Imprensa diz que Chirac conhecia origem do "escândalo Clearstream"

O diário francês "Le Monde" publica hoje novas informações segundo as quais o presidente Jacques Chirac conhecia a origem do caso Clearstream e deu instruções sobre a investigação pelos serviços secretos.

Agência LUSA /

O vespertino publica fragmentos das notas manuscritas do general Philippe Rondot, encarregado da investigação do caso das falsas contas bancárias na sociedade luxemburguesa Clearstream, em cuja lista figuravam políticos, empresários e agentes secretos.

O escândalo tem agitado a política francesa porque, entre os nomes dos políticos, se conta o do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, provável candidato às eleições presidenciais francesas de 2007 e que pretende encerrar este caso para apurar quem quis prejudicar a sua imagem.

A imprensa apontou o dedo a Chirac e ao primeiro-ministro, Dominique de Villepin, rivais políticos de Sarkozy, que criticaram as "calúnias" e "boatos" que, em seu entender, rodeiam este caso.

Le Monde publica hoje notas manuscritas do general Rondot que estão na posse dos juízes de instrução do caso, que interrogarão o militar na próxima semana.

O general não destruiu essas notas, - apesar de em algumas delas manifestar essa intenção -, que ganham agora uma importância acrescida por referirem que tanto Chirac como Villepin estavam a par do caso Clearstream desde o início.

O caso era também do conhecimento da ministra da Defesa, Michelle Alliot-Marie, chefe directa de Rondot, que, apesar disso, decidiu "não se envolver" e o autorizou a tratar do assunto directamente com Villepin, que ao longo de todo o processo ocupou as pastas dos Negócios Estrangeiros e do Interior.

Os documentos do general, especialista dos serviços secretos, apontam o empresário Jean-Louis Gergorin como o informador inicial acerca das contas bancárias falsas e mencionam reuniões com altos funcionários de diversas instituições do governo.

Gergorin, que a imprensa aponta sem margem para dúvidas como o informador anónimo que pôs em marcha o caso, demitiu-se quarta-feira da vice-presidência da empresa aeroespacial e de defesa EADS, com o objectivo de se poder defender melhor das acusações.

Nas notas do general Rondot há várias alusões à necessidade de "proteger" a imagem de Chirac neste caso e inclui-se um pedido de cautela da parte de Villepin, uma vez que, a descobrir-se o seu envolvimento ou o do presidente da República, dizem os manuscritos, todos "cairiam".

O semanário Le Point, também muito activo na investigação deste caso, publica hoje uma entrevista ao jornalista Stephane Denis, que afirma que, por indicação de Rondot, falou duas vezes com Sarkozy e lhe disse que era alvo de uma investigação, o que o actual ministro do Interior desmentiu.

Sarkozy garante que os outros membros do governo sempre lhe esconderam que o seu nome figurava numa lista de falsas contas bancárias, mas o jornalista Denis, próximo de Rondot, refere que o avisou por duas vezes e chegou mesmo a entregar-lhe um relatório elaborado pelo general.


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