Imagens de satélite parecem mostrar valas comuns em Al-Fashir
Imagens de satélite hoje analisadas parecem mostrar corpos a serem enterrados em valas comuns na cidade sudanesa de Al-Fashir, após a sua tomada pelos paramilitares das Forças de Apoio Rápido, noticiou a Associated Press.
As imagens de satélite sobre Al-Fashir, conquistada a 26 de outubro pelas Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), surgiram quando a guerra civil se arrasta no Sudão, apesar da crescente indignação internacional.
O Laboratório de Pesquisa Humanitária da Escola de Saúde Pública de Yale, nos Estados Unidos da América, analisou imagens de Al-Fashir capturadas pela Vantor, uma empresa de imagens com sede no Colorado, anteriormente conhecida como Maxar Technologies.
Essas imagens parecem mostrar manchas de sangue e valas comuns a serem escavadas e posteriormente cobertas em dois locais na cidade: um numa mesquita a norte do hospital saudita, onde cerca de 460 pessoas terão sido mortas, e outro perto de um antigo hospital infantil que as RSF estavam a usar como prisão, disseram os investigadores.
"Não é possível, com base nas dimensões de uma potencial vala comum, indicar o número de corpos que podem estar ali enterrados; isto deve-se ao facto de aqueles que realizam a eliminação de corpos frequentemente os sobreporem", frisou o relatório.
A Associated Press (AP) obteve separadamente acesso às imagens da Vantor e viu os detalhes que correspondiam ao relatório do laboratório de Yale nos locais.
A AP também acedeu a fotos de satélite capturadas pela Planet Labs PBC na terça-feira, que mostravam o solo de cores diferentes em ambos os locais, o que geralmente indica que este foi escavado.
As RSF negaram ter matado alguém no hospital saudita, mas testemunhos de pessoas que fugiram de Al-Fashir, vídeos `online` e imagens de satélite oferecem uma visão apocalíptica do ataque.
Avaliar a escala do ataque a Al-Fashir é difícil. O alcance da violência geral na região permanece incerto pois as comunicações são deficientes no local.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou a "mecanismos de responsabilização" pela tomada de Al-Fashir "porque os crimes que estão a ser cometidos são tão horríveis".
Os paramilitares, que já controlam a região oeste do Darfur, combatem o exército regular pelo controlo da região central desse país africano, onde os combates se têm intensificado nos últimos dias - o Cordofão é o último estado entre o território já conquistado pelas RSF e a capital Cartum, a leste.
Na terça-feira, depois de ter analisado uma proposta de cessar-fogo redigida pelos Estados Unidos da América (EUA), as autoridades pró-exército afirmaram que a guerra vai continuar.
"Os preparativos para a batalha do povo sudanês continuam", declarou o ministro da Defesa, Hassan Kabroun.
O Conselho de Soberania, liderado pelo chefe do exército, o general Abdel Fattah al-Burhane, que está no poder desde o golpe de Estado de 2021, apresentou um plano para "facilitar o acesso à ajuda humanitária" e "restaurar a segurança e a paz em todas as regiões do Sudão", de acordo com o relatório ministerial.
O enviado especial dos EUA para a África, Massad Boulos, tentou nos últimos dias, em visita ao Cairo, capital do Egito, finalizar uma proposta de trégua humanitária formulada em meados de setembro sob a mediação de um grupo composto pelo Egito, a Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos, que são acusados de fornecer armas às RSF e de lucrarem com a guerra.
O grupo tem trabalhado num plano global de paz para o Sudão, mas as últimas propostas não tiveram seguimento.
Mais de 71 mil civis fugiram de Al-Fashir e cerca de 12 mil pessoas chegaram à cidade vizinha de Tawila, que fica a 70 quilómetros, de acordo com a ONU.
Mais de 40.000 pessoas foram mortas desde o início da guerra civil, em 15 de abril de 2023, de acordo com a ONU.
Os combates forçaram mais de 14 milhões de pessoas a deixar as suas casas e alimentaram surtos de doenças.