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Greta Thunberg, a jovem ativista que tem dividido opiniões

por RTP
Morris MacMatzen - Reuters

Greta Thunberg é o nome que tem corrido as bocas do mundo. A sueca de apenas 16 anos é já uma das maiores e mais influentes vozes defensoras do ambiente que tem mobilizado jovens de todos os países. No entanto, são também muitas, variadas e até imaginativas as críticas de que tem sido alvo nos últimos meses, desde ser uma marioneta nas mãos do empresário e filantropo húngaro-americano George Soros, a ser considerada a "Joacine Katar da Escandinávia".

A primeira vez que Greta Thunberg foi confrontada com as alterações climáticas, a jovem sueca tinha apenas oito anos. Foi durante uma aula em que o professor abordou o aquecimento global e explicou o papel do ser humano e dos seus comportamentos nesse âmbito.

“Achei muito estranho, porque se assim era, se havia algo tão colossal que ameaçava a nossa existência, então essa deveria ser a nossa prioridade. Não estaríamos a falar sobre qualquer outra coisa. Mas não era a nossa prioridade”, revelou Greta numa entrevista à CNN.

“Por isso, comecei a ler sobre o assunto, e quanto mais lia, mais percebia. Assim que compreendes completamente a crise climática, não podes ficar indiferente. Depois ficas amarrado. Tens de fazer alguma coisa”, afirmou a ativista que chegou a Lisboa na passada terça-feira, depois de uma viagem de 21 dias de veleiro desde os Estados Unidos.

Em agosto de 2018, aos 15 anos, a jovem sueca faltou às aulas e seguiu para a porta do Parlamento da Suécia em defesa do clima.

Nesse dia, Greta era uma voz solitária, carregando apenas um cartaz onde se lia, em sueco, “greve escolar pelo clima”. A partir daí, a adolescente começou a marcar presença às portas do Parlamento sueco todas as sextas-feiras. A jovem ativista exigia aos políticos ações concretas em defesa do ambiente, de modo a que Suécia continuasse alinhada com as recomendações do Acordo de Paris.

Mais tarde, a voz de Greta foi ganhando força e ecoou em todo o mundo. O desafio estava lançado e vários jovens, em diferentes cantos do mundo, juntaram-se a Greta na luta pelo clima e pelo planeta, dando início ao movimento “Fridays for Future”, que consiste numa iniciativa estudantil de greve às aulas às sextas-feiras.

Se há quem apoie e tome como exemplo a jovem sueca, há também quem argumente que nem tudo é bem o que parece e que Greta está a exagerar.
A linha de apoio aos "haters"
Desde que Greta marcou presença na Cimeira da Ação Climática nas Nações Unidas, com um discurso emotivo e destemido, a jovem ativista tem sido alvo de duras críticas.

"Como é que se atrevem? Vocês roubaram-me os sonhos e a infância com as vossas palavras vazias. As pessoas estão a sofrer, as pessoas estão a morrer, há ecossistemas inteiros a colapsar, estamos no início de uma extinção em massa e a única coisa de que falam é de dinheiro e contos de fadas de eterno crescimento económico", declarou Greta Thunberg durante a cimeira que decorreu em Nova Iorque, a 23 de setembro.

"Eu não devia estar aqui, eu devia estar na escola, do outro lado do oceano", continuou a argumentar a jovem ativista.

Talvez tenha sido esta audácia e desinibição de apontar diretamente o dedo, nomeadamente aos líderes mundiais, que tenha desencadeado esta onda de ódio contra o fenómeno Greta Thunberg.

Na sua página pessoal do Facebook, Greta Thunberg respondeu às críticas de que tem sido alvo.


“Como já devem ter percebido, os haters [fautores do ódio] estão mais ativos do que nunca – perseguindo-me pela minha aparência, roupas, o meu comportamento e as minhas diferenças”, escreveu a ativista.

“Honestamente, não percebo por que é que há adultos que escolhem passar o seu tempo a gozar e ameaçar crianças e adolescentes por promoverem a ciência, quando podiam fazer algo de bom. Eu acho que eles devem, simplesmente, sentir-se ameaçados por nós”, continuou a argumentar Greta.

O apresentador e comediante australiano, Mark Humphries, parece também não entender o motivo destas críticas e “criou” uma linha de apoio a “adultos irritados com uma criança”.

“Olá, sou um homem adulto com um problema embaraçoso. Fico irracionalmente zangado com uma miúda sueca que quer salvar o planeta. Felizmente, agora existe um número para o qual posso ligar”, começa por dizer o vídeo satírico que o apresentador australiano publicou na sua conta do Twitter.


