Instituições do Brasil saem reforçadas com condenação de Bolsonaro
O vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Paulo Jackson saudou hoje a "normalização institucional" que representou a condenação de Bolsonaro, mas alertou que o país permanece muito polarizado.
Falando hoje em Lisboa, no final do XVI Encontro de Bispos dos Países Lusófonos, o também arcebispo de Olinda e Recife disse que acompanhou as últimas votações, já de madrugada em Portugal, do Supremo Tribunal Federal, que condenou o ex-Presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.
"A impressão que eu tenho é que as instituições saem bastante reforçadas desse processo", porque a "tentativa de golpe foi frustrada, houve atentados contra não somente o Supremo Tribunal Federal, mas também contra o poder executivo e contra o poder legislativo" e a justiça funcionou, explicou.
"Os que foram identificados foram julgados, com total acesso ao contraditório e a ampla defesa" e Bolsonaro foi condenado.
"Mesmo tendo havido essa crise institucional, o país e as instituições saem reforçadas", disse, recordando que um caso semelhante não teve o mesmo desfecho nos Estados Unidos, que "se arvora como a maior democracia do mundo".
Ali "aconteceu praticamente a mesma coisa e não houve julgamento nenhum, até agora tudo passou em brancas nuvens", salientou Paulo Jackson.
Por isso, "é importante que as instituições sejam reforçadas, o Estado democrático de Direito seja defendido e isso é o que a Igreja Católica tem feito no Brasil", uma luta semelhante ao que sucede noutros países lusófonos, acrescentou.
O arcebispo criticou as "taxações injustas e não explicadas" impostas às exportações brasileiras para os EUA, mas que também são um sinal de um mundo extremado.
"A taxação de produtos brasileiros como retaliação ao funcionamento democrático das instituições não é razoável", mas no Brasil "ainda há um processo muito grande de polarizações" que fraturam a sociedade, declarou.
"[A Igreja Católica e] nós, bispos, em cada uma das nossas igrejas particulares, temos feito um trabalho gigantesco para tentar mitigar ou minimizar as consequências desses processos de polarização existentes", salientou Jackson, recordando que o problema não é novo.
"Esse processo de polarização é antigo e infelizmente não somente contaminou a sociedade, mas também entrou nas nossas fileiras, nas nossas comunidades e nas nossas igrejas", alertou.
O Brasil precisa hoje de um processo de "reconciliação e de pacificação, respeitando as instituições, respeitando a legislação, respeitando o Estado democrático de direito", que inclua também uma reflexão", ao nível espiritual, que deve envolver profundamente as (...) comunidades" eclesiais, defendeu ainda o arcebispo de Olinda.