Governo considera esporádicas as recentes ações terroristas em Cabo Delgado

O Governo moçambicano classifica como esporádicas as recentes incursões terroristas na província de Cabo Delgado, no norte do país, quando se assinalam oito anos desde o primeiro ataque, com as forças de defesa a controlar as ofensivas.

Lusa /
RTP África (Arquivo)

"O Governo tem estado a continuar a assistir às comunidades, tem estado a garantir a presença dos homens da Defesa e Segurança e com as forças amigas que continuam em terra e a fazer o seu trabalho. E, como podem acompanhar, os movimentos dos terroristas têm estado a ser reduzidos ou controlados, de tal sorte que os ataques já são esporádicos e ocorrem vez e outra", disse o porta-voz do Conselho de Ministros, Inoêncio Impissa, após a reunião semanal do órgão, realizada na terça-feira em Maputo.

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques terroristas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito da Mocímboa da Praia.

Oito anos após o primeiro ataque, o Governo afirma que continua a fazer esforço para garantir a segurança às populações e bens para que estas comunidades vítimas permaneçam nos seus lugares de origem em paz.

"Continua uma preocupação grande porque nunca ninguém sabe, em particular as populações, que aldeia é que vai ser assaltada, em que aldeia é que um determinado terrorista está, é difícil, mas o governo espera e conta com a colaboração das populações, porque são elas que conhecem os seus concidadãos, os seus vizinhos, e quando verificam algum movimento estranho ou alguma entidade estranha, elas têm que reportar", disse o porta-voz do Governo moçambicano.

O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou em 06 de outubro, como "atos bárbaros" e contra a "dignidade humana" os ataques terroristas que se registam em Cabo Delgado, província do norte do país.

O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6.257 mortos ao fim de oito anos de ataques terroristas em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual, com o recrudescimento da violência.

"A situação é bastante instável. Em setembro, o Estado Islâmico de Moçambique (ISM) estava ativo em 11 distritos de Cabo Delgado e também cruzou para Nampula no final do mês", disse à Lusa Peter Bofin, investigador da ACLED, a propósito dos oito anos de insurgência armada na região.

Segundo Peter Bofin, investigador sénior desta organização que reúne e analisa dados sobre conflitos violentos e protestos em todo o mundo, desde outubro de 2017 foram registados em Cabo Delgado pelo menos "2.209 eventos de violência", com "6.257 mortes relatadas", sendo pelo menos 2.631 civis.

"Ao contrário de 2021, quando atacou Palma, o grupo agora opera em pequenas células muito móveis. Isso permite que eles atuem em grande parte da província, um padrão que sobrecarrega os recursos das forças de segurança, embora provavelmente haja menos de 400 combatentes do ISM", disse o investigador.

As agências das Nações Unidas relataram que quase 22 mil pessoas fugiram de três distritos de Cabo Delgado, incluindo Mocímboa da Praia, de 19 a 26 de setembro, devido ao recrudescimento dos ataques, que em oito anos já provocaram mais de um milhão de deslocados, segundo estimativas oficiais.

No final de julho, os ataques, incluindo a destruição de dezenas de igrejas católicas, provocaram mais de 57 mil deslocados no sul da província de Cabo Delgado, que fugiram para a sede do distrito de Chiúre.

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