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Grécia propõe oferecer tesouros ao Museu Britânico para pressionar a devolução dos mármores do Partenon
A ministra grega da Cultura, Lina Mendoni, promete "preencher o vazio" das salas do Museu Britânico com tesouros helénicos caso as esculturas da Grécia Clássica sejam devolvidas a Atenas. George Osborne, presidente do museu londrino prefere falar numa possível "parceria adequada".
A Grécia avança com a proposta de organizar exposições rotativas de “antiguidades importantes” para “preencher o vazio” do Museu Britânico, caso os Mármores de Elgin sejam devolvidos.
A ministra grega da Cultura, Lina Mendoni deu uma ideia das possíveis formas que a Grécia consideraria compensar o Museu Britânico, caso as esculturas fossem “reunidas” em Atenas.
A pressão sobre os mármores helénicos aumenta com a campanha de Mendoni para recuperar as obras-primas do século V a.C..
“A nossa posição é clara”, disse a ministra ao jornal britânico The Guardian. “Se as esculturas forem reunidas em Atenas, a Grécia está preparada para organizar exposições rotativas de antiguidades importantes que preencheriam o vazio”.
Pela primeira vez, o Ministério da Cultura da Grécia demonstrou o quão longe Atenas está disposta a ir para compensar o Museu Britânico caso este disponibilize a coleção de esculturas clássicas. Acrescenta ainda que quaisquer antiguidades enviadas ao Reino Unido também seriam extraídas das coleções gregas.
Desta forma, Mendoni argumenta que a direção do museu londrino “preencheria o vazio, manteria e renovaria constantemente o interesse dos visitantes internacionais nas galerias gregas do Museu Britânico”. Alerta contudo que “qualquer convênio e todas as suas particularidades teriam de estar de acordo com a lei grega sobre o património cultural”.
Desde 2019, quando o partido de centro-direita Nova Democracia ganhou as eleições, o primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis defendeu a ideia de um um intercâmbio cultural com Londres.
“Uma parceria” pendente
George Osborne, presidente do Museu Britânico reconhecer publicamente a controvérsia da coleção dos mármores helénicos.
A história remonta a 1816 quando o museu londrino comprou os mármores a Lord Elgin, embaixador britânico para o Império Otomano, entretanto falido. Elgin teria removido os frisos do templo de Partenon e de outros lugares da Acrópole de Atenas com o uso de serras de mármore, alegadamente com a concordância dos otomanos.
Em outubro último, ao enfrentar a questão da devolução dos bens clássicos, Osborne tentou aliviar a pressão falando numa possível parceria.
“Queremos criar uma parceria adequada”, afirmou. “Significaria que objetos da Grécia que nunca tenham saído do território venham para cá, falo de bens que, certamente nunca foram vistos antes, e objetos da coleção do Partenon que poderiam viajar para a Grécia”.
Sunak abandonou uma reunião agendada com o seu homólogo grego, depois de o acusar de arrogância sobre a devolução das esculturas antigas.
Em declarações à BBC, Mitsotakis comparou os mármores à Mona Lisa de Leonardo Da Vinci, dizendo que "mantê-los na Grã-Bretanha era o mesmo que dividir o famoso retrato renascentista ao meio, mantendo parte em Londres e outra no Louvre em Paris".
Um porta-voz de Downing Street rejeitou a analogia de Mitsotakis e sublinhou os artefactos "foram adquiridos legalmente na época, e são propriedade legal do museu. Apoiamos essa posição e não há planos para alterar a lei que a rege".
Mendoni afirmou em várias ocasiões que a Grécia "não pode discutir o empréstimo de tesouros que considera que foram saqueados”, vincando ainda que “o Partenon é um monumento do Património Mundial, com elevada importância universal. Exige a sua integridade no local - onde as esculturas foram esculpidas - e para as razões que as criaram”.
A coleção do Museu Britânico incorpora quase metade do friso do Partenon, com 160 metros de comprimento, que representa a procissão até o templo do festival Panatenaico em homenagem à deusa guerreira Atena. A narrativa esculpida imprime uma ilusão de movimento à história contada.
Nas salas dedicadas à cultura grega clássica estão ainda 15 painéis esculpidos e 17 figuras de frontão que faziam parte da decoração do edifício.
Parte dos frisos que adornavam o templo do Partenon, com 2.500 anos, na Acrópole, estão expostos no museu londrino, há mais de 200 anos.
A maioria das esculturas restantes está num museu construído especificamente em Atenas.
As esculturas do Partenon não são os únicos artefactos que o Museu Britânico tem sido instado a devolver. A Pedra da Roseta e os Bronzes do Benin, são também alguns dos “objetos contestados” na coleção da instituição de Bloomsbury.