Governo britânico e Rolls Royce estudam energia nuclear para acelerar exploração espacial

por RTP

Quando falamos ou pensamos na energia nuclear os primeiros pensamentos vão em direcção ao poder destrutivo das bombas atómicas, mas o potencial energético nuclear não é só utilizado na área militar, constituindo atualmente uma importante fonte da produção elétrica em muitos países.

A pensar precisamente no potencial energético atómico a Agência Espacial do Reino Unido associou-se à empresa britânica Rolls-Royce num estudo que visa utilizar a energia nuclear, bem como as tecnologias nesta área, como parte da exploração espacial.

Esta parceria pretende que vários cientistas mundiais, juntos, possam explorar o potencial revolucionário da energia nuclear como uma fonte ‘mais’ abundante de energia, capaz de tornar possível uma exploração espacial mais ‘profunda e longínqua’ nas próximas décadas.

Utilizar o átomo para explorar o cosmos

Tratar e utilizar a energia nuclear ainda comporta os seus riscos, mas com o avanço da tecnologia e os conhecimentos adquiridos são cada vez mais as vantagens deste tipo de recurso.

Exemplo disso mesmo é o contraste entre a utilização da fusão e a fissão nuclear.

A fusão nuclear é um tipo de energia diferente do processo de fissão nuclear, que é usado desde 1950 nos reatores de energia atómica. Na fusão, a energia é gerada a partir da união de átomos, enquanto na fissão a energia é gerada pela divisão de átomos.

A primeira central elétrica nuclear no mundo entrou em funcionamento na cidade russa de Obninsk, em 1954, e esteve ativa durante 48 anos. Em 2017, 31 países tinham centrais nucleares e, em 15 deles, a energia nuclear fornecia pelo menos 20 por cento da produção anual total de eletricidade.

No caso da propulsão nuclear, este sistema seria idêntico ao utilizado nas centrais nucleares, ou seja, envolveria canalizar a imensa energia liberada na divisão do átomo para acelerar propulsores, como o hidrogénio, em velocidades muito superiores às atuais e com o potencial de revolucionar o conceito temporal das viagens espaciais.

De acordo com as estimativas já realizadas por esta parceria britânica, este tipo de motor pode ser duas vezes mais eficiente do que os motores químicos que atualmente equipam os foguetes.

Um foguetão impulsionado por um motor deste tipo poderia, em teoria, chegar a Marte em apenas três a quatro meses, ou seja, cerca de metade do tempo que levam os atuais engenhos espaciais.
Outra das vantagens da utilização deste tipo de energia é o menor recurso aos painéis solares como fontes energéticas. Um pequeno gerador de energia nuclear é ainda mais precioso com a necessidade de estas tecnologias, na exploração espacial profunda, terem obrigatoriamente de afastar-se do Sol.

No Sistema Solar externo, a luz do sol é cada vez menor para os painéis solares, e as outras tecnologias, como as células de combustível, dependem sempre de reabastecimentos mais regulares face a um combustível nuclear.

Só para se ter a noção, um grama de urânio enriquecido 235 dá para alimentar uma casa familiar durante 50 anos e tem uma meia-vida de 703.8 milhões de anos.

A parceria entre a Agência Espacial do Reino Unido e a Rolls-Royce acredita que o processo é viável e que, além de revolucionar os meios de locomoção espacial, também criará novos empregos qualificados em todo o Reino Unido para apoiar a florescente economia espacial do Reino Unido.

Prova desta aposta é a declaração da ministra da Ciência britânica, Amanda Solloway, que afirmou que, “à medida que recuperamos melhor da pandemia, são parcerias como esta [Rolls -Royce e Agência Espacial do Reino Unido], em empresas, indústria e governo que ajudarão a criar empregos e a trazer inovações pioneiras que farão avançar os voos espaciais do Reino Unido.”

Amanda Solloway refere ainda que “a energia nuclear apresenta possibilidades transformadoras para a exploração espacial e este estudo inovador com a Rolls-Royce pode ajudar a impulsionar a nossa próxima geração de astronautas no espaço mais rapidamente e por mais tempo, aumentando significativamente o nosso conhecimento do Universo.”
Do ponto de vista científico e com o intuito na exploração humana no nosso sistema solar, esta nova forma de locomoção poderá não só trazer a vantagem de uma maior velocidade e economia temporal, mas também de uma menor exposição, por parte da tripulação, à radiação cósmica em futuras viagens a Marte ou a outros planetas.

A propulsão nuclear é uma ideia que existe desde a década de 1950, quando os Estados Unidos tentaram desenvolver um foguete impulsionado por pequenas bombas atómicas.

Exploração espacial já utiliza energia nuclear
A ideia de utilizar este tipo de energia na exploração espacial não é nova.

Desde os anos 60 do século XX, que russos e americanos, com o alargamento da corrida espacial, procuraram neste tipo de energia ganhar recursos e vantagem competitivas e muitas foram colocadas em prática.


Entre sondas exploratórias, inclusive utilizadas nas missões tripuladas à lua, aos mais recentes Rovers que andam agora em Marte, o recurso à energia nuclear é sem dúvida o único que dá garantia de maior durabilidade, apesar do enorme risco radioactivo. Mas até agora o ‘crime’ ambiental compensou e que se saiba não colocou em risco a vida humana.

Pequeno reator nuclear (SNAP-27) levado para a lua durante a missão Apollo 12. Fonte: NASA

O rover Curiosity, atualmente em funcionamento em Marte utiliza um sistema de alimentação nuclear RTG.

No futuro e para explorar esta mais-valia energética, a ciência terá de encontrar a resposta adequada para projectar mais rapidamente de forma mais segura o homem além nesta fronteira que se chama "espaço".
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