Governo de Hong Kong diz que Jimmy Lai não foi condenado por razões políticas
O Governo de Hong Kong garantiu hoje que o antigo magnata da comunicação social pró-democracia Jimmy Lai Chee-ying não foi condenado por razões políticas e classificou como calúnias as críticas vindas do estrangeiro.
Na segunda-feira, a justiça da região chinesa considerou Jimmy Lai, de 78 anos, culpado dos crimes de "publicações sediciosas" e conluio com entidades estrangeiras, ao abrigo da lei de segurança nacional imposta por Pequim em 2020.
Num comunicado divulgado hoje, o executivo de Hong Kong defendeu que o Tribunal Superior de Hong Kong "deixou claro, nas razões da sentença, que Lai Chee-ying não estava a ser julgado pelas suas opiniões ou crenças políticas".
Na sentença, com 855 páginas, os três juízes, incluindo a lusodescendente Susana D`Almada Remedios, consideraram que o magnata de nacionalidade britânica fez "convites constantes" aos Estados Unidos para ajudar a derrubar as autoridades chinesas.
"A única intenção de Lai Chee-ying (...) era procurar a queda do Partido Comunista da China, mesmo que o custo final fosse o sacrifício dos interesses do povo" da China e de Hong Kong, referiu o Governo da região.
Na segunda-feira, a ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, Yvette Cooper, pediu a "libertação imediata" de Jimmy Lai, e condenou o que disse ser uma "acusação com motivações políticas".
Também a diplomacia da União Europeia (UE) criticou a condenação de Lai, dizendo que "tem motivação política e é emblemática da erosão da democracia e das liberdades fundamentais em Hong Kong".
Durante o julgamento, que começou em dezembro de 2023, Lai declarou-se inocente e afirmou nunca ter defendido o separatismo ou a resistência violenta. Também negou ter apelado a sanções ocidentais contra a China e Hong Kong.
"Os valores fundamentais do Apple Daily são, na verdade, os valores fundamentais do povo de Hong Kong (...) [incluindo] o Estado de direito, a liberdade, a busca da democracia, a liberdade de expressão, a liberdade de religião, a liberdade de reunião", argumentou Lai.
O crime de "publicações sediciosas" refere-se a 161 artigos, incluindo editoriais assinados por Lai no Apple Daily, jornal pró-democracia que fundou e atualmente está banido.
Também na segunda-feira, a coordenadora para a Ásia do Comité para a Proteção dos Jornalistas, Beh Lih Yi, disse que a condenação "sublinha o total desprezo de Hong Kong pela liberdade de imprensa".
Mas o Governo do território garantiu que, "na verdade, o caso de Lai Chee-ying não tem nada a ver com a liberdade de imprensa".
"Ao longo dos anos", o magnata usou "o jornalismo como pretexto para cometer atos que prejudicaram o nosso país e Hong Kong", acrescentou o executivo.
O tribunal marcou para 12 de janeiro uma audiência, com a duração máxima de quatro dias, onde a defesa de Lai poderá apresentar eventuais atenuantes, antes de a sentença ser conhecida.
Os três crimes de que Lai foi considerado culpado podem acarretar a pena de prisão perpétua.