Impostos em falta "demitem" número dois do Governo britânico

A vice-primeira-ministra britânica, Angela Rayner, renunciou ao cargo dois dias depois de admitir não ter pago impostos suficientes na compra de um apartamento. A demissão está a ser vista como um duro golpe para o governo trabalhista de Keir Starmer, a braços com outras dificuldades.

Cristina Santos - RTP /
EPA

Tendo sido um dos alvos preferidos das vozes conservadoras do Reino Unido, a demissão de Angela Rayner não se trata da queda de um anjo.

No entanto, é ruidosa a queda de uma figura da ala esquerda do Partido Trabalhista com uma “trajetória extraordinária”, lembra a agência France-Press.

Angela Rayner terá poupado 40.000 libras (46.050 euros) em impostos na compra de um imóvel por ter retirado o seu nome da escritura de outro imóvel no seu distrito eleitoral. Como resultado, o novo apartamento passou a ser oficialmente a sua única propriedade e, por isso não pagou os impostos devidos.

Após vários dias de controvérsia, numa carta enviada ao líder do governo britânico, a ex-responsável anuncia a decisão de se demitir “dos meus cargos de vice-primeira-ministra e ministra da Habitação (...), bem como do cargo de vice-presidente do Partido Trabalhista”.

Esta figura da ala esquerda do Partido Trabalhista, de 45 anos, lamenta “profundamente a sua decisão de não ter procurado aconselhamento fiscal especializado adicional”. “Tendo em conta a minha posição como ministra da Habitação e a complexidade da minha situação familiar (…) assumo total responsabilidade por este erro”, relacionado com a compra de um apartamento.

Um relatório independente do consultor de ética do governo britãnico, ao qual ela havia relatado a sua situação, concluiu que ela “violou o código” de conduta ministerial.

Keir Starmer aceitou a demissão "profundamente entristecido", mas garantiu a Angela Rayner continua a ser "uma figura importante" no Partido Trabalhista.

Foi nomeada vice-primeira-ministra e ministra da Habitação em julho de 2024, após a vitória do Partido Trabalhista nas eleições legislativas. 

Ironicamente, é um caso relacionado com as habitações de que é proprietária que leva à sua queda.

Angela Rayner deixa o governo britânico numa altura em que era vista, por vezes, como possível substituta do primeiro-ministro Keir Starmer, devido à popularidade junto da base do partido.
“Tenho um doutoramento em vida real”
Angela Rayner cresceu no norte de Inglaterra numa habitação social. Muito jovem, cuidou da mãe, que era bipolar, analfabeta e não trabalhava. 

Para ter refeições completas, ela fazia de tudo para ser convidada para ir à casa dos amigos. 
Aos 16 anos tornou-se mãe solteira e anos mais tarde, teve mais dois filhos, um dos quais muito prematuro e quase cego.
Ela abandonou a escola na adolescência, descobriu o sindicalismo ao trabalhar com a assistência social, depois seguiu a política na hierarquia do Partido Trabalhista até se tornar a número dois do partido. 

O jornal The Guardian chegou a escrever que Angela Rayner “aterroriza os conservadores”. 

Ela afirmou que “eles não sabem como interagir (comigo) porque não costumam encontrar pessoas como eu”. “Tenho um doutoramento em vida real”, resumiu Rayner pouco antes das eleições legislativas de 2024.

Frequentemente alvo dos media conservadores, Angela Rayner encheu as manchetes no verão de 2024. Imagens dela a festejar em Ibiza “alimentaram” as garras também dos tabloides britânicos.



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