Governo admite preocupação com onda de novos ataques em Cabo Delgado
O ministro moçambicano da Defesa admitiu esta quinta-feira preocupação com a onda de novos ataques terroristas em Cabo Delgado, norte do país, adiantando que as forças de defesa estão no terreno a perseguir os homens armados.
"Como Força de Segurança não estamos satisfeitos com o estado atual, tendo em conta que os terroristas nos últimos dias tiveram acesso às zonas mais distantes do centro de gravidade que nós assinalámos", disse o ministro da Defesa, Cristóvão Chume, à margem da abertura da VI.ª sessão da Comissão Conjunta Permanente de Defesa e Segurança Moçambique-Tanzânia.
O ministro garantiu que as Forças de Defesa e Segurança estão no terreno "a combater os terroristas, a perseguir os terroristas", reconhecendo que "nem sempre vai ser possível evitar-se que situações como estas", que ocorrem desde o passado dia 24 no distrito de Chiúre Velho, no norte de Moçambique, voltem a acontecer.
"Nós estamos na província de Cabo Delgado, vamos continuar a lidar e tentar, no máximo, minimizar a ação e o avanço do terrorismo no nosso país e, em particular, em Cabo Delgado", defendeu Cristóvão Chume.
Segundo o governante, os últimos ataques causaram cerca de 12 mil deslocados, com as autoridades locais e organizações da sociedade civil no terreno a prestar já apoio às vítimas, sobretudo, para "minimizar o sofrimento da população".
Chume defendeu que o combate ao terrorismo requer "paciência" e, sobretudo, inteligência: "o combate ao terrorismo precisa de muita paciência. Mesmo se forem a ver as grandes nações que combatem o terrorismo, precisam de ter muita paciência, sobretudo, continuarmos a investir nas pessoas, no capital humano que combate o terrorismo, capacitar as forças de defesa e segurança em equipamentos necessários que possam naturalmente diminuir a ação do terrorismo em Moçambique".
A província de Cabo Delgado, situada no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
O governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, reconheceu hoje à Lusa um recrudescimento da atividade destes grupos nos últimos três meses, mais acentuada desde final de junho, nomeadamente no sul da província, que só nos últimos dias provocou milhares de deslocados, em fuga para Chiúre e para a vizinha Nampula.
Elementos associados ao grupo extremista Estado Islâmico reivindicaram um ataque, no passado dia 24, à aldeia e ao posto policial de Chiúre Velho, igualmente no sul da província de Cabo Delgado, com armas automáticas, levando material do seu interior.
A reivindicação, feita através dos canais de propaganda, é documentada com um vídeo, em que os rebeldes, alegadamente pertencentes ao grupo Ahlu-Sunnah wal Jama`a (ASWJ), surgem a disparar rajadas de tiros de metralhadora e entram naquele posto policial, garantindo ter levado material, após queimarem uma viatura e "libertarem presos muçulmanos", com registo de pelo menos uma pessoa decapitada no centro da localidade.
As autoridades moçambicanas reconheceram hoje cerca de 12 mil pessoas deslocadas devidos aos ataques, com agências no terreno a contabilizarem pelo menos 34.000 novos deslocados só entre 20 e 25 de julho, devido a novos ataques insurgentes, nos distritos de Chiúre, Ancuabe e Muidumbe.
Pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique em 2024, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado em fevereiro pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).