Hong Kong. Libertado ativista do movimento pró-democracia

por RTP
Thomas Peter - Reuters

Joshua Wong, um dos dirigentes do movimento pró-democracia de Hong Kong, foi libertado esta segunda-feira. Após um mês de prisão, o ativista foi autorizado a sair um mês mais cedo do que o previsto, numa altura em que os protestos na cidade continuam acesos e se fala da potencial demissão da chefe do Executivo.

Joshua Wong, de 22 anos, tinha sido condenado a dois meses de prisão, em maio deste ano, devido à sua participação no movimento "Revolução dos Guarda-Chuvas", em 2014. O ativista tornou-se o rosto principal do movimento, exigindo a autonomia e autodeterminação do território, contra o que diz ser "a opressão do Partido Comunista da China". Em 2016, formou um partido pró-democracia, o Demosistō

As manifestações em 2014 mobilizaram centenas de milhares de pessoas contra uma decisão da China de selecionar previamente os candidatos às eleições para chefe do Executivo no território semiautónomo de Hong Kong. Mas a China não cedeu.

O estudante tornou-se uma figura chave a nível internacional: apareceu na capa da revista Time e foi o protagonista do documentário Netflix "Joshua: Teenager vs Superpower"[Joshua: Adolescente vs Superpotência]. 

Agora, pouco depois de uma manifestação com dois milhões de pessoas, Wong foi libertado um mês mais cedo e foi esperado por vários apoiantes à saída da prisão de Lai Chi Kok, onde se encontrava. As autoridades não justificaram o motivo para a libertação antecipada. 

Wong já se pronunciou acerca da lei de extradição e dos protestos que se seguiram: "Força, Hong Kong! Revoguem a lei da extradição. Carrie Lam, demite-te. Arquiva todos os processos políticos!", escreveu no Twitter.

À CNN, o dirigente estudantil disse: "É um ótimo timing para lutar pela liberdade e pela democracia. Há cinco anos, depois do fim do Movimento dos Guarda-Chuvas, nós dissemos que regressaríamos. Ontem, dois milhões de pessoas saíram à rua… mostra que Hong Kong se apercebeu que isto é uma longa batalha". 

E acrescentou: "Porque é que Carrie Lam precisou de esperar para suspender a lei até um milhão de pessoas acorrerem às ruas? É porque ela não é eleita pelas pessoas de Hong Kong. Está na hora de se demitir".
Protestos continuam

Milhões de pessoas têm-se manifestado contra uma alteração legislativa que visa possibilitar a extradição de réus para serem julgados na China continental, de acordo com as leis chinesas. Hong Kong mantinha, até agora, um código penal autónomo.

Carrie Lam, a chefe do Executivo, argumentou que a lei da extradição era necessária para emendar lacunas legais e permitir a extradição para Taiwan de um homem de Hong Kong procurado pelo homicídio da namorada. Porém, os manifestantes acreditam tratar-se de uma tentativa de Pequim de pôr em causa a independência dos tribunais e obter mais controlo sobre o território semiautónomo. 

A lei deu origem a três protestos em apenas uma semana, com uma adesão crescente. No domingo passado, dois milhões de pessoas aderiram, num território constituído por sete milhões de cidadãos. Torna-se, assim, a maior manifestação desde 1997, quando se deu a transição da antiga colónia britânica para a administração chinesa.

Os confrontos tornaram-se violentos – as forças de segurança utilizaram gás pimenta, gás lacrimogéneo, e balas de borracha contra os manifestantes.

Os manifestantes pedem agora também a demissão de Carrie Lam, que não tardou a reagir. Num comunicado, Lam afirmou: "Tendo em conta as fortes visões díspares na comunidade, o Governo parou o trabalho do Conselho Legislativo sobre as emendas da lei". Pediu também desculpas ao público, prometendo adotar "a atitude mais sincera e humilde para aceitar críticas". 

Apesar da suspensão do debate sobre a proposta, os manifestantes acreditam que a lei deve ser revogada para sempre, não apenas suspensa, e condenam a brutalidade da polícia.
Princípio de "um país, dois sistemas" posto em causa
O princípio constitucional formulado por Deng Xiaoping, "Um país, dois sistemas" está a ser posto em causa devido à lei da extradição. O princípio afirmava que haveria apenas uma única China, mas com regiões com sistemas administrativos e económicos próprios, como Hong Kong. 

Hong Kong era uma colónia britânica até 1997, quando voltou a estar sob o controlo chinês. Mas a China teve de aceitar algumas condições: a atribuição de um estatuto especial a Hong Kong (e a Macau, no caso português). Os territórios manteriam o sistema económico capitalista, assim como o seu próprio sistema legal e legislativo. 

Mas Hong Kong acusa a China de manipular as eleições, visto que seleciona previamente os candidatos, e de lesar a independência judicial. 

Este é um momento particularmente desgastante para a China, visto que enfrentam uma guerra comercial com os EUA e novas tensões com Taiwan.

Os protestos em Hong Kong poderão também continuar até ao dia 1 de julho, o aniversário da transferência do território à China, e uma data importante para as manifestações pró-democracia.


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