HRW pede libertação de migrantes e requerentes de asilo presos perto dos combates
A organização Human Rights Watch (HRW) pediu hoje à Ucrânia que liberte as dezenas de migrantes e requerentes de asilo presos em centros de detenção e lhes permita alcançar a segurança nos países vizinhos.
"Os migrantes e requerentes de asilo estão presos há quase dois meses perto de uma zona de guerra", disse a investigadora de direitos de refugiados e migrantes da Human Rights Watch Nadia Hardman, acrescentando que "os detidos estão aterrorizados e em perigo e não há razão para mantê-los em detenção".
Segundo explica a organização em comunicado hoje divulgado, a HRW entrevistou, em abril de 2022, por telefone, dois homens detidos no Centro de Detenção Temporária para Estrangeiros e Apátridas na região de Mykolaiv, próximo da linha de frente, tendo também ouvido vários migrantes e requerentes de asilo detidos no Centro de Acolhimento de Migrantes de Zhuravychi, um antigo quartel militar a uma hora de Lutsk, cidade no noroeste da Ucrânia.
Vários dos entrevistados disseram ter sido detidos nos meses anteriores à invasão russa por tentarem passar ilegalmente a fronteira para a Polónia ou por irregularidades dos seus vistos.
"Qualquer que seja a razão original para detê-los, a sua detenção continuada é arbitrária e coloca estas pessoas em risco devido às hostilidades militares", refere a HRW.
"Se estavam a ser detidos administrativamente e tendo em conta que a Ucrânia não pode deportar ninguém neste momento por causa do conflito, o motivo da sua detenção evaporou-se e estas e outras detenções tornaram-se arbitrárias", acrescenta.
De acordo com a organização, a HRW escreveu às autoridades ucranianas em 9 de março e 20 de abril a pedir explicações sobre a situação de pessoas ainda detidas por imigração, mas não recebeu resposta.
Em março, a organização Projeto de Detenção Global informou que um terceiro centro de detenção, o Centro de Detenção Temporária de Chernihiv, tinha sido esvaziado de migrantes e requerentes de asilo.
No início de maio, Borys Kryvov, vice-diretor do centro de Chernihiv, disse à Human Rights Watch que a instalação tinha sido atingida por munições que ele acredita terem sido disparadas por um drone em 30 de março. Embora os danos tenham sido limitados, mostraram a necessidade de retirar com urgência as pessoas que permanecem em Zhuravychi e em Mykolaiv, antes que esses centros também sejam alvo de um ataque.
Entrevistados de ambos os centros disseram ainda que os guardas lhes prometeram que poderiam deixar as instalações se se juntassem ao esforço de guerra ucraniano e garantiram-lhes que receberiam cidadania e documentos ucranianos se o fizessem. Os entrevistados asseguraram que ninguém aceitou a oferta.
Tanto numa como noutra instituição, registaram-se pessoas que admitiram ter-se sentido aterrorizadas por estarem presas numa zona de guerra.
O centro de Zhuravychi fica perto da fronteira com a Bielorrússia e, em março, as pessoas disseram ter ouvido explosões e fogo de artilharia.
A instalação de Mykolaiv fica ainda mais próxima da frente e os homens entrevistados adiantaram à HRW que conseguiram ouvir e ver aviões militares a sobrevoar as instalações de detenção e os sons de explosões e artilharia em intervalos regulares.
Todos os homens entrevistados reconheceram que querem deixar o local o mais rapidamente possível e procurar refúgio em países vizinhos, juntando-se aos milhões de outros civis que fogem da Ucrânia.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.