa, mas só mais tarde", começou por explicar.

"O contrato no Reino Unido foi assinado três meses antes do negócio europeu. Portanto, com o Reino Unido tivemos três meses de avanço para reparar todas as falhas que tivemos. Para a Europa, estamos três meses atrasados a fazê-lo. Se faria melhor? Claro que sim. Mas se entregarmos o que temos planeado para fevereiro, não é pouco".

"Quando assinamos o contrato com Oxford, já estavam a trabalhar com o governo do Reino Unido nisso. Então, os britânicos tiveram vantagem. Pudemos rapidamente pegar na cadeia de medicamentos do Reino Unido e melhorá-la".

Contudo, o presidente executivo da empresa garante que assim que a União Europeia aprovar a vacina que foi desenvolvida com a Universidade de Oxford (o que deve acontecer ainda esta semana), a UE receberá de imediato três milhões de doses e mais 17 milhões em fevereiro.

"O objetivo é entregar 17 milhões de doses até ao final de fevereiro" - doses que serão dividadas conforme a população de cada país. "Não é tão bom quanto queríamos mas não é mau de todo", defendeu Pascal Soriot, lembrando que o que está no contrato com a União Europeia é que a empresa iria fazer os seus "melhores esforços" para produzir o mais possível.

Reconhecendo que os governos europeus estavam a ficar sob pressão devido aos repetidos obstáculos nas entregas de vacinas, o CEO da AstraZeneca garantiu ainda que não estavam "a tirar vacinas dos europeus para vendê-las noutro lugar com lucro". A empresa, que se associou à Universidade de Oxford para desenvolver a vacina contra o novo coronavírus, prometeu não lucrar com as vendas da vacina durante a pandemia.

O responsável recusou-se ainda a fazer "juízos de valor" a demora da Comissão Europeia para acordar e encomendar vacinas à farmacêutica.

"Só vos posso transmitir factos e os factos são que basicamente assinámos um acordo com o Reino Unido três meses antes de o termos feito com a Europa".

"Eu sou europeu, tenho a Europa no meu coração. O nosso presidente do Conselho de Administração é sueco, o nosso administrador financeiro é europeu. Queremos tratar a Europa da melhor forma que podemos. Estamos a fazer isto sem lucro, lembra-se?", recordou Soriot, garantindo que a empresa não está a "fazer de propósito" para atrasar as entregas na Europa.

"Gostaríamos de tratar Europa tão bem quanto possível. Na verdade, acredito que tratamos a Europa de forma justa", continuou, assegurando que a AstraZeneca não procura arranjar desculpas: "Assumimos a responsabilidade. Queremos fazer melhor e estamos a trabalhar dia e noite".

Segundo Pascal Soriot, estão centenas de pessoas a trabalhar para garantir a produção rápida e eficaz das vacinas, mas o processo é "complicado" e a uma "escala enorme".

"Não estou a pedir-vos para terem pena de nós, mas é só para saberem que estamos a dar o nosso melhor. Mas é um processo muito complicado, a uma escala enorme".

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA, sigla em inglês) prevê aprovar, até ao final desta semana, a vacina da AstraZeneca contra a Covid-19, apesar dos problemas de fornecimento, o que é o primeiro passo para avançar no processo.
Farmacêutica cancela reunião com UE

A britânica AstraZeneca produz a vacina mais económica contra a Covid-19 e ficou debaixo de fogo cruzado com a União Europeia depois de ter anunciado uma redução e atraso nas entregas.

Esta situação levou a comissária europeia da Saúde, Stella Kyriakides, a anunciar uma "profunda insatisfação" e fez saber que a UE pretende começar a rastrear as remessas de vacinas exportadas para países terceiros, o que demonstra um sinal de crescente desconfiança.

"A União Europeia quer saber exatamente que vacinas foram produzidas pela AstraZeneca", se foram distruídas e a quem, disse a responsável europeia na segunda-feira.

Devido a este diferendo, os responsáveis europeus e da farmacêutica tinham uma reunião agendada para esta quarta-feira. Mas, entretanto, a empresa AstraZeneca recusou-se a participar neste encontro.

Após a entrevista ao jornal italiano, na terça-feira à noite, a farmacêutica decidiu que vai responder por escrito às questões colocadas pela comissária europeia da Saúde, segundo avança esta quarta-feira o jornal Politico.
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