Guineense Jeremias Mango desiste da Europa por amor à família

O guineense Jeremias Mango desistiu de entrar na Europa clandestinamente a pedido da família, mas continua a não ter medo de morrer no mar, que continua a simbolizar a oportunidade de conseguir uma vida melhor.

© 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. /

A imigração ilegal, mas também a legal e as remessas dos emigrantes serão temas em debate na primeira Reunião Ministerial EuroMed sobre Migrações, que decorre no domingo e na segunda-feira em Albufeira, no Algarve, no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia.

Como Jeremias Mango, milhares de africanos tentam diariamente "dar o salto" para longe das dificuldades com que esbarram nos seus países, onde não há emprego, nem oportunidades para os mais jovens.

Repatriado em Junho de Puerto Ventura, em Espanha, tinha dito à Agência Lusa que voltaria a tentar imigrar ilegalmente pelo mar em Outubro ou Novembro, mas desistiu a pedido de quem mais gosta.

"Fui aconselhado pelos meus familiares, pessoas que representam muito para mim. Disseram-me que é muito arriscado fazer-me ao mar com o objectivo de ir para a Europa", afirmou à Lusa.

"Avisaram-me que se eu voltar a tentar uma coisa dessas posso passar mal, por isso não fui", desabafou resignado, sublinhando que não é o único jovem em situação de desespero.

"Eles acreditam e eu também acredito que se for vontade de Deus hei-de chegar à Europa, de uma forma legal, mas se não for vontade de Deus nunca irei", afirma Jeremias Mango, conformado com o destino.

A resignação do jovem Jeremias continua, contudo, a dar lugar à esperança, a única coisa que resta a quem nada tem.

"Quero ir de forma legal. Não é que tenha medo de morrer no mar, mas penso que devo dar ouvidos aos meus familiares", disse.

"Fui convocado para uma grande reunião familiar e o meu primo (alguém importante em Dacar, Senegal) chamou-me para me aconselhar a não entrar na loucura de tentar ir para a Europa numa canoa", contou.

Milhares de africanos morrem anualmente no mar na tentativa de chegar à costa espanhola e os que conseguem alcançar o "El Dorado" europeu são muitas vezes detectados pelas autoridades espanholas e repatriados.

Para Jeremias Mango o próximo passo é tentar arranjar um emprego em Bissau, em Dacar ou na Mauritânia, país de onde partiu para a sua primeira e única aventura no mar.

"Posso trabalhar na pesca, na agricultura, nos serviços ou na construção civil", afirmou, sublinhando que não escolhe o tipo de trabalho. Apenas quer trabalhar.

Questionado sobre a nova política do governo de Espanha, que passa pela abertura de três centros de formação na Guiné-Bissau para jovens guineenses, Jeremias Mango mostrou estupefacção e desconhecimento.

"Isso é que era bom. Se for verdade serei dos primeiros a entrar na escola e a candidatar-me a uma vaga de trabalho em Espanha", disse.

Apesar dos esforços europeus para diminuir a imigração ilegal e combatê-la, as medidas políticas tomadas e oportunidades oferecidas são desconhecidas pela maior parte dos guineenses, que não compreendem, por exemplo, porquê tanta demora na atribuição de vistos.

"Sabe, os jovens aventuram-se nas águas porque a vida não está fácil para nós. Mas também porque um jovem tenta pedir um visto de entrada na Europa nas embaixadas de Portugal ou França, aqui em Bissau, paga muito dinheiro e depois não recebe visto", afirmou.

O mais difícil é explicar porque são necessários tantos requisitos e que na Europa a vida não é assim tão fácil, muito mais quando se trata de pessoas que ali chegam sem nada.

"Sei que há jovens que ainda continuam a tentar, através dos mares, ir para a Europa. Eu não penso ir, mas se encontrar quem o queira fazer vou desejar-lhe boa sorte e muita coragem", concluiu Jeremias Mango.

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