Guineenses em Portugal exigem conclusão do processo eleitoral

Estudantes e trabalhadores guineenses em Portugal manifestaram-se hoje em Lisboa para denunciar o golpe militar ocorrido em 26 de novembro e exigir a conclusão do processo eleitoral, afirmando que "não há democracia" na Guiné-Bissau.

Lusa /

"Estamos aqui para denunciar a situação dos líderes políticos que se encontram presos por causa do golpe de Estado inventado pelo Presidente, Umaro Sissoco Embaló. Foi ele quem criou essa narrativa, envolvendo os militares, que estiveram ao seu lado durante todo o mandato. Agora, esses militares estão no poder", disse à agência Lusa a manifestante Jurema Moura Carvalho.

A participante na manifestação organizada pela associação cívica Firkidja di Pubis e pela Juventude Africana Amílcar Cabral (JAAC) afirmou que "muitos cidadãos guineenses encontram-se presos injustamente".

Jurema Carvalho denunciou as deteções dos políticos Domingos Simões Pereira, Siga Batista, Marciano Indi e Octávio Lopes.

"Estamos a pedir à CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] para intervir nesta situação, porque é urgente. É urgente ter a intervenção dos Estados parceiros, como o CPLP e outros", salientou.

De acordo com a manifestante, a realidade na Guiné-Bissau "é de terror": as pessoas vivem com medo, assegura.

"Estão aterrorizados. Estão com medo. Ninguém consegue dormir. Ninguém consegue sair [de casa]. Não tem liberdade de expressão. Não tem liberdade. As pessoas estão a ser coagidas. A situação lá está muito mal", lamentou.

À Lusa, outro manifestante realçou que o que está em causa é "um golpe fabricado".

"O próprio Presidente deposto Umaro Sissoco Embalo é quem está por trás deste processo. Se formos ver os membros do atual governo são todos da ala do Umaro Sissoco Embalo, o primeiro-ministro [Ilídio Vieira Té] foi o seu diretor da campanha e é uma das pessoas da sua confiança", criticou Gerson Valentão.

O jovem que vive em Portugal há cerca de sete anos sublinhou que os guineenses não se podem "calar perante estas atrocidades".

"A democracia e a liberdade não são dadas, conquistam-se - e é nas ruas que se consolidam. É por isso que estamos aqui hoje: para denunciar este falso golpe, o chamado `Sissoquismo`", sustentou.

Também Mamadú Djuldé Djaló, da organização, lembrou que a vontade do povo da Guiné-Bissau foi "sabotada por um falso golpe que impediu a conclusão do processo eleitoral".

O representante da Firkidja di Pubis disse acompanhar de perto a situação no país, assegurando que quem assumiu o poder "representa a continuidade do `Regime Sissoquista`, um regime ditatorial".

"Sissoco [Embalo] abandonou o país, mas o seu `entourage` [círculo próximo] é quem está agora no poder. Na verdade, continuamos com o `Sissoquismo` na Guiné-Bissau, e isso é preocupante", vincou.

O protesto, com cerca de 50 pessoas, decorreu no Largo de São Domingos, junto ao Rossio.

A manifestação em Lisboa está integrada uma mobilização internacional contra o golpe na Guiné-Bissau, com protestos hoje no Porto, Paris, Londres e Ceará (Brasil), e continuidade no domingo em São Paulo, também no Brasil.

Um grupo de militares tomou o poder na Guiné-Bissau, destituiu Umaro Sissoco Embaló, suspendeu os resultados das eleições de 23 de novembro e empossou o general Horta Inta-A como presidente de transição por um ano.

Horta Inta-A nomeou Ilídio Vieira Té, antigo ministro de Embaló, como primeiro-ministro e ministro das Finanças.

As eleições decorreram sem incidentes, mas sem participação do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e do candidato Domingos Simões Pereira.

Simões Pereira foi detido, e a oposição denuncia o golpe como manobra para ocultar resultados eleitorais. A comunidade internacional condenou a ação e a Guiné-Bissau foi suspensa da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Africana (UA) até que a ordem constitucional seja restabelecida.

JML // MAG

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