Mundo
Guerra civil do Sudão. Refugiados em fuga ultrapassam a barreira dos quatro milhões
São já mais de quatro milhões as pessoas que cruzaram as fronteiras para fugir à guerra civil no Sudão, desencadeada em 2023, alertou esta terça-feira a Organização das Nações Unidas. Segundo a Agência de Refugiados da ONU, este número representa atualmente "um marco devastador na crise de deslocados de guerra mais nefasta do mundo".
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em conferência de imprensa realizada pelo porta-voz da agência em Genebra, reportou que o número de refugiados sudaneses em fuga do conflito ultrapassou a marca de quatro milhões esta segunda-feira.
Agora que o conflito entra no terceiro ano, "os quatro milhões de pessoas são um marco devastador no que é a crise de deslocamento mais nefasta do mundo neste momento”, sublinhou Eugene Byon.
"Se o conflito persistir no Sudão, estimamos que milhares de pessoas continuem a fugir, colocando em perigo a estabilidade regional e global", acrescentou.
"O pior desastre humanitário do mundo"
Estes quatro millões de pessoas em fuga do território sudanês compõem o crescente fluxo de refugiados para os países vizinhos, como Chade, Sudão do Sul, Egito, Eritreia, Etiópia, República Centro-Africana e Líbia, que por sua vez também sofrem de crises económicas e recursos limitados.
Palo menos 800 mil dos refugiados que chegaram ao Chade enfrentam condições de abrigo difíceis devido à escassez de financiamento, com apenas 14 por cento dos pedidos de ajuda atendidos, explicou Dosou Patrice Ahouansou, também da ACNUR.
"Esta é uma crise sem precedentes aquilo que enfrentamos. É uma crise da humanidade. Face aos relatos do refugiados, é também uma crise de proteção", sublinhou Ahouansou.
Entre os muitos relatos que os representantes da ACNUR reportam está a história de uma menina de sete anos no Chade que ficou ferida durante um ataque em casa no campo de deslocados de Zamzam, no Sudão. Nesta agressão morreram o pai e dois irmãos e a menina teve uma das suas pernas amputadas durante a fuga. A mãe já tinha sido morta num ataque anterior, relatou Ahouansou.
Para além destes quatro milhões, somam-se outros nove milhões de cidadãos deslocados dentro das fronteiras do país para escapar da violência, refletindo o agravamento da tragédia humanitária em curso no Sudão.
Neste contexto e durante a participação numa conferência sobre políticas e desenvolvimento em África, realizada em Marrocos, o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, David Lamy, alertou que o Sudão está a viver "o pior desastre humanitário do mundo".