O Governo chinês condenou esta terça-feira os protestos em Hong Kong, sobretudo a invasão do Parlamento. Após um mês de silêncio, a China pronunciou-se pela primeira vez sobre as manifestações, em comunicado do Governo e na imprensa oficial, que não as tinha noticiado.
Após protestos que duram há aproximadamente um mês e depois da invasão da Assembleia legislativa, na segunda-feira, o Governo chinês decidiu pronunciar-se pela primeira vez sobre o sucedido.
O Governo considera ainda "totalmente intolerável"
este tipo de ações, que encara como um "claro desafio à fórmula "Um
país, dois sistemas".
Num comunicado apresentado pelo porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, a China condenou veementemente as manifestações.
"Estes atos graves e ilegais anulam o Estado de Direito e minam a ordem social e os principais interesses de Hong Kong", lê-se no comunicado, publicado pela imprensa chinesa. "Estes agressores, violentos, na sua arrogância, desprezam a lei de Hong Kong, causando raiva e tristeza entre toda a população", acrescenta.
O comunicado e a publicação num jornal oficial do Partido Comunista Chinês a condenar os atos dos manifestantes poderão indicar que Pequim pretende adotar uma posição mais dura e intransigente, após semanas de silêncio.
A imprensa divulgou também imagens do ocorrido: slogans nas paredes, documentos espalhados pelo chão e alguns vidros partidos.
Os manifestantes penduraram também uma bandeira colonial, referente ao período que em Hong Kong estava sob a soberania britânica, numa alusão ao 22.º aniversário do retorno de Hong Kong à China.
Agora a China revelou oferecer apoio às autoridades de Hong Kong para investigar os responsáveis pelos atos cometidos. "O Governo central apoia firmemente a investigação das autoridades de Hong Kong para estabelecer uma responsabilidade criminal sobre os autores da violência".
Carrie Lam, a Chefe do Executivo do território, condenou também o sucedido, apelidando a invasão da Assembleia de "extremamente violenta", "desoladora e chocante". Disse também não serem verdade as críticas de que "o Governo não respondeu", e que este tinha dado uma "resposta muito positiva às exigências que ouvimos".
Protestos pelo futuro de Hong Kong
As manifestações foram motivadas por uma alteração legislativa que possibilitaria a extradição de réus para serem julgados na China continental, de acordo com as leis chinesas. Tal significaria que o código penal de Hong Kong deixaria de ser completamente autónomo.
Milhões de pessoas acreditaram tratar-se de uma tentativa de Pequim de reforçar o controlo sobre o território semiautónomo e colocar em causa a independência dos tribunais. O que deu lugar aos protestos do último mês, quebrando até o recorde de maior número de manifestantes: dois milhões.
Face à adesão crescente aos protestos, Carrie Lam suspendeu as negociações sobre a proposta, mas recusou revogá-la definitivamente, o que prolongou as manifestações.
Por outro lado, a lei de extradição invocou outras preocupações como a democracia, o futuro do território e a sua autonomia.
Joshua Wong, ativista do movimento pró-democracia, apela à importância dos protestos para definir o que acontecerá ao território depois de 2047, ano em que termina o acordo com a China, estabelecido em 1997. Foi através deste acordo que se estabeleceu a autonomia de Hong Kong, mas este tem a validade de 50 anos. E não define o que acontecerá posteriormente.
Porém, a China aparenta ter uma posição firme. "A única forma da região administrativa especial suster um crescimento económico e manter a estabilidade é integrar mais o seu próprio desenvolvimento no desenvolvimento total da nação".28. If there is just one takeaway for the world: Events in Hong Kong are about so much more than the bill, more than Lam, more even than democracy. They all matter of course. But in the end it is about the future of Hong Kong beyond 2047, a future that belongs to our generation.
— Joshua Wong 黃之鋒 (@joshuawongcf) 2 de julho de 2019
c/ Lusa