Guiné-Bissau. Extremismo e discursos de ódio põem em causa coesão nacional

por Lusa
A Liga Guineense dos Direitos Humanos alerta para o extremismo e discursos de ódio que põem em causa coesão nacional Reuters

A Guiné-Bissau tem assistido a formas de extremismo, com discursos de ódio, que podem pôr em causa a coesão nacional, alertou, o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Augusto Mário Silva.

"Há manifestação de alguma forma de extremismo na Guiné-Bissau. Temos assistido a discursos de ódio a vários níveis, tanto ao nível da classe política, como ao nível da própria sociedade", afirmou o ativista em entrevista à agência Lusa.

Segundo o também jurista guineense, estão a ouvir-se declarações "muito preocupantes de radicalismo, extremismo e disseminação de ódio" nas redes sociais.

"É preciso de facto fazer alguma coisa para estancar esta prática que tem estado a pôr em causa a coesão nacional", alertou o defensor dos direitos humanos.

Segundo Augusto Mário Silva, quando se refere extremismo e o radicalismo está a falar-se de situações de "disseminação de discurso de ódio, tanto na relação entre os cidadãos, como na classe política, e na relação de pessoas de confissões religiosas diferentes".

"Temos assistido a essas manifestações, que supomos estejam ainda numa fase embrionária e se nós conseguirmos intervir preventivamente podemos mitigar os efeitos para que não cheguemos a uma fase violenta", salientou.

No âmbito do combate ao extremismo violento, a Liga Guineense dos Direitos Humanos e o Instituto Marquês de Valle Flor estão a implementar o projeto Observatório de Paz, financiado pela União Europeia, que inclui a abertura de escritórios nas principais regiões do país para monitorizar aquelas situações e preveni-las.

"Esse é o objetivo do Observatório de Paz, que é contribuir para a consolidação da paz, reforçar a parceria entre as organizações da sociedade civil e as instituições estatais, no sentido de construir uma sociedade coesa, unida, sem discursos de ódio, e capaz de promover um desenvolvimento sustentável com a participação de todas as esferas da sociedade", afirmou Augusto Mário Silva.

Questionado pela Lusa sobre se o analfabetismo não contribui para que os jovens sejam manipulados por aqueles tipos de discurso, o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos referiu que não só o analfabetismo, mas também a pobreza extrema "favorecem a manipulação da juventude".

Augusto Mário Silva explicou que a Liga Guineense dos Direitos Humanos acompanhou o caso da detenção de um cidadão da Guiné-Conacri no Senegal, na região de Kolda, junto à fronteira da Guiné-Bissau, que "supostamente estaria a recrutar a juventude local para ações de extremismo violento".

"Quando isso acontece muito perto das nossas fronteiras é preciso termos em atenção o que se passa, porque é muito fácil, com a porosidade das nossas fronteiras, o nível de pobreza a que aqui assistimos e a elevada taxa de analfabetismo recrutar jovens guineenses para esse efeito", advertiu.

Para Augusto Mário Silva, é "preciso que a sociedade comece a trabalhar no sentido de prevenir todas as formas de extremismo e radicalismo violento".

 

Tópicos
pub