“Está tudo bem, nós percebemos que crianças que agem como adultos podem fazer com que os adultos ajam como crianças”, ironiza o vídeo.

“Quando se trata de mudanças climáticas, todos sabemos que ela [Greta Thunberg] é o verdadeiro problema”, concluiu o vídeo.

Mas passando da ironia para a realidade, quais são exatamente as críticas de que a jovem ativista tem sido alvo nos últimos meses?
Uma “jovem feliz” e “desinformada”
Logo após o discurso de Greta nas Nações Unidas, Donald Trump voltou a causar polémica com um dos seus tweets.

“Parece uma jovem muito feliz com um brilhante e maravilhoso futuro pela frente. Que bom de se ver!”, escreveu o Presidente dos EUA, apesar de, no discurso, a jovem admitir estar “zangada e triste”.

Nesse mesmo dia, a pequena ativista, ao ironizar sobre as palavras de Trump, alterou a sua biografia no Twitter para “uma jovem muito feliz, ansiosa por um futuro brilhante e maravilhoso”.

Dias depois, na biografia, lia-se uma outra frase: “Uma adolescente amável, mas mal informada”.

Desta vez, as palavras não são do Presidente dos EUA, mas sim de Vladimir Putin. O Presidente da Rússia também não ficou indiferente ao discurso da jovem, apelidando Greta de “alarmista” e “mentalmente instável”.

“Posso desapontá-los, mas não partilho o entusiasmo geral em relação ao discurso de Greta Thunberg”, começou por dizer Putin, num evento em Moscovo, citado pela agência Reuters.

“Ninguém explicou à Greta que o mundo moderno é complexo e diferente e que as pessoas em África ou em muitos países asiáticos querem ter o mesmo nível de riqueza que a Suécia”, sublinhou o presidente russo.

Putin defende que as questões ambientais devem ser apoiadas, “mas quando alguém usa crianças e adolescentes a favor de interesses pessoais, apenas merece ser condenado”.

“Tenho a certeza que a Greta é uma rapariga gentil e muito sincera. Mas os adultos devem fazer tudo para não colocar adolescentes e crianças em situações extremas”, argumentou o presidente russo.
A polémica viagem de veleiro
Para a cimeira da ONU, que decorreu em Nova Iorque, a jovem sueca optou por fazer a viagem de veleiro. Greta recusou atravessar o Atlântico de avião para evitar as emissões poluentes. Mas terá sido esta viagem, de facto, ecológica?

Muitos têm argumentado que a viagem a bordo do barco Malizia II, que pertence ao filho da princesa Carolina do Mónaco, Pierre Casiraghi, não foi, realmente, tão amiga do ambiente como se pretendia, dado que, dois membros da tripulação tiveram de voar até Nova Iorque para levarem o barco de volta.

Em declarações à Euronews, os responsáveis pelo veleiro justificam que o recurso ao avião foi a única solução encontrada para que a equipa conseguisse participar no The Ocean Race, a maior regata à volta do mundo.

Nesta viagem de Greta a Lisboa, coloca-se outra questão: como é que a jovem ativista vai viajar para Madrid de forma ecológica? Especula-se que a jovem sueca tenha escolhido o comboio para se deslocar de Lisboa a Madrid, onde Greta vai participar na 25.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP 25). Para isso, Greta terá, no entanto, de fazer uma parte do percurso num comboio a gasóleo, dado que existe um troço onde a linha não está eletrificada.
Uma marioneta de Soros
Algumas das críticas dirigidas a Greta baseiam-se em informações falsas. Um dos rumores que tem circulado nas redes sociais consiste na acusação de que a jovem sueca tem ligações a George Soros, o empresário e filantropo húngaro-americano, considerado um dos maiores investidores do mundo.

Eduardo Bolsonaro, filho do presidente do Brasil, foi um dos responsáveis pela propagação deste rumor. “«Vocês roubaram a minha infância», disse a garota financiada pela Open Society de George Soros”, escreveu Eduardo Bolsonaro na sua conta do Twitter.

Uma imagem da jovem sueca ao lado de George Soros tem sido a prova para sustentar este argumento, mas trata-se de uma montagem, tal como apurou o Polígrafo. A verdadeira imagem foi publicada por Greta no Twitter, em dezembro de 2018, onde a jovem ativista está abraçada a Al Gore Jr., antigo vice-presidente dos EUA, e não George Soros.

