Governo sírio defende abate de avião turco

por Graça Andrade Ramos, RTP
Jihad Makdessi, porta-voz da diplomacia de Damasco, afirma que o caça turco foi abatido dentro do território soberano sírio Youssef Badawi/EPA

O porta voz do ministério sírio dos Negócios Estrangeiros, Jihad Makdessi, afirma que o avião militar turco abatido sexta-feira "estava em violação flagrante da soberania síria". E deixou um aviso à NATO, que amanhã analisa o incidente, de que o território da Síria é "sagrado".

"Se a reunião visa acalmar a situação, desejamos-lhes boa sorte", afirmou Makdessi, citado pela AFP. "Mas se o objetivo é uma agressão, dizemos-lhes que o território, o espaço aéreo e as águas sírias são sagradas para as forças armadas sírias", acrescentou Makdessi em conferência de imprensa transmitida pela TV estatal síria.

A Turquia é um dos países que integra a NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e pediu a reunião dos membros da aliança, ao abrigo do artigo 04 do Tratado, sob o qual tais consultas podem ser requeridas caso um dos seus membros se sinta ameaçado.

Os embaixadores da NATO reúnem em Bruxelas amanhã, para analisar o incidente e decidir qual a resposta a dar à Síria. Para os analistas, o pedido turco mostra que Ancara prefere uma resposta diplomática ao incidente e não uma resposta "musculada".
Abatido por fogo de anti-aéreas
A Síria defendeu esta segunda-feira as suas ações, afirmando que o aparelho foi abatido dentro do seu espaço aéreo.

"O avião militar turco violou o espaço aéreo sírio, as defesas aéreas sírias ripostaram e (o avião) despenhou-se em água sírias", explicou Makdessi, sublinhando que o aparelho voava a 100 metros de altitude dentro do espaço aéreo sírio.

O porta-voz da diplomacia de Damasco sublinhou que o caça foi abatido por artilharia anti-aérea e não por um míssil teleguiado e que a cauda do aparelho já foi entregue à Turquia, como comprovativo.

"As forças de defesa sírias usaram anti-aéreas com um alcance máximo de 1.2 quilómetros. Através da cauda podemos confirmar os estragos causados pelo fogo da artilharia. Não usamos o radar para esta ação", afirmou Makdessi.

"A Síria reagiu à violação. Tínhamos de reagir de imediato, mesmo que o avião fosse sírio, tínhamos de o abater", acrescentou o porta-voz da diplomacia de Damasco.
Voo de treino, sem armas
O caça turco, um F4 Phantom, foi abatido sexta-feira de manhã e caiu em águas do Mediterrâneo ao largo da costa síria.

A Turquia reconhece que o avião entrou por momentos no espaço sírio mas que se encontrava sobre águas internacionais a 13 milhas náuticas da Síria, quando caiu. Ancara acrescenta que o aparelho efetuava um voo de treino, sem armas.

Os dois pilotos estão desaparecidos, tendo sido encontradas as suas botas mas não os para-quedas, segundo afirmam jornais turcos. As buscas pelos pilotos prosseguem.

Ancara vai reunir esta tarde de novo para analisar que resposta dar ao incidente. UE pede resposta "contida"
A Turquia é vizinha da Síria e foi aliada do atual regime de Damasco até ao início da revolta contra o Presidente Bashar al-Assad, em março de 2011.

Desde então tem vindo a endurecer as críticas e apela à saída de Assad como forma de resolver a crise que se transformou em conflito armado entre as forças leais ao regime e os rebeldes, apoiados por outros países do Médio Oriente.

O abate do aparelho turco pode ser o rastilho para o alastrar da violência a toda a região.

Damasco sublinha que está comprometida com "relações de boa-vizinhança" com a Turquia. A União Europeia apelou a uma resposta "contida".
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