Governo de Macau recusa comentar caso de jornalista impedida de assistir a julgamento

O secretário para a Administração e Justiça de Macau recusou hoje comentar o caso da jornalista impedida de acompanhar o novo julgamento do ex-procurador-adjunto Kong Chi por corrupção.

Lusa /

"Em concreto não sei de nada, só sei o que foi mencionado na reportagem", justificou Wong Sio Chak, numa conferência de imprensa do Conselho Executivo.

De acordo com o canal em língua portuguesa da televisão pública TDM, na segunda-feira, funcionários do Tribunal de Segunda Instância (TSI) impediram uma repórter do jornal `online` All About Macau de assistir ao julgamento.

Os funcionários disseram à TDM ter recebido "ordens superiores" para não permitir a entrada, nem como simples cidadã, de Ian Sio Tou, chefe de redação do All About Macau e presidente da Associação de Jornalistas de Macau.

Wong Sio Chak disse apenas que a decisão tinha sido tomada pelo Gabinete de Comunicação Social do Governo de Macau, que está sob a tutela direta do chefe do Executivo, Sam Hou Fai.

"Nada tenho a acrescentar", concluiu o também porta-voz do Conselho Executivo.

O ex-procurador-adjunto Kong Chi está a ser julgado de novo, após, em fevereiro, ter sido condenado a 21 anos de prisão por crimes de corrupção passiva para ato ilícito, abuso de poder, prevaricação e violação de segredo de justiça.

O All About Macau anunciou no final de outubro que vai encerrar devido a "pressões crescentes", falta de recursos e por processos judiciais contra três dos seus jornalistas.

A polícia deteve a 17 de abril duas jornalistas do All About Macau, quando tentavam entrar no salão do parlamento local para assistir à apresentação do programa político na área da Administração e Justiça para este ano.

A Polícia de Segurança Pública remeteu no mesmo dia o caso para o Ministério Público.

A Sociedade de Jornalistas e Profissionais da Comunicação Europeus na Ásia (JOCPA) manifestou "profunda preocupação com o silêncio das autoridades e das instituições internacionais --- incluindo Portugal e a União Europeia".

Lisboa e Bruxelas "têm a responsabilidade moral e histórica de defender o Estado de direito e os direitos fundamentais, incluindo a liberdade de imprensa e de expressão", defendeu o presidente da JOCPA, Josep Solano, citado num comunicado.

Macau passou em 1999 da administração portuguesa para a chinesa, sob um acordo que previa que a região deveria manter os direitos e liberdades fundamentais, durante os primeiros 50 anos.

"O encerramento do All About Macau é um golpe para a liberdade de imprensa e prejudica gravemente o direito do público à informação independente. É um indício da rápida deterioração do ambiente mediático em Macau", lamentou a coordenadora para a Ásia do Comité para a Proteção dos Jornalistas, Beh Lih Yi.

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