Guaidó celebra divulgação do relatório da ONU e apela a mais protestos

por Lusa
Reuters

O autoproclamado Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, felicitou a divulgação do relatório da ONU, que denunciou mais de 5.000 mortes em operações de segurança, e apelou à particapação da marcha agendada para hoje.

"É uma conquista, é produto do sacrifício e trabalho de muitas ONG, vítimas, familiares, líderes e deputados que fizeram de tudo para tornar visíveis os abusos de um regime corrupto e assassino", declarou Guaidó.

Segundo um relatório da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, divulgado na quinta-feira, o Governo da Venezuela registou quase 5.300 mortes em operações de segurança, em 2018.

Para Guaidó, o relatório apresentado depois de Michelle Bachelet ter visitado a Venezuela, entre 19 e 21 de junho passado, e que se baseia em relatos de defensores de direitos das vítimas, testemunhas de violações e outras fontes, "reflete amplamente o sofrimento do povo" venezuelano.

"Valida claramente o que temos vindo a denunciar: o salário que não é suficiente para nada, os cortes de energia e a falta de água, gás e gasolina provocadas pelo usurpador incompetente e corrupto", afirmou, numa alusão ao Presidente eleito. "A perseguição, tortura e os assassínios desta ditadura sanguinária, tudo foi claramente registado" no relatório da ONU, acrescentou.

"Agora para derrotar a ditadura, precisamos de aumentar a pressão nacional", disse Guaidó, convocando os seus seguidores a saírem à rua hoje, dia em que se assinala o aniversária da Ata da Declaração da Independência de Venezuela.

Perante os dados expostos no relatório, Michelle Bachelet pediu ao Governo do Presidente eleito, Nicolas Maduro, para dissolver as suas forças especiais de segurança, a quem se imputa a responsabilidade por estas execuções.

A Alta comissária pede ainda para que seja criada uma comissão, imparcial e independente, com o apoio da comunidade internacional, para "fazer um inquérito às execuções realizadas pelas forças de segurança".

Michelle Bachelet diz no seu relatório que, nos últimos dez anos, e especialmente desde 2016, o regime de Maduro executou uma estratégia para "neutralizar, reprimir e incriminar adversários políticos críticos do Governo".

Segundo o relatório, grupos civis armados, os denominados "coletivos", contribuíram para a deterioração da situação social na Venezuela, exercendo um forte controlo e colocando-se ao lado de Nicolas Maduro na supressão de manifestações.

O relatório da ONU menciona ainda 66 mortes durante manifestações, entre janeiro e maio, e a detenção arbitrária de 793 pessoas, incluindo 22 deputados, em igual período.

A Venezuela atravessa uma grave crise política, agravada pela dissidência entre o Presidente eleito, Nicolas Maduro, e o autoproclamado Presidente interino e líder da oposição, Juan Guaidó, a quem mais de 50 países reconhecem legitimidade.

A Venezuela também atravessa uma grave crise económica e social, agravada por sanções impostas pelos Estados Unidos, que têm deixado uma parte importante da população com escassez de alimentos e medicamentos.

Segundo números da ONU, mais de cinco milhões de venezuelanos já cruzaram as fronteiras, nos últimos anos, na esperança de melhores condições de vida.

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