Guterres pede que países "olhem além dos interesses nacionais" na Assembleia-Geral da ONU

O secretário-geral da ONU, António Guterres, inaugurou hoje a 80.ª Assembleia-geral das Nações Unidas (UNGA80), recordando que a carta fundadora exige que os países "olhem além dos seus interesses nacionais" e reconstruam a confiança e a fé mútuas.

Lusa /

Guterres salientou que a Carta da ONU - o documento fundador da organização, criada em 1945 com o objetivo de salvar as gerações futuras do flagelo da guerra - "não é autoexecutável" e, por isso, depende do trabalho conjunto dos seus 193 Estados-membros.

"Embora não possamos resolver todos os problemas do mundo aqui, podemos unir-nos em torno de soluções que, em última análise, levarão a humanidade mais perto de um mundo melhor, mais justo, mais pacífico e igualitário para todos", observou o líder da ONU.

Ao iniciar a 80ª sessão, o ex-primeiro-ministro português apelou a todos os Estados-membros para que invoquem a mesma determinação e o mesmo espírito que levaram líderes de 50 países a reunirem-se em São Francisco, nos EUA, em 1945, para assinar um tratado internacional que mantivesse a paz e consagrasse os direitos iguais de todas as pessoas após a devastação causada pela Segunda Guerra Mundial.

"Vamos corresponder à sua visão --- e, mais importante, às expectativas e esperanças das pessoas de hoje em todo o mundo", concluiu.

A UNGA80 arrancou hoje, em Nova Iorque, sob o tema "Melhores juntos", para renovar o compromisso global com multilateralismo, solidariedade e ação pelas pessoas e pelo planeta.

Até ao final do mês vão decorrer uma série de eventos, com os 80 anos da ONU como pano de fundo e com destaque para a Semana de Alto Nível, que arranca dia 22 e que concentrará em Nova Iorque dezenas de chefes de Estado e de Governo. 

Ainda no dia 22, à margem dos eventos organizados pela ONU, decorrerá uma Conferência para a Solução de Dois Estados, onde países como França, Reino Unido, Canadá e Austrália devem formalizar o seu reconhecimento do Estado palestiniano.

Uma nova sessão da Assembleia-geral significa também uma nova liderança deste órgão: Annalena Baerbock, ex-ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, substituiu hoje Philemon Yang, ex-primeiro-ministro dos Camarões.

Annalena Baerbock tornou-se assim a quinta mulher a ocupar o cargo de presidente da Assembleia-Geral da ONU, em comparação com os 75 homens que o ocuparam ao longo dos 80 anos de história das Nações Unidas.

A alemã recebeu do presidente cessante o martelo usado para declarar o início e o fim de cada sessão da Assembleia-Geral, órgão no qual os 193 Estados-membros se sentam em pé de igualdade, mas que tem uma função exclusivamente representativa, uma vez que o verdadeiro poder é exercido pelo Conselho de Segurança (com capacidade de fazer aprovar resoluções com caráter vinculativo).

No seu discurso inaugural, a diplomata afirmou que será imparcial e uma criadora de pontes, guiada apenas pela Carta das Nações Unidas.

"Será a minha estrela do norte", disse, acrescentando que agirá sempre com a convicção de que "somos verdadeiramente melhores juntos".

A política alemã de 44 anos será responsável por organizar a próxima Semana de Alto Nível da Assembleia, o principal evento da diplomacia global.

A posse de Baerbock como presidente ocorre num momento de intenso debate sobre a necessidade de uma mulher assumir pela primeira vez o cargo de secretária-geral da ONU quando António Guterres concluir o seu mandato, no final de 2026.

No entanto, nenhum nome obteve ainda o consenso necessário entre os países.

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