Manipulada pelos pais
Para além de Soros, também se especula que Greta esteja a ser manipulada e explorada pelos pais.

A mãe de Greta, Malena Ernman, cantora de ópera, lançou um livro sobre a relação da família Thunberg com a temática das alterações climáticas, uma semana depois de a jovem sueca ter feito a primeira greve pelo clima. Por este motivo, Greta é acusada de ter sido usada como uma manobra de publicidade.

Ainda relacionado com o livro “Scenes From The Heart”, gerou-se uma nova onda de discussão em torno de uma frase: "Ela consegue ver o dióxido de carbono a olho nu. Ela vê como flui através das chaminés e se transforma em depósito de lixo na atmosfera".

A frase, retirada do contexto, foi mais um caminho que muitos seguiram para atacar Greta.

“Mas a Greta “vê” CO2. A sério, eu sinto pena pela pobre rapariga. A mãe está a usá-la para vender o seu livro sobre as alterações climáticas. Os pais dela deveriam ser acusados de abuso infantil”, escrevem no Twitter.

A jovem sueca respondeu, desta vez no Facebook, a estas críticas.


“Claro que as campanhas de ódio nunca descansam… Há pelo menos uma nova teoria da conspiração por dia. A última – e talvez a mais divertida – é que ‘eu posso ver o CO2 com os meus próprios olhos’. Isto é, evidentemente, uma metáfora retirada do seu contexto. Ninguém disse que consigo literalmente ver CO2…isso é mais do que estúpido. Isto nem devia ser preciso explicar”.

“Aproveito para ressalvar que quando eu digo que ‘a nossa civilização é quase como um castelo de areia’, ou que ‘a nossa casa está a arder’, também são metáforas”, conclui Greta num tom irónico.

Greta, no final da publicação, revela que os lucros do livro escrito pela sua família reverterão para instituições de caridade, respondendo às críticas que apontam que a jovem sueca terá sido usada como instrumento de publicidade.
“Ela é a Joacine Katar da Escandinávia”
Em Portugal, Greta também não está livre de críticas. Na passada terça-feira, no dia em que a adolescente chegou a Lisboa, Miguel Sousa Tavares disse estar “um bocadinho farto de Greta Thunberg”. “Acho que ela é a Joacine Katar da Escandinávia”, acrescentou o comentador.

Miguel Sousa Tavares considera que a jovem sueca é “importante para mobilizar os jovens que não são mobilizáveis para estas causas” e considera que, neste sentido, está a cumprir o seu papel.

No entanto, sublinha que a “parte decisiviva” seria “se ela conseguisse convencer o Trump e o Bolsonaro, por exemplo, a preocuparem-se com estas questões”.

Também têm surgido críticas vindas do CDS. Num tweet, o eurodeputado do CDS Nuno Melo, apelidou Greta de uma “adolescente chorosa” que tem navegado “mundo fora com estilo”.


João Almeida, candidato à liderança do CDS, também criticou o “circo montado à volta de Greta” nos últimos dias em Portugal, referindo-se aos muitos políticos que na passada terça-feira se juntaram a dezenas de ativistas portugueses para receberem Greta na Doca de Santo Amaro.

João Almeida sublinha que “é preciso fazer política a sério”.
“Doente mental”
Aos 11 anos, foi diagnosticado a Greta o síndrome de Asperger, uma perturbação do espetro do autismo que afeta as capacidades comunicativas e de relacionamento.

O estigma que existe relativamente às doenças mentais levantou uma onda de comentários de ódio contra a jovem sueca. Na rede social Twitter, são muitas as pessoas que descredibilizam Greta pelo síndrome de Asperger, chegando a apelidar a adolescente de “atrasada mental”.

Um dos comentários que gerou maior polémica proveio de um convidado do canal televisivo norte-americano Fox News, que chamou “criança sueca doente metal” a Greta Thunberg.

Pouco tempo depois, a Fox News avançou com um pedido de desculpas pelo comentário que considerou ser “vergonhoso”.

Greta responde a todos estes comentários afirmando que ser diferente é um “superpoder”. Num tweet, a jovem sueca diz que “quando os 'haters’ criticam os teus olhares e diferenças, significa que eles não têm para onde ir. E nessa altura tu sabes que estás a ganhar”.

“Eu tenho Asperger e isso significa que, por vezes, eu sou um pouco diferente da norma. E – dadas as circunstâncias – ser diferente é um superpoder”, concluiu a jovem defensora do ambiente.
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