Governo admite fim próximo da ETA, mas não recebeu qualquer mensagem
O governo espanhol considera que "é possível que se assista rapidamente ao fim da ETA", anunciou hoje uma fonte governamental espanhola a coberto do anonimato.
"Existe a possibilidade de se assistir rapidamente ao fim da ETA", disse a fonte numa alusão à organização separatista basca armada que manifestou domingo vontade de resolver o sangrento conflito basco através da negociação com o governo espanhol.
"Eles têm de dar-nos provas muito claras como o abandono das armas e do terrorismo", acrescentou a fonte em declarações a um grupo de jornalistas estrangeiros e lembrando a exigência prévia posta pelo governo a qualquer começo de diálogo com os radicais bascos.
A ETA manifestou domingo em comunicado a "vontade absoluta de se envolver" no processo esboçado a 14 de Novembro pelo porta-voz do seu ramo político Batasuna, Arnaldo Otegi, de resolver o conflito basco pelo "diálogo político" fazendo "desaparecer as armas da política basca".
A ETA, envolvida em 2004 numa campanha terrorista de baixa intensidade e cujo último atentado mortal remonta a Maio de 2003, não fez domingo qualquer referência explícita a um cessar-fogo, mas achou que é chegada a altura de conversar.
"Pensamos que +chegou a altura da palavra+", asseverou a fonte governamental. "Mas resta saber se estão a falar a sério".
Questionado sobre o que o governo espera precisamente para considerar a ETA sincera, respondeu: "Uma trégua não é suficiente, é preciso mais, quando o virmos, reconhecê-lo-emos".
"Será preciso algo de colectivo, que seja reconhecível por toda a sociedade", acrescentou esta fonte, no que foi encarado como uma declaração de reconhecimento dos sofrimentos causados por 36 anos de terrorismo da ETA, que fez mais de 800 mortos. "Houve muitas vítimas, muito anos de sofrimento", sublinhou.
Quanto a saber se as tomadas de posição dos radicais eram uma surpresa total para Madrid ou o fruto de contactos discretos, respondeu: "Será que o sabíamos? Não. Será que o ignorávamos? Também não".
"A nossa impressão é a de que isto possa ser sério e vamos responder como se fosse sério, isto é, como o disse (Zapatero), logo que as armas estiverem caladas, nós vamos escutar", acrescentou numa clara referência às negociações com os radicais bascos.
A análise do governo é a de que, tal como o tinham pedido destacados responsáveis da ETA presos ao proclamarem em Outubro de 2004 o fracasso da luta armada, a organização "passe a palavra ao Batasuna". Por isso, se há contactos, será com o Batasuna e não com a ETA".
Durante anteriores negociações com a ETA, em 1989 em Argel e 1999 em Zurique "estávamos também convencidos de que se podia ver o fim da ETA", mas o actual governo considera que "as circunstâncias são hoje muito diferentes".
O ministro do Interior espanhol, José António Alonso, declarou hoje de manhã que o governo espanhol "dará respostas proporcionais a todos os acontecimentos que ocorrerem" no país basco, numa alusão à oferta de negociações da ETA.
"O que a ETA deve fazer é abandonar a violência de uma vez por todas", disse Alonso aos jornalistas à margem de uma cerimónia. "É o ponto de partida e se acontecer, veremos a partir daí".
"Alguma coisa está a mexer" na situação do conflito basco, não é preciso ser-se muito inteligente para se perceber isso", declarou por seu lado o ministro da Administração, Jordi Sevilla.
O comunicado da ETA em que se anuncia a vontade de se aliar a uma estratégia política foi recebido com optimismo pelo presidente do parlamento basco Juan Maria Atuxta.
"Acredito sinceramente que estamos próximos do momento em que a violência passe à história", disse.
Mas o governo espanhol assegurou hoje que o chefe do executivo, José Luis Rodriguez Zapatero, não recebeu qualquer mensagem da organização terrorista ETA anunciando uma oferta de trégua.
Fontes do executivo fizeram esta consideração à agência EFE depois de uma informação da cadeia de televisão Tele 5 na qual se assegurava que a ETA tinha feito chegar a Zapatero essa oferta de trégua, que poderá tornar-se efectiva no próximo mês de Fevereiro.
Segundo esta cadeia de televisão, o presidente do governo espanhol terá falado desta oferta da ETA nas reuniões que manteve na passada semana com o presidente regional basco, Juan José Ibarrexte, e com o líder do partido Popular (PP), Mariano Rajoy.
"Não se recebeu qualquer tipo de comunicação relativa a uma possível trégua da ETA no mês de Fevereiro, nem ninguém fez chegar ao chefe do executivo informação alguma de que a ETA irá declarar essa trégua no próximo mês", acrescentaram as fontes do Palácio da Moncloa, sede da presidência do Governo.