Dois homens armados com facas fizeram reféns cinco pessoas numa igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray, uma cidade da Normandia, no norte de França. Foram neutralizados pela polícia quarenta minutos depois. A organização Estado Islâmico, também conhecido como Daesh, reivindicou o ataque.
Uma das freiras conseguiu fugir e foi ela quem deu o alerta, afirmou fonte policial ao Le Figaro.
A polícia de intervenção isolou o local e acabou por "neutralizar" os assaltantes, disse depois um porta-voz do ministério do Interior de França.
Fontes policiais afirmaram ao Figaro que o padre foi degolado, tendo morte imediata. Foi identificado como Jacques Hamel, de 84 anos.
RIP Abbé Jacques Hamel, 86 ans, prêtre 58 ans
— Thomas Michelet OP (@ThMichelet) July 26, 2016
tué lors de la messe à #SaintEtienneDuRouvrayhttps://t.co/9DG8m5iwsd pic.twitter.com/E7odqDua06
A comunidade de fiéis reagiu em choque e choveram elogios ao sacerdote assassinado. Multiplicam-se as homenagens ao padre Hamel, de completou 58 anos ao serviço da Igreja.
Três reféns foram feridos e um deles, uma das freiras que servia o padre durante a Missa e que terá igualmente sido esfaqueada na garganta, foi hospitalizada entre a vida e a morte, afirmou o porta-voz do Ministério do Interior, Pierre-Henry Brandet.
Um camião das equipas de desminagem deslocou-se à igreja e esta foi inspeccionada para se ter certeza que não foi armadilhada, revelou a mesma fonte.
Horas depois o grupo Estado Islâmico reivindicou o ataque através da sua agência oficial Amaq, afirmando ter sido perpretado por "soldados" seus, uma formula já usada para reivindicar o atentado de Nice.
Os "dois soldados" realizaram "a operação em resposta ao apelo a atacar os países da coligação cruzada", referiu o texto.
Hollande condena "atentado terrorista do Daesh"
Tanto o Presidente francês François Hollande como o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, se deslocaram a Saint-Etienne-du-Rouvray.
O Chefe de Estado e o ministro chegaram ao local cerca das 13h00 (12h00 em Portugal), tendo-se reunido com as autoridades.
Hollande clasificou o assassínio do padre como "um atentado terrorista ignóbil". Os dois sequestradores abatidos pela polícia disseram pertencer ao 'Daesh' o nome árabe para o grupo Estado Islâmico.
"Devemos levar a guerra contra o Estado Islâmico por todos os meios", acrescentou Hollande.
"Foram os católicos que foram atacados mas são todos os franceses que se sentem envolvidos", afirmou o Presidente.
Pouco antes François Hollande tinha enviado na sua conta Twitter condolências às famílias das vítimas.
"Envio às famílias das vítimas assim como ao conjunto dos católicos de França, a solidariedade e a compaixão da Nação", escreveu.J'adresse aux familles des victimes ainsi qu’à l’ensemble des catholiques de France, la solidarité et la compassion de la Nation.
— François Hollande (@fhollande) July 26, 2016
O Presidente vai receber ainda hoje no Eliseu o Monsenhor Lebrun,arcebispo de Rouen e convocou ainda para quarta-feira uma reunião da Conferência de representantes dos cultos em França. A CRCF foi criada em novembro de 2010 e agrupa seis representações das igrejas cristãs (católica, ortodoxa e protestante), do Islão, do judaísmo e do budismo.
Toda a classe política francesa reagiu com horror e repúdio ao ataque. O ministro dos Negócios Estrangeiros Jean-Marc Ayrault apelou à "unidade" de todos os franceses.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, exprimiu o seu "horror por este ataque bárbaro".
"Horror perante este ataque bárbaro a uma igreja de Seine-Maritime. Toda a França e todos os católicos estão feridos. Nós ficaremos unidos", escreveu Valls.Horreur face à l'attaque barbare d'une église de Seine-Maritime. La France entière et tous les catholiques sont meurtris. Nous ferons bloc.
— Manuel Valls (@manuelvalls) July 26, 2016
Papa associa-se à "dor e ao horror"
O bispo de Rouen, Monsenhor Dominique Lebrun, que se encontrava em Cracóvia nas Jornadas Mundiais da Juventude, abandonou-as para se dirigir a Saint-Etienne-du-Rouvray.
