"Guerra infinita". Quanto o contribuinte americano vai pagar pela invasão do Afeganistão

A guerra do Afeganistão foi a mais longa da História dos Estados Unidos, e também aquela que terminou de forma mais rápida e mais inesperada. A fatura fica agora por pagar, vai sair muito cara e não estará saldada antes de 2050.

RTP /
Mary Calvert, Reuters

A Universidade de Harvard e a Universidade de Brown lançaram um projecto sobre os custos da guerra que apresenta conclusões devastadoras, resumidas pela agência noticiosa AP, sobre o tempo que a conta demorará a ser paga, sobre o montante que vai atingir e sobre os principais sacrificados, que serão, em muito maior medida do que nas guerras da Coreia e do Vietname, os contribuintes mais pobres.

A parte dos custos das duas guerras simultâneas, no Afeganistão e no Iraque, que até 2020 os EUA financiaram mediante emissão de dívida calcula-se em 2 biliões de dólares. Essa dívida continuará a ser paga nas próximas décadas e, em 2050, já terá consumido, em juros e amortizações, 6,5 biliões. O ano em que esses juros e amortizações atingirão o seu ponto culminante será 2048.

Além do seu custo exorbitante, a dívida de guerra dos EUA está distribuída de forma muito mais iníqua do que dívidas anteriores. Assim, para financiar a guerra da Coreia, o presidente Harry Truman quase duplicou, temporariamente, as taxas fiscais mais elevadas (aumentou-as em 92%). Para financiar a guerra do Vietname, o presidente Lyndon Johnson aumentou temporariamente em 77% as taxas fiscais para os contribuintes mais ricos. Pelo contrário, o presidente George W. Bush, não só não aumentou, como até cortou em 8% os impostos dos contribuintes mais ricos.

E, tal como o conteúdo da política fiscal de guerra foi muito mais impopular sob Bush do que sob os seus antecessores, também o processo de decisão sobre essa política se realizou praticamente sem qualquer controlo democrático formal.

Embora tenha sido o Congresso a conceder formalmente uma carta branca ao executivo para retaliar contra os mentores do 11 de setembro de 2001, logo uma semana depois dos atentados, o certo é que o Congresso não foi chamado a pronunciar-se sobre a declaração de guerra ao Afeganistão e, até 2021, apenas se pronunciou cinco vezes sobre os custos das duas guerras simultâneas. 

Em contraste, a guerra do Vietname, que para os EUA durou menos de metade do tempo, teve os seus custos examinados pelo Congresso 42 vezes.


PUB