Grupo Wagner. Mercenários russos retiram-se de África rumo à Ucrânia

O conhecido Grupo Wagner, apoiado pela Rússia, começou a retirar dezenas de mercenários da República Centro-Africana (RCA) e a enviá-los para a Europa Oriental, onde as forças russas estão a ameaçar a Ucrânia.

Inês Moreira Santos - RTP /
Stanislav Kozliuk - Reuters

O Grupo Wagner, que ganhou notoriedade internacional pela primeira vez na Ucrânia no auge da incursão de 2014, enviou mais de 1.100 russos para a RCA. No continente africano, os seus combatentes também estão envolvidos na Líbia, Sudão, Moçambique e Mali.

A notícia é avançada pelo Daily Beast, esta terça-feira, citando dois oficiais do exército da RCA que garantem que um número sem precedentes de mercenários russos, pertencentes ao Wagner, deixou o país rumo à Europa Oriental em janeiro. Segundo as mesmas fontes, mais soldados russos estão a preparar-se para partir de África, nas próximas semanas.

“Normalmente, quando ouvimos dizer que alguns foram embora, descobrimos que são apenas um punhado – às vezes cinco ou seis pessoas num mês”
, disse um oficial, que trabalha no quartel-general militar na capital da RCA, em Bangui. “É a primeira vez que ouvimos dizer que foram dezenas que partiram num mês”.

Ao jornal, também um homem que foi recentemente detido pelas forças do Grupo Wagner disse que ouviu militares do exército da RCA, no campo onde estava detido, a descrever um êxodo repentino de combatentes mercenários que iam diretamente para a Ucrânia.

A Rússia afirma ter cerca de 1.100 militares desarmados na RCA, como parte de um acordo que Moscovo assinou com Bangui em 2018. Todavia, outras fontes garantem que o Grupo Wagner tem quase três mil combatentes armados no país.
Mercenários russos: o “exército privado” de Putin
É a primeira vez, em mais de quatro anos, que os combatentes russos em África se retiram em grande número.

“Fomos especificamente informados pelos seus supervisores de que cerca de 20 russos partiram em janeiro deste ano para a Europa Oriental”, disse outro oficial da RCA, que trabalha em estreita colaboração com os russos, ao Daily Beast. “O que percebemos é que os russos que saíram, e aqueles que vão sair depois, estão a fazer isto como parte da sua política de rotação de atribuições e que serão substituídos no devido tempo”.

O Kremlin nega que o Grupo Wagner tenha ligações ao Governo russo, mas a verdade é que já foram enviadas forças especiais para várias zonas de combate, inclusive em África, de acordo com a própria política externa de Vladimir Putin. Há quem apelide estes combatentes de “exército privado” do presidente russo.

A retirada dos combatentes do Grupo Wagner ocorre, além do mais, na mesma altura em que as autoridades ucranianas acusaram a Rússia de estar a aumentar o fornecimento de armas, munições e equipamento militar às regiões separatistas da Ucrânia e de recrutar mercenários para combater no conflito que se está a agravar. Os serviços de inteligência de Kiev afirmaram mesmo, na semana passada, que Moscovo estava num processo de “recrutamento ativo de mercenários” e a enviá-los para as regiões controladas pelos separatistas.

Já em novembro, uma investigação da Bellingcat revelou que tinham sido enviados mais de 200 russos para a fronteira com a Bielorrússia, antes das eleições presidenciais de 2020, para desestabilizar o país. E, segundo a imprensa e a comunidade interncaional, se Putin pretendesse desestabilizar a Ucrânia, seria provável que voltasse a recorrer aos mercenários russos.

A organização foi fundada por Dmitry Utkin, antigo membro das Forças Especiais russas e atualmente está sob sanções dos EUA por ajudar separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia. Também a União Europeia, no mês passado, renovou as sanções, impostas em dezembro, a elementos ligados ao grupo privado paramilitar russo Wagner, que é acusado por países ocidentais, como França, Reino Unido e Alemanha, de realizar operações clandestinas desestabilizadoras ao serviço de Moscovo em países em conflito, como a Ucrânia ou em nações africanas.

Utkin já terá sido chefe de segurança de Yevgeny Prigozhin, um oligarca russo com laços estreitos ao Kremlin e que se tornou famoso como dono de um restaurante frequentado pelo presidente russo, sendo conhecido por “chef de Putin”. Suspeita-se também que Progozhin financie o Grupo Wagner, embora o mesmo o negue.

Sabe-se, no entanto, que a organização recrutou muitos militares da agência de inteligência militar russa conhecida como GRU.

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