Governo chinês quebra silêncio e condena protestos em Hong Kong

por RTP
Protestos no 22º aniversário da passagem de Hong Kong à administração chinesa Thomas Peter - Reuters

O Governo chinês condenou esta terça-feira os protestos em Hong Kong, sobretudo a invasão do Parlamento. Após um mês de silêncio, a China pronunciou-se pela primeira vez sobre as manifestações, em comunicado do Governo e na imprensa oficial, que não as tinha noticiado.

Após protestos que duram há aproximadamente um mês e depois da invasão da Assembleia legislativa, na segunda-feira, o Governo chinês decidiu pronunciar-se pela primeira vez sobre o sucedido. O Governo considera ainda "totalmente intolerável" este tipo de ações, que encara como um "claro desafio à fórmula "Um país, dois sistemas".

Num comunicado apresentado pelo porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, a China condenou veementemente as manifestações. 

"Estes atos graves e ilegais anulam o Estado de Direito e minam a ordem social e os principais interesses de Hong Kong", lê-se no comunicado, publicado pela imprensa chinesa. "Estes agressores, violentos, na sua arrogância, desprezam a lei de Hong Kong, causando raiva e tristeza entre toda a população", acrescenta. 

O comunicado e a publicação num jornal oficial do Partido Comunista Chinês a condenar os atos dos manifestantes poderão indicar que Pequim pretende adotar uma posição mais dura e intransigente, após semanas de silêncio.

A imprensa divulgou também imagens do ocorrido: slogans nas paredes, documentos espalhados pelo chão e alguns vidros partidos.

Os manifestantes penduraram também uma bandeira colonial, referente ao período que em Hong Kong estava sob a soberania britânica, numa alusão ao 22.º aniversário do retorno de Hong Kong à China.

Agora a China revelou oferecer apoio às autoridades de Hong Kong para investigar os responsáveis pelos atos cometidos. "O Governo central apoia firmemente a investigação das autoridades de Hong Kong para estabelecer uma responsabilidade criminal sobre os autores da violência".

Carrie Lam, a Chefe do Executivo do território, condenou também o sucedido, apelidando a invasão da Assembleia de "extremamente violenta", "desoladora e chocante". Disse também não serem verdade as críticas de que "o Governo não respondeu", e que este tinha dado uma "resposta muito positiva às exigências que ouvimos".
Protestos pelo futuro de Hong Kong

As manifestações foram motivadas por uma alteração legislativa que possibilitaria a extradição de réus para serem julgados na China continental, de acordo com as leis chinesas. Tal significaria que o código penal de Hong Kong deixaria de ser completamente autónomo.

Milhões de pessoas acreditaram tratar-se de uma tentativa de Pequim de reforçar o controlo sobre o território semiautónomo e colocar em causa a independência dos tribunais. O que deu lugar aos protestos do último mês, quebrando até o recorde de maior número de manifestantes: dois milhões.

Face à adesão crescente aos protestos, Carrie Lam suspendeu as negociações sobre a proposta, mas recusou revogá-la definitivamente, o que prolongou as manifestações.

Por outro lado, a lei de extradição invocou outras preocupações como a democracia, o futuro do território e a sua autonomia. 

Joshua Wong, ativista do movimento pró-democracia, apela à importância dos protestos para definir o que acontecerá ao território depois de 2047, ano em que termina o acordo com a China, estabelecido em 1997. Foi através deste acordo que se estabeleceu a autonomia de Hong Kong, mas este tem a validade de 50 anos. E não define o que acontecerá posteriormente.

Porém, a China aparenta ter uma posição firme. "A única forma da região administrativa especial suster um crescimento económico e manter a estabilidade é integrar mais o seu próprio desenvolvimento no desenvolvimento total da nação".

c/ Lusa
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