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Índia. Operava ilegalmente a fábrica onde fuga de gás matou 12 pessoas
Erro humano e negligência terão estado na origem da fuga de gás da fábrica LG Polymers na Índia que, na passada quinta-feira, matou pelo menos 12 pessoas e deixou algumas centenas em estado grave. Dias depois do acidente, as autoridades revelam que a multinacional sul-coreana estaria a funcionar ilegalmente no Estado indiano de Andhra Pradesh, sem autorização ambiental válida.
Na semana passada, uma fuga de gás numa fábrica do Estado de Andhra Pradesh, no sul da Índia, matou 12 e afetou quase mil outras pessoas, a maior parte destas apresentando dificuldades respiratórias.
A fuga de uma substância química - estireno sintético - ocorreu na altura em que os operários se preparavam para colocar em funcionamento a unidade fabril que esteve fechada devido às medidas de contenção da pandemia da Covid-19.
Inicialmente foi detetado um incêndio que acabou por ser extinto mas, mais tarde, ocorreu a fuga do gás que afetou toda a zona da fábrica, e zonas adjacentes, situada na costa ocidental da União Indiana, provocando o pânico entre os habitantes.
Inicialmente foi detetado um incêndio que acabou por ser extinto mas, mais tarde, ocorreu a fuga do gás que afetou toda a zona da fábrica, e zonas adjacentes, situada na costa ocidental da União Indiana, provocando o pânico entre os habitantes.
Num relatório divulgado esta segunda-feira pelas autoridades forenses indianas, a negligência e um erro humano são apontados como causas prováveis para o acidente. Segundo os primeiros resultados dos especialistas, houve negligência por não terem sido accionados os inibidores de autopolimerização do estireno armazenado e por não se ter garantido que a temperatura no interior das instalações se mantinha abaixo dos 20º C, no período em que a fábrica esteve encerrada devido à Covid-19.
O Tribunal Ambiental Nacional aplicou, entretanto, uma multa provisória de 50 milhões de rupias à LG Polymers India, acusando a empresa por "danos à vida, à saúde pública e ao meio ambiente".
"A fuga de gás é perigosa numa escala que afeta gravemente a saúde pública e o meio ambiente, colocando a empresa envolvida numa indústria perigosa ou potencialmente perigosa sob a alçada do princípio da 'Estrita Responsabilidade'", lê-se num comunicado do tribunal.
O facto é que as investigações concluíram que, durante a suspensão de atividade, a manutenção do estireno não foi garantida, assim como a segurança das instalações e dos trabalhadores.
Fábrica estaria em funções ilegalmente
A fábrica onde ocorreu a fuga de gás, pertencente à empresa sul-coreana LG Chem Ltd, estava a funcionar ilegalmente, pelo menos até meados do ano passado, avança o Guardian.
Em maio de 2019, num documento dirigido a autoridades governamentais, a LG Polymers pedia autorização para expandir as operações da fábrica na Índia e admitia que continuava a operar mas sem uma autorização ambiental obrigatória do Governo indiano.
"A esta data, a nossa indústria não possui uma autorização ambiental válida que comprove a quantidade produzida, emitida pela autoridade competente, para operações contínuas", assumiu a empresa no documento.
A LG Polymers informou, neste documento, o governo central e estadual de que não cumpria os requisitos ambientais legalmente obrigatórios. Até esta data, os trabalhos nesta fábrica estavam a decorrer apenas com o consentimento do Conselho de Controlo de Poluição de Andhra Pradesh - que aprovou a expansão das operações industriais da LG Polymers.
Dias depois do acidente com a fuga de gás, a questão da legalidade da empresa para operar neste Estado indiano volta a surgir, uma vez que a empresa retirou o pedido para a aprovação ambiental em novembro de 2019. De acordo com o jornal britânico, não há dados sobre se o pedido foi aprovado ou não.
"Uma indústria operar sem autorização ambiental é crime: o consentimento do Conselho de Poluição não é uma base sobre a qual se possam basear", esclareceu Ritwick Dutta, advogado ambiental em Déli.
Segundo os mesmos documentos, já em dezembro de 2017, a empresa sediada na Coreia dos Sul solicitou ao governo indiano a aprovação ambiental obrigatória.
A fábrica estava em funcionamento desde 2001, mas não se sabe ao certo se a empresa já teria solicitado a permissão legal antes.
A fábrica estava em funcionamento desde 2001, mas não se sabe ao certo se a empresa já teria solicitado a permissão legal antes.
Vários ambientalistas têm, entretanto, criticado a falta de fiscalização e responsabilização pelas leis ambientais, acrescentando que não é novidade que grandes indústrias, como a de poliestireno, funcionem sem autorização legal.
O ex-secretário de Estado das Finanças e da Energia do Governo, EAS Sarma, apresentou na sexta-feira uma petição legal contra o Ministério do Ambiente, o governo do estado de Andhra Pradesh e a empresa LG Polymers, exigindo que sejam responsabilizados pelo incumprimento da lei ambiental e que paguem indenização por contaminar a área e vitimar pessoas.
A verdade é que este não é o primeiro acidente do género. O maior incidente fabril na União Indiana ocorreu na central da Bophal, quando uma fuga de gás metano atingiu a zona matando 2.850 pessoas e ferindo 20 mil habitantes em 1984.