Homens armados fazem reféns numa igreja em França

por RTP
A igreja onde decorreu a tomada de reféns Reuters

Dois homens armados com facas fizeram reféns cinco pessoas numa igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray, uma cidade da Normandia, no norte de França. Foram neutralizados pela polícia quarenta minutos depois. A organização Estado Islâmico, também conhecido como Daesh, reivindicou o ataque.

O padre, duas freiras e dois fiéis foram retidos cerca das 08h30 em Portugal, por dois homens que entraram pela porta de trás do templo durante a Missa, celebrada pelo padre e à qual assistiam três irmãs e dois fiéis.

Uma das freiras conseguiu fugir e foi ela quem deu o alerta, afirmou fonte policial ao Le Figaro.



A polícia de intervenção isolou o local e acabou por "neutralizar" os assaltantes, disse depois um porta-voz do ministério do Interior de França.

Fontes policiais afirmaram ao Figaro que o padre foi degolado, tendo morte imediata. Foi identificado como Jacques Hamel, de 84 anos.


A comunidade de fiéis reagiu em choque e choveram elogios ao sacerdote assassinado. Multiplicam-se as homenagens ao padre Hamel, de completou 58 anos ao serviço da Igreja.

Três reféns foram feridos e um deles, uma das freiras que servia o padre durante a Missa e que terá igualmente sido esfaqueada na garganta, foi hospitalizada entre a vida e a morte, afirmou o porta-voz do Ministério do Interior, Pierre-Henry Brandet.

Um camião das equipas de desminagem deslocou-se à igreja e esta foi inspeccionada para se ter certeza que não foi armadilhada, revelou a mesma fonte.

Horas depois o grupo Estado Islâmico reivindicou o ataque através da sua agência oficial Amaq, afirmando ter sido perpretado por "soldados" seus, uma formula já usada para reivindicar o atentado de Nice.

Os "dois soldados" realizaram "a operação em resposta ao apelo a atacar os países da coligação cruzada", referiu o texto.

Hollande condena "atentado terrorista do Daesh"
Tanto o Presidente francês François Hollande como o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, se deslocaram a Saint-Etienne-du-Rouvray.

O Chefe de Estado e o ministro chegaram ao local cerca das 13h00 (12h00 em Portugal), tendo-se reunido com as autoridades.

Hollande clasificou o assassínio do padre como "um atentado terrorista ignóbil". Os dois sequestradores abatidos pela polícia disseram pertencer ao 'Daesh' o nome árabe para o grupo Estado Islâmico.

"Devemos levar a guerra contra o Estado Islâmico por todos os meios", acrescentou Hollande.

"Foram os católicos que foram atacados mas são todos os franceses que se sentem envolvidos", afirmou o Presidente.

Pouco antes François Hollande tinha enviado na sua conta Twitter condolências às famílias das vítimas.
"Envio às famílias das vítimas assim como ao conjunto dos católicos de França, a solidariedade e a compaixão da Nação", escreveu.

O Presidente vai receber ainda hoje no Eliseu o Monsenhor Lebrun,arcebispo de Rouen e convocou ainda para quarta-feira uma reunião da Conferência de representantes dos cultos em França. A CRCF foi criada em novembro de 2010 e agrupa seis representações das igrejas cristãs (católica, ortodoxa e protestante), do Islão, do judaísmo e do budismo.

Toda a classe política francesa reagiu com horror e repúdio ao ataque. O ministro dos Negócios Estrangeiros Jean-Marc Ayrault apelou à "unidade" de todos os franceses.

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, exprimiu o seu "horror por este ataque bárbaro".

"Horror perante este ataque bárbaro a uma igreja de Seine-Maritime. Toda a França e todos os católicos estão feridos. Nós ficaremos unidos", escreveu Valls.
Papa associa-se à "dor e ao horror"
O bispo de Rouen, Monsenhor Dominique Lebrun, que se encontrava em Cracóvia nas Jornadas Mundiais da Juventude, abandonou-as para se dirigir a Saint-Etienne-du-Rouvray.

