Indígenas acusam Governo do Equador de ordenar congelamento de contas bancárias

A Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) denunciou o bloqueio por parte de bancos locais de contas de alguns dos líderes da maior organização social do país, alegadamente por "ordens estatais".

Lusa /

A denúncia surgiu na sexta-feira, um dia depois do presidente da CONAIE, Marlon Vargas, ter anunciado o início de uma "greve nacional por tempo indeterminado" contra a decisão do Governo de eliminar o subsídio ao gasóleo.

Num comunicado divulgado nas redes sociais, a confederação interpretou a alegada ação do Executivo como um ato de intimidação e pressão contra quem exerce o direito constitucional de protesto.

A CONAIE considerou ainda o bloqueio como parte de uma estratégia para criminalizar a greve e enfraquecer as reivindicações dos cidadãos.

"Rejeitamos qualquer tentativa de intimidação e reafirmamos o nosso compromisso com a defesa da vida, do território e dos direitos coletivos", sublinhou a organização, em comunicado.

O Presidente do Equador, Daniel Noboa, ameaçou acusar de terrorismo quem pressione os agricultores a protestar contra o aumento do preço do gasóleo.

O Movimento Indígena e Camponês de Cotopaxi, uma das organizações indígenas mais fortes do país andino, apelou na quinta-feira à tomada de Latacunga (centro), capital da província de Cotopaxi, para onde Noboa transferiu temporariamente a sede do Governo esta semana.

O movimento indígena já tinha conseguido impedir as duas tentativas anteriores de eliminar os subsídios aos combustíveis, em 2019 e 2022, liderando protestos maciços por todo o país que obrigaram os então presidentes Lenín Moreno (2017-2021) e Guillermo Lasso (2021-2023) a reverter as decisões.

A eliminação do subsídio, anunciada na sexta-feira, gerou tensão social no país e levou a manifestações de rua e à recém-convocada greve nacional indígena, apesar do estado de emergência declarado na terça-feira por Noboa nas províncias onde podem ocorrer protestos.

Na quinta-feira, o Presidente alargou à província andina de Chimborazo o estado de emergência que já contemplava outras sete províncias e impôs um recolher obrigatório noturno em cinco das 24 regiões do Equador.

O governo espera libertar anualmente 1,1 mil milhões de dólares (934 milhões de euros) para projetos de proteção social e incentivos para pequenas e médias empresas com o fim do subsídio, que elevou o preço do gasóleo em 56%.

A decisão faz parte do pacote de cortes promovido por Noboa para reduzir o défice orçamental e para cumprir as metas acordadas num empréstimo do Fundo Monetário Internacional.

Na quarta-feira, Noboa propôs, para novembro, um referendo sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Constituição que reforçe a repressão do crime organizado.

O Equador tornou-se o ponto de partida de 70% da cocaína mundial, segundo dados oficiais.

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