Guiné-Bissau. Candidatura de Embaló acusa ex-PR de Moçambique de atentar contra paz no país

A candidatura do Presidente deposto da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, acusou hoje o antigo Presidente de Moçambique Filipe Nyusi de atentar contra a paz social com afirmações sobre o processo eleitoral no país.

Lusa /

Numa conferência de imprensa, em Bissau, transmitida nas redes sociais, o representante da candidatura de Embaló, José Paulo Semedo, insurgiu-se contra declarações que têm sido feitas sobre o processo eleitoral, sobretudo as proferidas pelo antigo Presidente de Moçambique, que chefiou a missão de observadores internacionais da União Africana (UA).

"Na Guiné-Bissau as eleições correram bem e existe vencedor. Ou, se eu quiser ser mais modesto, existem resultados. E esses resultados devem ser publicados", disse Nyusi, ex-Presidente moçambicano (2015-2025), que esteve a liderar, no terreno, a missão de observação da UA, citado pela Rádio Moçambique.

Com o objetivo de "esclarecer a opinião pública nacional e internacional", a candidatura de Embaló afirmou ser "com muita consternação" que tomou conhecimento "da infeliz declaração que afirmava que a CNE [Comissão Nacional de Eleições] tinha na sua posse os resultados e que deveria tornar esses resultados públicos".

"As declarações foram infelizes e perigosas por, apesar de o seu autor se encontrar em Bissau, este estava completamente alheio aos factos do dia 26 de novembro, assim sendo, não pode testemunhar do que não viu", declarou Semedo.

Segundo a candidatura de Embaló, os observadores não testemunharam os atos denunciados pela CNE de vandalização e confisco das atas eleitorais e outros equipamentos, pelo que, considerou, Nyusi "não se encontrava em condições mínimas para contrariar declarações da CNE".

Para a candidatura de Umaro Sissoco Embaló, "a declaração de Nyusi constituiu, de forma inequívoca, um atentando à soberania nacional, uma forma de ingerência nos assuntos internos da Guiné-Bissau".

O representante da candidatura referiu-se ainda ao antigo Presidente da Nigéria Goodluck Jonathan e ao primeiro-ministro do Senegal, Ousmane Sonjo, que classificaram o golpe na Guiné-Bissau como uma encenação atribuída a Embaló, que se refugiou inicialmente na capital senegalesa, de onde viajou depois para o Congo.

"As declarações dos três constituem um atento à paz social, um perigo à nossa nação, na medida em que estas declarações criam expectativas infundadas, (...) que podem servir de ânimo para um conflito social que pode perder o controlo, por isso, repudiamos esta atitude", disse.

José Paulo Semedo afirmou que, para a candidatura, "dúvidas não restam" que o candidato Umaro Sissoco Embaló "foi o vencedor das eleições, de acordo com as atas" a que dizem ter tido acesso.

O candidato da oposição, Fernando Dias, no dia seguinte às eleições, declarou a sua vitória na primeira volta.

No dia 26 de novembro, véspera do dia em que a CNE deveria anunciar os resultados das eleições, ouviram-se tiros em Bissau e a seguir um Alto Comando Militar anunciou que tinha tomado o poder, deposto o Presidente da República e suspendido o processo eleitoral.

Os militares nomearam o general Horta Inta-A Presidente de transição e este nomeou como primeiro-ministro e ministro das Finanças Ilídio Vieira Té, antigo ministro de Embaló.

No sábado, foi empossado um novo Governo de transição com nomes do executivo deposto e cinco militares entre os 23 ministros e cinco secretários de Estado.

Hoje, os militares anunciaram a criação de um Conselho Nacional de Transição, com competências de fiscalização dos restantes órgãos que a Constituição conferia ao parlamento.

No golpe, o líder do PAIGC, Simões Pereira, foi detido e a tomada de poder pelos militares está a ser denunciada pela oposição como uma manobra para impedir a divulgação dos resultados eleitorais.

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