II Guerra Mundial terminou há 60 anos e fez 50 milhões de mortos

No próximo dia 8 de Maio comemora-se o 60º Aniversário do fim da II Guerra Mundial, que custou cerca de 50 milhões de vítimas mortais e se tornou o conflito mais devastador da história da humanidade.

Francisco Assunção da Agência LUSA /

O dia da capitulação alemã, a 8 de Maio de 1945, não foi, por isso, apenas um dia de festa, nem mesmo para os vencedores, os Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e a então União Soviética, que se uniram para combater as tropas nazis e impedir que Hitler dominasse o mundo.

Em todos os continentes, milhões de pessoas choravam os seus mortos, estropiados ou desaparecidos na guerra desencadeada pelo III Reich de Adolf Hitler com a invasão da Polónia, a 1 de Setembro de 1939.

"Só entre as tropas alemãs, no Outono de 1944 morriam por dia cinco mil soldados na frente leste, ou seja, cinco mil famílias perdiam diariamente um familiar", lembra o historiador militar alemão Gerhard Schreiber, na sua nova História da II Guerra Mundial.

Sessenta anos depois, os investigadores ainda discutem o número exacto de vítimas causadas pela guerra, mas é ponto assente que a União Soviética, com 20 milhões de mortos entre soldados e civis, pagou a factura mais elevada.

A seguir, na lista do maior número de vítimas, vem a China, com 15 milhões de mortos, facto pouco conhecido na Europa, e que se deve aos massacres do exército japonês, uma das três potências do chamado Eixo, com a Alemanha hitleriana e a Itália fascista de Mussolini.

A linguagem fria dos números não traduz, no entanto, a crueldade nos campos de batalha, e muito menos a barbaridade da chacina sistemática de cerca de seis milhões de judeus nos campos de concentração e extermínio nazis, genocídio sem paralelo histórico.

Contudo, pouco depois de General Alfred Jodl ter assinado a capitulação incondicional do Império alemão, a 08 de Maio, em Reims (França), o número de vítimas na guerra tornou-se rapidamente num argumento político.

Na Conferência de Potsdam, o ditador soviético Josef Estaline sublinhou repetidamente o elevado número de mortos que o seu povo tinha a lamentar, em comparação com a Grã-Bretanha, que teve 386 mil vítimas na guerra, e com os Estados Unidos, que tiveram 400 mil vítimas.

No que se refere à Alemanha hitleriana, os historiadores falam hoje de sete milhões de mortos, entre os quais meio milhão de civis.

Dois milhões de alemães morreram durante a retirada das tropas da frente leste, após a derrota na Batalha de Estalininegrado, o ponto de viragem da guerra, ou em fuga de outros focos de combate.

Mas o número mais importante relacionado com a II Guerra Mundial é mesmo o dos seis milhões de judeus, comunistas, homossexuais e ciganos que o nazi-fascismo exterminou de forma sistemática, em lugares tristemente célebres como Auschwitz, ou Dachau Maidanek.

Esta é, aliás, a única cifra relativamente segura, porque em todos os outros cálculos de vítimas da II Guerra Mundial há grandes oscilações.

"O número de vítimas alemãs pode ter sido de 3,5 milhões, ou ter chegado aos nove milhões", diz no seu livro o historiador Gerhard Schreiber.

Apesar de os alemães terem sido muito organizados quanto ao registo do número de vítimas, muitos documentos essenciais para esclarecer o efectivo número de baixas foram destruídos no fragor das batalhas, de que resultou, nomeadamente, o incêndio do Arquivo Militar, em Berlim.

No que se refere aos outros países, os investigadores também não são unânimes, e falam de 4,5 milhões a seis milhões de vítimas na Polónia, porque os dados não são inteiramente fiáveis - as notícias que vinham das frentes de combate deixaram de ser regulares e exactas, à medida que a situação se tornava mais dramática.

Mais difícil ainda para os historiadores tem sido calcular os danos materiais da II Guerra Mundial, sobretudo com base em relatos e testemunhos de pessoas que viveram os trágicos acontecimentos.

"Pompeia desenterrada até me parecia em bom estado, se comparada com Munique", disse certa vez o ministro-presidente da Baviera, Wilhelm Hoegner, depois de ver, no Outono de 1945, a destruição na cidade onde Hitler iniciara, mais de 20 anos antes, a sua actividade política.

Em toda a Alemanha, havia mais de cinco milhões de casas reduzidas a escombros, e em Berlim, palco dos últimos combate, não se via praticamente pedra sobre pedra, sobretudo no centro histórico.

Ex-escravos do nazismo e ex-prisioneiros de guerra, entre oito e 10 milhões de pessoas sem eira nem beira, vagueavam pelo país devastado.

Mais de 11 milhões de alemães foram feitos prisioneiros de guerra pelas tropas aliadas, e alguns deles só 10 anos depois sairiam das prisões russas, após a histórica visita do chanceler Konrad Adenauer a Moscovo.

Face aos milhões de vítimas que a guerra de agressão desencadeada pela Alemanha causou, durante muito tempo foi tabú falar das vítimas alemãs, nomeadamente dos desterrados da Silésia ou da Boémia-Morávia - cerca de 15 milhões de alemães expulsos dos territórios polacos e checoslovacos que o III Reich tinha anexado.

O silêncio só começou a ser quebrado após a publicação do livro de Joerg Friedrich sobre os bombardeamentos aéreos na II Guerra Mundial, que também fizeram muitas vítimas entre os civis alemães.

O tema só começou a ser mais abordado na opinião pública, no entanto, depois de o Prémio Nobel Guenther Grass, uma figura claramente conotada com a esquerda alemã, ter contado, há três anos, a história do navio de refugiados alemães "Wilhelm Gustloff", no seu livro "A Passo de Caranguejo".

O importante, porém, "é que os historiadores não se esqueçam da cronologia", como diz Gerhard Schreiber, e a cronologia mostra que antes de qualquer sofrimento alemão esteve a agressão alemã aos outros povos.

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