Gurra civil em Moçambique com novos protagonistas em livro com dados inéditos

por Lusa

O Instituto de Estudos Sociais e Económicos lançou hoje em Maputo "The War Within: New Perspectives on The Civil War in Mozambique 1976-1992", uma obra baseada em "arquivos inéditos" e que apresenta "novos intervenientes" no início da guerra civil dos 16 anos em Moçambique.

"É uma obra que nos leva a pensar a guerra de maneira diferente e que desenvolve uma nova perspetiva sobre como decorreu o processo, com intervenientes que foram ignorados pelos historiadores", disse à Lusa o pesquisador Éric Morier-Genoud, um dos autores.

Com 260 página, a obra, disponível apenas em inglês, indica que, antes da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), houve um movimento criado por dissidentes da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) que desencadeou ataques contra campos de reeducação na Zambézia, em 1976.

Trata-se do Partido Revolucionário de Moçambique e que viria mais tarde a juntar-se à Renamo, numa aliança que expandiu a guerra civil pelo centro e norte de Moçambique, segundo os autores.

A versão apresentada na obra difere da história oficial, que considera que a guerra civil moçambicana começou em 05 de maio de 1977, quando a Renamo protagonizou o primeiro ataque militar a uma base das forças governamentais na província de Manica, centro de Moçambique.

"Foi o Partido Revolucionário de Moçambique que autorizou a Renamo a entrar no norte de Moçambique, ou seja, a expansão da Renamo pelo norte de Moçambique passou por este movimento", declarou Éric Morier-Genoud.

O Partido Revolucionário de Moçambique dominou a Zambézia de 1976 até 1982, quando se aliou à Renamo, tendo, na altura, elementos do movimento desempenhado papeis importantes na liderança do atual principal partido de oposição em Moçambique.

Posteriormente, como o final da guerra civil, em 1992, o movimento separou-se da Renamo e tornou-se a União Nacional Moçambicana (Unamo), o primeiro partido democrático registado em Moçambique, mas que "não teve expressão", segundo os autores da obra.

Para o pesquisador Sérgio Chichava, também um dos autores da obra, a nova versão mostra que, antes mesmo da Renamo, existia um sentimento de revolta de uma parte que se considerava excluída no interior da Frelimo.

"Este problema vem das divisões que existiram entre as diferentes elites no seio da luta de libertação nacional. Esses movimentos todos e desentendimentos repercutiram-se depois da independência e geraram conflitos", concluiu o autor.

Além do Partido Revolucionário de Moçambique, a obra, que começou a ser escrita em 2012, apresenta outros movimentos locais que se envolveram no conflito, além de destacar o papel das igrejas e de organizações da sociedade civil.

A guerra civil moçambicana opôs o exército governamental e o braço armado da Renamo, tendo terminado com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992.

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