Guineenses protestam contra golpe militar junto a Downing Street
Dezenas de guineenses manifestaram-se hoje em Londres junto à residência oficial do primeiro-minstro britânico, Keir Starmer, para chamar a atenção da situação política na Guiné-Bissau duas semanas após um golpe militar naquele país.
O protesto, que só ganhou força algum tempo depois da hora marcada para a concentração, às 15:00, exibiu cartazes com frases como "Lugar di militar i na quartel?", "Exigimos a libertação imediata dos prisioneiros políticos?" e "Não ao golpe de Estado na Guiné-Bissau?".
Uma das organizadoras, Elsa Pontes?, da associação Casa da Guiné-Bissau em Londres?, explicou que esta manifestação é uma entre várias iniciativas destinadas a sensibilizar a opinião pública e os responsáveis políticos britânicos.
"Temos insistido: já entregámos cartas à Amnistia Internacional?, ao Parlamento e estamos a escrever cartas pessoais aos nossos deputados, mas até agora não houve resposta", afirmou à agência Lusa?.
A ativista declarou que "gostaria que reconhecessem o presidente eleito, o presidente escolhido pelo povo", referindo-se ao candidato independente Fernando Dias?.
"O que todos nós desejamos é que exista um presidente à frente do país que respeite a Constituição da Guiné", sublinhou.
Segundo Elsa Pontes?, militante do PAIGC?, a manifestação reuniu pessoas de diferentes partidos, incluindo o PRS?, evidenciando que a situação política está a unir a diáspora.
O protesto de hoje aconteceu uma semana após outra concentração, realizada no bairro de Stratford? no sábado anterior, que, segundo Justino Dias?, outro ativista, contou com cerca de 200 participantes.
"O papel da diáspora, nestas circunstâncias, é criar círculos de influência. Diretamente não podemos fazer nada, porque não estamos lá. A nossa ação é influenciar as pessoas que vivem no país e também os governos dos países onde residimos, para que tenham consciência da situação", declarou à Lusa? este guineense de 68 anos, residente no Reino Unido há 13.
Outro manifestante, Bernardino Cabral de Almada?, de 52 anos, disse à Lusa que só recentemente despertou para a política, após 31 anos a viver no Reino Unido.
"Antes não me envolvia nessas coisas --- pensava: estou aqui, a aproveitar a vida. Vim cedo para a Inglaterra, mas agora percebo que a Guiné-Bissau? precisa de uma mudança", explicou.
Sobrinho do ex-ministro da Justiça Fidélis Policarpo Cabral d`Almada? e filho de um ativista da independência do país, lamentou a atual situação "esquisita" e "complicada".
"Nós votámos no Fernando Dias?, mas já suspeitava que ia haver um cambalacho. E foi o que aconteceu: inventaram esse golpe de Estado que, na verdade, não é golpe nenhum --- é uma grande tontaria", criticou.
Bernardino Cabral de Almada? acredita que a manifestação em frente a Downing Street? pode pressionar o governo britânico a aplicar "sanções à Guiné-Bissau? ou tomar alguma medida em relação a este governo que entrou agora", que, para si, "não é governo, não é nada".
"Chega! Basta! É por isso que viemos hoje aqui, para exigir uma mudança e um novo rumo para a Guiné-Bissau?", concluiu.
O Alto Comando Militar tomou o poder a 26 de novembro, três dias depois das eleições gerais, presidenciais e legislativas, e um dia antes da data anunciada para a divulgação dos resultados eleitorais.
Estas foram as primeiras eleições no país, sem o histórico partido da libertação, o PAIGC, excluído pelo tribunal, e que decidiu apoiar o candidato independente Fernando Dias, que reclamou vitória na primeira volta sobre o Presidente, Umaro Sissoco Embaló, que concorreu a um segundo mandato.
O Presidente foi deposto, o processo eleitoral suspenso e o golpe de Estado condenado a nível internacional com a Guiné-Bissau suspensa das principais organizações regionais, nomeadamente a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a União Africana (UA).
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) recomendaram hoje aos chefes de Estado a suspensão temporária da Guiné-Bissau da organização, no seguimento do golpe de Estado no país.
Os chefes da diplomacia dos países lusófonos decidiram também "constituir uma Missão de Bons Ofícios de Alto Nível que será enviada para a Guiné-Bissau no mais breve período de tempo".
A oposição tem afirmado que o golpe de Estado foi uma alegada encenação do Presidente Embaló por ter sido derrotado nas eleições.