Governador alerta para nova onda de sequestro de crianças em Cabo Delgado
O governador da província de Cabo Delgado, Valige Tauabo, alertou esta sexta-feira para uma nova onda de sequestros de crianças pelos grupos extremistas armados no norte de Moçambique, pedindo vigilância aos pais.
"As crianças não podem sair sozinhas porque os terroristas podem sequestra-las e assim, chantagear as nossas forças, porque sabem que estas não vão disparar contra as crianças. Por isso temos de ficar atentos", disse o governador, durante uma visita a uma das aldeias afetadas pelos conflitos, em Cabo Delgado.
Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
Segundo Valige, o uso de crianças pelos terroristas durante as incursões armadas é uma estratégia que limita a atuação das forças nacionais e aliadas, no combate aos extremistas, numa altura de recrudescimento de ataques por grupos extremistas que operam em Cabo Delgado e que desde final de julho já provocaram mais de 57 mil deslocados no sul da província.
"Temos de aconselhar e conversar com os nossos filhos porque os terroristas podem aproveitar-se deles para semear o mal nas nossas comunidades. Temos de ser vigilantes", apelou.
O governador pediu ainda aos responsáveis das crianças para que conversem com as crianças, de modo a explicar a situação que a província atravessa.
Em junho, a Human Rights Watch (HRW) alertou para o aumento do número de crianças raptadas pelos grupos que operam, desde 2017, na província moçambicana de Cabo Delgado, e que são usadas em trabalhos forçados, pedindo ações do Governo.
"O aumento dos sequestros de crianças em Cabo Delgado agrava os horrores do conflito em Moçambique (...) O Al-Shabab precisa poupar as crianças do conflito e libertar imediatamente as que foram sequestradas", disse a diretora-adjunta para a África da HRW, Ashwanee Budoo-Scholtz, citada num comunicado da Organização Não-Governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos.
No comunicado, a HRW indicava que as crianças são raptadas pelos rebeldes ligados ao grupo Estado Islâmico para serem usadas para "transportar bens saqueados, realizar trabalhos forçados, casamentos forçados e participar em conflitos".
A Lusa noticiou em 20 de junho que Moçambique foi o segundo país com o maior aumento percentual (525%) de violações graves contra crianças em conflitos armados em 2024, apenas atrás do Líbano, segundo um novo relatório da ONU.
Os dados constam no relatório do secretário-geral da ONU sobre crianças e conflitos armados de 2024, no qual se indica que os maiores aumentos percentuais foram verificados no Líbano (545%), Moçambique (525%), Haiti (490%), Etiópia (235%) e Ucrânia (105%).
Num capítulo dedicado ao conflito na província moçambicana de Cabo Delgado, no relatório indica-se que a ONU verificou 954 violações graves contra 507 crianças (402 meninos, 105 meninas), além de uma violação grave ocorrida em 2023, mas só passível de verificação no ano passado.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano.