Igreja brasileira está perplexa com Partido dos Trabalhadores
O cardeal-arcebispo de São Paulo, D. Cláudio Hummes, afirmou que a Igreja Católica está perplexa com as denúncias de corrupção no Partido dos Trabalhadores (PT) e no Governo do presidente Lula da Silva.
"Ela (a Igreja) tinha muita esperança neste governo", salientou o religioso, que chegou a ser apontado como um dos favoritos à sucessão do Papa João Paulo II, numa entrevista transmitida segunda-feira pela televisão brasileira.
"Uma parte da Igreja apoiou fortemente a ascensão do PT como partido no Brasil e fez crescer esse PT...Viam no PT uma oportunidade de o Brasil ser mais justo e mais fraterno", realçou.
O cardeal frisou, neste passo, acreditar que o presidente Lula da Silva não está envolvido no escândalo.
"Eu continuo a ver Lula da Silva como uma pessoa completamente honesta. Seria para mim uma das maiores surpresas e decepções se, de facto, se provasse que ele tem alguma coisa a ver com a corrupção", disse.
D. Cláudio Hummes defendeu a investigação das denúncias de corrupção para "separar o joio do trigo" no Partido dos Trabalhadores.
"Existe muita gente boa também no Partido dos Trabalhadores que está no Governo, como o próprio Lula da Silva", salientou.
Nas últimas semanas, denúncias de corrupção envolvendo os líderes do PT e auxiliares próximos de Lula da Silva provocaram a mais grave crise política desde a chegada do partido à presidência do Brasil, em Janeiro de 2003.
A crise já foi responsável pela demissão de toda a direcção do PT e também do ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, então um dos ministros mais influentes do governo de Lula da Silva.
O suposto esquema de corrupção, tornado público nas últimas semanas, envolve a participação de um publicitário, ligado aos principais dirigentes do PT.
Segundo as denúncias, Marcos Valério, proprietário de empresas de publicidade, utilizava parte dos recursos recebidos por serviços prestados a empresas públicas para pagar uma verba mensal, de cerca de 10.500 euros, a vários parlamentares.
Em troca do pagamento, os parlamentares passariam a apoiar os projectos enviados pelo Governo do presidente Lula da Silva ao Parlamento brasileiro.
Na sexta-feira passada, um dirigente do PT foi detido quando transportava cerca de 155 mil euros em dinheiro, sem origem comprovada.
José Adalberto Vieira da Silva, secretário do PT no Estado do Ceará, na região Nordeste do Brasil, foi detido pela polícia ao tentar embarcar num voo de São Paulo para Fortaleza.
O dirigente transportava 200 mil reais (70 mil euros) dentro de uma mala e o restante em notas de dólar presas ao corpo, quando foi detido e encaminhado para uma esquadra da polícia.
A direcção do PT anunciou também sábado a demissão de José Adalberto Vieira da Silva, que trabalhava para o irmão de José Genoíno, o deputado estadual pelo Estado do Ceará, José Nobre Guimarães.
José Genoíno foi substituído pelo então ministro da Educação de Lula da Silva, Tarso Gerno, antigo prefeito de Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul.
Documentos oficiais comprovam ainda que Marcos Valério foi avalista de pelo menos dois empréstimos do PT junto de bancos privados, no valor total de 1,8 milhões de euros (cinco milhões de reais).
As denúncias de corrupção estão a ser investigadas por uma comissão especial no Parlamento, que pretende identificar os parlamentares que receberam o "mensalão".
Na segunda-feira, um deputado do Partido da Frente Liberal (PFL), de direita, foi detido em Brasília quando transportava sete malas, com cerca de 3,5 milhões de euros (10 milhões de reais) em dinheiro.
O parlamentar João Batista afirmou à polícia que o dinheiro foi recolhido junto dos fiéis de uma igreja evangélica, da qual ele é pastor, durante as celebrações do fim-de-semana.