Há nas ruas uma Índia diferente daquela que recebeu Donald Trump em visita de Estado, uma Índia a fermentar há meses com uma convulsão em torno de uma lei que a comunidade muçulmana considera discriminatória para esta gigantesca minoria religiosa de 200 milhões de fiéis. Dezassete mortos e 150 feridos apenas durante essas 36 horas em que o presidente norte-americano pisou solo indiano.
É precisamente de religião que trata esta nova lei de Modi, um hindu. Desde a independência do país, há mais ou menos sete décadas, que a questão muçulmana nunca ficou resolvida. A divisão de que resultou o Paquistão, o facto de serem vizinhos com armamento nuclear são sinais suficientemente ilustrativos.
Dezenas de pessoas morreram nos protestos, apesar da proibição do governo de concentrações com mais de 20 pessoas. Apenas desde esta segunda-feira, o número de vítimas mortais ascende já a 17 pessoas, com os feridos conduzidos aos hospitais a atingiram a marca de centena e meia, um terço dos quais atingidos por armas de fogo.
Há cerca de um ano, Narendra Modi era visto como um líder incontestado, o mais popular em décadas, alavancado numa vitória esmagadora do seu partido nacionalista hindu (Bharatiya Janata). Esse cenário alterou-se com a nova lei da nacionalidade.
Enquanto a ideia transmitida pelas televisões é a de um líder tranquilo – com o estádio a vangloriar Trump, um visitante bem-vindo, o povo atento ao anúncio de uma parceria reforçada entre os dois gigantes, uma cooperação profícua para todos –, as ruas da capital Nova Deli agitam-se como não se via há muito.
A polícia “não está a conseguir controlar a situação e promover um clima de confiança”, admitia já hoje Arvind Kejriwal, atual sétimo ministro-chefe e uma das mais altas autoridades políticas da capital. Chegou a lançar o apelo para que o exército seja chamado a tomar conta da situação em nova Deli e que um recolher obrigatório entre em efeito em certas zonas.
De acordo com testemunhas, os tumultos que percorrem a capital não têm poupado os jornalistas que têm sido apanhados entre grupos muçulmanos e grupos hindus.