Guerra cultural contra a Europa. Relatório acusa Trump de tentar moldar futuro político europeu

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está a tentar interferir diretamente na política europeia ao promover agressivamente os aliados da direita populista no continente europeu, de acordo com um estudo do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) em parceria com a Fundação Cultural Europeia. O relatório destaca Portugal, apontando que o líder do Chega, André Ventura, "imita o estilo combativo" de Trump na luta contra a imigração ou a "ideologia de género".

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
Na guerra cultural de Trump, a própria Europa é o alvo", afirma o autor do estudo, Pawel Zerka. Reuters

A Administração Trump está a utilizar a sua influência para apoiar os partidos e líderes populistas de direita no continente europeu, com o fim de mudar o "centro de gravidade ideológico" da política europeia para valores conservadores, alinhados ao seu movimento MAGA (Make America Great Again).

A conclusão é de um relatório conjunto do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) e da Fundação Cultural Europeia, publicado esta terça-feira. 

Segundo o relatório o discurso de JD Vance, na Conferência de Segurança de Munique em fevereiro de 2025, marca o momento em que a guerra cultural contra a Europa foi declarada abertamente, quando o vice-presidente americano afirmou que "a Europa estava a afastar-se dos valores fundamentais partilhados". "Na guerra cultural de Trump, a própria Europa é o alvo", afirma Pawel Zerka, investigador do ECFR.

No seu discurso JD Vance revelou a intenção dos EUA interferirem nas eleições europeias, enquadrar as relações entre EUA e UE como uma "divisão de valores" e tornar a liberdade de expressão o grito de guerra dos partidos que defendem a causa Maga na Europa, explica Pawel Zerka, ao jornal britânico The Guardian

O responsável pela investigação, Pawel Zerka, acrescenta que Donald Trump "revelou ainda mais as suas intenções a este respeito, excluindo os líderes da UE das negociações sobre o futuro da Ucrânia, atacando os principais partidos políticos em todo o continente e extorquindo as instituições de Bruxelas nas negociações comerciais". 
A União Europeia deve reagir com firmeza 

O relatório sugere que as divisões no seio da UE, as hesitações e a abordagem de alguns líderes europeus de "apaziguar" ou "distrair" Donald Trump apenas reforçaram a sua posição de influência.

Com base em estudos e sondagens dos 27 Estados-Membros da UE, que revelam que um número suficiente dos países tem governos pró-europeus, e que a opinião pública europeia é forte o suficiente, o relatório argumenta que a UE precisa de assumir que está a ser alvo de uma guerra cultural, rejeitar a bajulação como estratégia em relação a Trump e reagir com firmeza, com instrumentos próprios como a Lei dos Serviços Digitais e ferramentas comericias.Apesar da pressão de Washington, as sondagens mostram um forte sentimento pró-Europa entre os cidadãos.

Segundo o relatório, os líderes europeus gastam demasiado tempo a reagir a crises externas e internas criadas pelo próprio presidente dos EUA e os seus aliados europeus, entre eles Viktor Orbán, Robert Fico, Giorgia Meloni - que vão desde ameaças de tarifas até aos gastos com segurança e os receios relacionados com a imigração.

Os dados do Eurobarómetro revelam que a confiança dos cidadãos da UE está no nível mais alto desde 2007 e aumentou em 12 países, principalmente em Portugal, França, Suécia e Dinamarca, desde que Trump regressou à Casa Branca. Aliás poucos partidos defendem a saída da União, pelo contrário, a maioria defende que a UE deveria ter um papel mais forte na proteção contra crises globais e riscos de segurança. 
"Portugal desempenha o papel de tentador"

Segundo o relatório, Portugal desempenha o papel de "tentador" na guerra cultural da Europa com a América de Trump, porque apesar da sua pertença à Europa normaliza a narrativa trumpista para evitar confrontos com Washington. "O governo de centro-direita do primeiro-ministro Luís Montenegro continua claramente pró-europeu. Mas a forte tradição atlantista de Portugal também molda suas escolhas", afirma. 

"Lisboa equilibra o seu compromisso com a Europa com cautela em relação a Trump", de acordo com a análise
Apesar da indignação da corrente dominante com o desrepeito de Trump pelas normas transatlânticas, poucos países desejam provocar Washigton. É o caso de Portugal, com a "aceitação das tarifas dos EUA e do acordo de 5% para as despesas com a defesa, mesmo quando os líderes consideram que estas não são as ideais". 
Ventura imita o estilo combativo de Trump

O estudo também destaca a influência política e ideológica do movimento MAGA em Portugal veículado pelo líder do partido populista de direita Chega, André Ventura, que reproduz a retórica de Donald Trump nomeadamente na luta contra a imigração "onde encontra terreno fértil", apontando que 68% dos portugueses afirmaram recentemente que a política migratória era demasiado permissiva. 

"O seu líder, André Ventura, admira abertamente Trump. Ele assistiu à sua tomada de posse e imita o seu estilo combativo", pode ler-se no relatório, argumentando que "Ventura criticou veementemente a imigração, a "ideologia de género" e a "classe política parasitária", num comício dos Patriots for Europe em Madrid. 

No entanto, ressalva que o líder do Chega também "criticou a posição de Trump sobre Gaza e o seu cepticismo em relação à UE e à NATO". 

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