Hungria. Partido de Orbán sofre pesada derrota eleitoral

por RTP
Bernadett Szabo, Reuters

Embora formalmente as eleições de ontem fossem apenas para as autarquias, elas eram assumidamente um teste político à popularidade do Governo de extrema-direita. Nas principais cidades do país e noutras menos decisivas, o partido de Viktor Orbán chumbou no teste. A sua derrota mais estrondosa, jogando em casa, foi em Budapeste, onde sempre tinha ganho folgadamente.

O vencedor das eleições e futuro edil da capital húngara, Gergely Karácsony, representava conjuntamente a oposição. O político classificado como verde e liberal de esquerda, obteve surpreendentemente uma maioria absoluta de votos (51 por cento),

Em nove anos, é esta a primeira derrota eleitoral do partido de extrema-direita Fidesz, encabeçado pelo primeiro-ministro nacional-populista Viktor Orbán. Desde 2010, o Fidesz vinha ganhando todas as eleições com uma maioria de dois terços, que lhe dava ampla margem de manobra para governar e até para alterar a Constituição - algo a que não se fez rogado, mudando sempre num sentido autoritário e centralizador a legislação reguladora da administração pública, da imprensa, da Justiça.

A campanha eleitoral que antecedeu as eleições de ontem foi considerada a mais suja da história recente da Hungria, com a polícia a assediar os candidatos da oposição, os activistas do Fidesz a boicotarem os comícios oposicionistas e uma ampla campanha de desinformação atribuindo aos candidatos oposicionistas o plano de atraírem massivamente imigrantes que invadissem o país.

Como primeiro-ministro, Orbán pressionou abertamente o eleitorado, ameaçando com corte de verbas as cidades e vilas que elegessem candidatos da oposição.

Em contrapartida, rebentou em plena campanha eleitoral um escândalo em torno de Zsolt Borkai, presidente da Câmara na cidade de Györ e membro proeminente do Fidesz. Como na Áustria, também aqui o autarca de extrema-direita foi comprometido por uma gravação vídeo, neste caso de uma orgia sexual, que colidia com a imagem puritana cuidadosamente cultivada por ele próprio e pelo partido.

Com o escândalo sexual, vieram depois as revelações sobre os negócios nebulosos de Borkai à frente da Câmara, sobre a apropriação de dinheiros públicos por ele próprio e pela sua corte. As revelações mostravam uma teia com cumplicidades que se aproximam perigosamente do círculo mais íntimo de Viktor Orbán.

Curiosamente, Borkai foi um dos candidatos da extrema-direita que não perderam o seu lugar nestas eleições. Mas, para Orbán, tratou-se de um revés político em toda a linha, ao qual reagiu na noite de domingo com um discurso de perfil baixo, ocasionalmente tingido por alguma veleidade de desafio e sarcasmo contra os vencedores.

Por seu lado, a imprensa húngara independente do Governo fala num "terramoto" eleitoral e num "puxão de orelhas" do eleitorado ao primeiro-ministro. A oposição vê nesta viragem à esquerda do eleitorado um prenúncio favorável para as eleições legislativas de 2022.




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