"Estarei esta noite na minha diocese perto das famílias e da comunidade paroquial muito chocada", escreveu o bispo de Rouen, a cuja diocese pertence a igreja atacada.
"Deixo aqui centenas de joves que são o futuro da humanidade, a verdadeira. Peço-lhes para não baixar os braços perante as violências e tornarem-se apóstolos da civilização do amor", apelou em comunicado de imprensa publicado no site Famille Chrétienne.
"Grito a Deus, como todos os homens de boa vontade. Ouso convidar os não-crentes a unir-se a este grito. Com os jovens das JMJ, rezamos como rezámos diante do túmulo do padre Popielusko, assassinado sob o regime comunista" escreveu Lebrun.
O Papa Francisco associou-se à "dor e ao horror" após o sequestro, enquanto o Vaticano condenou por seu lado "um assassínio bárbaro".
"Estamos particularmente chocados porque esta horrível violência teve lugar numa igreja na qual o amor de Deus é anunciado", reagiu o porta-voz do Vaticano Padre Federico Lombardi.
O Papa sente "a dor e o horror desta violência absurda" e "condena da forma mais radical qualque forma de ódio", acrescentou.
Investigação anti-terrorista
A população da vila não ganhou para o susto.
"Preparava-me para sair a fazer compras e a polícia caiu-me em cima aos gritos para me meter de novo em casa e me barricar", contou uma habitante da praça onde está a igreja.
Noutra rua um comerciante afirmou ter ouvido "vários tiros" cerca de 40 minutos depois do início da tomada de reféns.
Os dois homens foram abatidos quando saíram para o adro da igreja, durante a operação para por fim ao sequestro.
De acordo com fontes policiais citadas pelo Figaro pelo menos um dos sequestradores tinha barba e uma chachia, um pequeno barrete de lã usado pelos muçulmanos. Ao início da tarde a identificação dos suspeitos estava ainda em curso.
Ambos gritaram as palavras "Daesh" e "Ala u Akbar", durante o ataque e "falaram em árabe", de acordo com a freira que deu o alarme.
Um deles, identificado como AK, de 19 anos, terá estado mesmo detido por ir tentar bater-se pelo EI através da Turquia, tendo sido apanhado por duas vezes, em Genebra e em Minique.
Detido e depois exaditado para França, AK foi investigado por associação criminosa com vista a cometer um atentado. Foi libertado com pulseira eletrónica em março último e estava à espera de ser do novo interrogado.
Um adolescente que vivia com AK foi detido para averiguações.
O ministério do Interior saudou a pronta intervenção da polícia que, afirma, permitiu salvar três reféns.
As investigações ao sucedido foram confiadas à seção anti-terrorista da Procuradoria de Paris, sub-direção antiterrorista (SDAT) e à direção geral da Segurança Interna..@PHBrandet (porte-parole) : L'intervention rapide de la BRI de Rouen a permis de libérer 3 otages sains et saufs #SaintEtienneduRouvray
— Ministère Intérieur (@Place_Beauvau) July 26, 2016
A igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray estava incluída na lista de alvos de um estudante argelino de 24 anos que pretendeu atacar locais de cultos católicos também na região de Paris, lembrou o Figaro. Sid Ahmed Ghlam foi impedido de realizar um atentado numa igreja de Paris e acabou detido após matar uma pessoa quando fugia às autoridades.
Reações políticas
Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, o partido de extrema direita francês, reagiu no Twitter.
"O susto de novo em #SaintEtienneduRouvray. O modus operandi faz evidentemente recear um novo atentado de terroristas islamitas", escreveu.
Já a sua filha, Marion Le Pen, foi mais apelativa.
"Eles matam os nossos filhos, assassinam os nossos polícias e assassinam os nosso padres. Acordem!" escreveu na sua conta Twitter.Ils tuent nos enfants, assassinent nos policiers et égorgent nos prêtres. Réveillez-vous ! #SaintEtienneduRouvray
— Marion Le Pen (@Marion_M_Le_Pen) July 26, 2016
Alain Juppé ficou "abalado".
" Horror e barbárie em Saint-Etienne-du-Rouvrai. Um padre assassinado. Pensamentos para as vítimas, as suas famílias. Estamos todos abalados", referiu Juppé no Twitter.Horreur et barbarie à Saint-Etienne-du-Rouvray. Un prêtre assassiné. Pensées pour les victimes,leurs familles. Nous sommes tous bouleversés.
— Alain Juppé (@alainjuppe) July 26, 2016