Guterres acusa políticas populistas pela intolerância contra imigrantes
O Alto Comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, criticou hoje as políticas populistas que, em conjunto com as informações de alguns media, criam um clima de intolerância na Europa em relação aos refugiados e imigrantes.
"Os refugiados não são terroristas", disse Guterres numa conferência de imprensa depois de encontros com os ministros italianos do Interior, Giuseppe Pissanu, e dos Negócios Estrangeiros, Gianfranco Fini, por causa das condições do centro de internamento de imigrantes da ilha de Lampedusa.
Este centro, onde quase diariamente chegam dezenas de imigrantes que tentam entrar clandestinamente na Europa - hoje foram 150 -, é há muito objecto de polémica depois de numerosas denúncias sobre as suas condições de vida desumanas. As denúncias vão desde as feitas por vários jornalistas até às do Parlamento Europeu.
Para Guterres, um dos principais desafios que enfrenta a Europa é a "crescente intolerância" fomentada pelas "políticas populistas" que misturam tudo: refugiados, asilados, emigrantes, terroristas e medidas de segurança.
Também a imprensa sensacionalista, disse Guterres, dá uma ajuda na criação dessa fobia para com os estrangeiros.
Para o ex-primeiro-ministro português, a melhor forma de combater o problema da imigração é resolvê-lo na origem, impedindo as causas que a fomentam, como a destruição dos terrenos agrícolas, a falta de postos de trabalho, os conflitos e os desastres naturais.
A "solidariedade" da Europa é necessária para melhorar as condições nos países de origem da imigração, porque se tal não for feito, explicou Guterres, os movimentos de imigrantes serão cada vez maiores.
à margem da visita de Guterres a Itália, da sede do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) em Genebra seguiram já vários pedidos para as autoridades marroquinas para que permitam às equipas do ACNUR o acesso aos imigrantes subsarianos que estão a ser agrupados em diferentes zonas de Marrocos.
"Embora não haja dados oficiais, existem indícios de que dezenas de subsarianos foram detidos pelas autoridades marroquinas numa campanha irregular", explicou o director do ACNUR para o sudeste e centro da Ásia, norte de África e Médio Oriente, Ekber Menemencioglu.
Na sua opinião, tais pessoas não devem ser forçadas a regressar aos países de origem se correm o risco de aí serem perseguidas, pelo qual foi "solicitado reiteradamente o acesso" a esses emigrantes, "mas em vão".
O ACNUR enviou uma equipa para Rabat, onde conseguiu falar com os imigrantes que puderam deslocar-se à delegação que a agência da ONU tem na capital marroquina.
Embora reconhecendo o direito dos Governos de lutar contra a imigração clandestina, Menemencioglu defendeu que, "em fluxos migratórios destas dimensões, muitas vezes existem pessoas que fogem de perseguições ou situações de violência e que têm direito a contar com um processo justo de pedido de asilo".
António Guterres falou disso com os dois ministros italianos em Roma: "Ninguém pode ser expulso para um lugar onde a sua vida e os seus direitos podem estar em perigo e a Líbia não é um lugar que possa assegurar esses direitos".
O Governo italiano está a expulsar os imigrantes clandestinos que chegam a Itália enviando-os para a Líbia.