Haiti alerta para contínuo tráfico ilícito de armas à margem do regime de sanções
O Haiti alertou sexta-feira que o tráfico ilícito de armas permanece uma realidade preocupante no país, instando à implementação rigorosa, consistente e transparente do regime de sanções das Nações Unidas (ONU).
Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador haitiano, Ericq Pierre, destacou que, de todas as medidas previstas no regime de sanções ao seu país, o embargo de armas continua a ser a que tem maior impacto no combate à crise multidimensional que afeta o Haiti.
Relatórios recentes da ONU continuam a mostrar que o tráfico ilícito de armas para o Haiti permanece uma realidade preocupante, com redes transnacionais bem organizadas e rotas de abastecimento de armas a operarem no país, evidenciando os desafios persistentes em relação à vigilância das fronteiras.
"Tudo isso obriga-nos a lembrar que a eficácia do embargo não deve ser medida apenas pelo seu quadro legal, mas sobretudo pela sua implementação específica. Neste sentido, o Haiti atribui particular importância à implementação rigorosa, consistente e transparente do embargo de armas", defendeu o diplomata.
Ericq Pierre afirmou que um embargo credível significa ter mecanismos de controlo robustos nas fronteiras e nos portos do país. Já no âmbito internacional, pediu um maior apoio técnico para melhorar as capacidades de vigilância marítima, aérea e terrestre, particularmente nos pontos de passagem mais vulneráveis.
"Mais uma vez, devemos lembrar que as armas que alimentam a violência no Haiti não são fabricadas no nosso território. Entram no país através de redes criminosas transnacionais. Combater este fenómeno é, por isso, uma responsabilidade coletiva", insistiu.
"Isto exige cooperação regional e intergovernamental, incluindo a partilha de informações em tempo real, operações coordenadas de interceção, monitorização e rastreio de armas, assim como ações judiciais conjuntas contra as redes criminosas relevantes", disse o embaixador haitiano junto da ONU.
Para resolver a grave crise de segurança que o Haiti enfrenta, Ericq Pierre defendeu cortes diretos nas fontes de fornecimento de armas e munições aos gangues e aos seus aliados.
No entanto, salientou que as autoridades haitianas não conseguirão fazer isso sozinhas, apelando a uma cooperação ativa, sustentada e responsável de todos os Estados-membros das Nações Unidas.
O Haiti é considerado um dos países mais pobres da América Latina e atualmente vive uma grande crise social, política, económica e sobretudo de segurança, nomeadamente devido à ação de gangues criminosos.
Pelo menos 1.247 pessoas foram assassinadas e 710 ficaram feridas no Haiti, entre 01 de julho e 30 de setembro de 2025, devido à violência dos gangues, grupos de autodefesa e membros não organizados, segundo um relatório da ONU.
No final de setembro, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a transformação da Missão de Apoio Multinacional à Segurança no Haiti numa "Força de Supressão de Gangues" por um período inicial de 12 meses.