"Estarei esta noite na minha diocese perto das famílias e da comunidade paroquial muito chocada", escreveu o bispo de Rouen, a cuja diocese pertence a igreja atacada.

"Deixo aqui centenas de joves que são o futuro da humanidade, a verdadeira. Peço-lhes para não baixar os braços perante as violências e tornarem-se apóstolos da civilização do amor", apelou em comunicado de imprensa publicado no site Famille Chrétienne.

"Grito a Deus, como todos os homens de boa vontade. Ouso convidar os não-crentes a unir-se a este grito. Com os jovens das JMJ, rezamos como rezámos diante do túmulo do padre Popielusko, assassinado sob o regime comunista" escreveu Lebrun.

O Papa Francisco associou-se à "dor e ao horror" após o sequestro, enquanto o Vaticano condenou por seu lado "um assassínio bárbaro".

"Estamos particularmente chocados porque esta horrível violência teve lugar numa igreja na qual o amor de Deus é anunciado", reagiu o porta-voz do Vaticano Padre Federico Lombardi.

O Papa sente "a dor e o horror desta violência absurda" e "condena da forma mais radical qualque forma de ódio", acrescentou.


Investigação anti-terrorista
A população da vila não ganhou para o susto.

"Preparava-me para sair a fazer compras e a polícia caiu-me em cima aos gritos para me meter de novo em casa e me barricar", contou uma habitante da praça onde está a igreja.



Noutra rua um comerciante afirmou ter ouvido "vários tiros" cerca de 40 minutos depois do início da tomada de reféns.

Os dois homens foram abatidos quando saíram para o adro da igreja, durante a operação para por fim ao sequestro.

De acordo com fontes policiais citadas pelo Figaro pelo menos um dos sequestradores tinha barba e uma chachia, um pequeno barrete de lã usado pelos muçulmanos. Ao início da tarde a identificação dos suspeitos estava ainda em curso.

Ambos gritaram as palavras "Daesh" e "Ala u Akbar", durante o ataque e "falaram em árabe", de acordo com a freira que deu o alarme.

Um deles, identificado como AK, de 19 anos, terá estado mesmo detido por ir tentar bater-se pelo EI através da Turquia, tendo sido apanhado por duas vezes, em Genebra e em Minique.

Detido e depois exaditado para França, AK foi investigado por associação criminosa com vista a cometer um atentado. Foi libertado com pulseira eletrónica em março último e estava à espera de ser do novo interrogado.

Um adolescente que vivia com AK foi detido para averiguações.

O ministério do Interior saudou a pronta intervenção da polícia que, afirma, permitiu salvar três reféns.
As investigações ao sucedido foram confiadas à seção anti-terrorista da Procuradoria de Paris, sub-direção antiterrorista (SDAT) e à direção geral da Segurança Interna.

A igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray estava incluída na lista de alvos de um estudante argelino de 24 anos que pretendeu atacar locais de cultos católicos também na região de Paris, lembrou o Figaro. Sid Ahmed Ghlam foi impedido de realizar um atentado numa igreja de Paris e acabou detido após matar uma pessoa quando fugia às autoridades. 
Reações políticas
Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, o partido de extrema direita francês, reagiu no Twitter.

"O susto de novo em #SaintEtienneduRouvray. O modus operandi faz evidentemente recear um novo atentado de terroristas islamitas", escreveu.

Já a sua filha, Marion Le Pen, foi mais apelativa.
"Eles matam os nossos filhos, assassinam os nossos polícias e assassinam os nosso padres. Acordem!" escreveu na sua conta Twitter.

Alain Juppé ficou "abalado".

" Horror e barbárie em Saint-Etienne-du-Rouvrai. Um padre assassinado. Pensamentos para as vítimas, as suas famílias. Estamos todos abalados", referiu Juppé no Twitter.

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