Guiné-Bissau. Sociedade está severamente dividida, mas há um divórcio com a classe política

Bissau, 05 mar 2020 (Lusa) - O sociólogo guineense Diamantino Domingos Lopes afirmou hoje que a sociedade da Guiné-Bissau está "severamente dividida" em relação aos últimos acontecimentos do país, mas que também há um divórcio com a classe política.

Lusa /

"Temos uma sociedade severamente dividida. Uma parte está plenamente de acordo com o que está a acontecer, a outra parte está resignada, porque também há um divórcio entre a sociedade e a classe política", afirmou à Lusa o também jornalista guineense.

Para Diamantino Domingos Lopes, enquanto "não se ouvirem armas a soarem, ninguém vai estar preocupado com o que se está a passar no país".

"A preocupação da sociedade neste momento é para que não haja nenhum tiro, para que ninguém seja assassinado, neste caso a população civil. Entre os políticos podem matar-se, isso não preocupa a sociedade, porque há um divórcio e a sociedade não acredita na classe política", disse.

Segundo Diamantino Domingos Lopes, para os guineenses não faz sentido levar constantemente um "grupo de pessoas ao poder que não resolvem os problemas sociais".

"O país está abandonado à sua sorte, só quem não conhece a Guiné-Bissau é que podem pensar que se vive de outra forma aqui. Este país, esta sociedade, consegue sobreviver porque nos alimentamos da solidariedade mecânica. É um fator sociocultural muito determinante para a afirmação da sociedade guineense, tipo, um por todos e todos por um", explicou.

É por essa razão, continuou, que na Guiné-Bissau não há sem-abrigo ou pessoas a viverem nas ruas.

"As pessoas não passam fome, mas isso não significa que todos têm, nós partilhamos. A função pública guineense tem menos de 4% da população e o resto da população vive das remessas enviadas pela diáspora e da agricultura de subsistência", sublinhou.

A Guiné-Bissau vive mais um momento de tensão política, depois de Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor das eleições presidenciais do país pela Comissão Nacional de Eleições, ter tomado posse há uma semana como Presidente do país, quando ainda decorre um recurso de contencioso eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça, apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira, que alega graves irregularidades no processo.

Na sequência da tomada de posse, Umaro Sissoco Embaló demitiu Aristides Gomes, que lidera o Governo que saiu das legislativas e que tem a maioria no parlamento do país, e nomeou Nuno Nabian para o cargo.

Após estas decisões, os militares guineenses ocuparam e encerraram as instituições do Estado guineense, impedindo Aristides Gomes e o seu Governo de continuar em funções.

O presidente da Assembleia Nacional Popular, Ciprinao Cassamá, que tinha tomado posse na sexta-feira como Presidente interino, com base no artigo da Constituição que prevê que a segunda figura do Estado tome posse em caso de vacatura na chefia do Estado, renunciou no domingo ao cargo por razões de segurança, referindo que recebeu ameaças de morte.

Umaro Sissoco Embaló afirmou que não há nenhum golpe de Estado em curso no país e que não foi imposta nenhuma restrição aos direitos e liberdades dos cidadãos.

Mediadora da crise guineense, a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) voltou a ameaçar impor sanções a quem atente contra a ordem constitucional estabelecida na Guiné-Bissau e acusou os militares de se imiscuírem nos assuntos políticos.

As Nações Unidas, a União Europeia e a Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) apelaram ao diálogo e à resolução da crise política com base no cumprimento das leis e da Constituição do país.

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