Invasão indonésia em Timor-Leste começou muito antes da entrada em Díli

por Eduardo Lobão, Agência LUSA

Quando os primeiros militares indonésios entraram a 7 de Dezembro de 1975 em Díli, há já cerca de dois meses que as rudimentares forças militares timorenses tentavam impedir o avanço dos invasores, travando encarniçados combates junto à fronteira.

O tempo corria contra os vencedores da guerra civil, a Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN) - que em Agosto de 1975 lograra anular o "golpe de mão" tentado pela União Democrática Timorense (UDT) - e que, face aos sinais bélicos que a Indonésia enviava, com a cumplicidade das chancelarias ocidentais, tinha proclamado, escassos nove dias antes, a independência da República Democrática de Timor-Leste.

Agora, 30 anos depois, os documentos revelados em Washington confirmam o que se suspeitava: a invasão indonésia não seria contestada.

A ocupação indonésia, que se prolongou por 24 anos e iniciada com a invasão de há 30 anos, foi mais um episódio da "Guerra-fria", com o trágico saldo de centenas de milhares de mortos timorenses.

Timor-Leste foi naquele tempo apenas uma peça do quebra- cabeças criado pela rivalidade entre as superpotências Estados Unidos e a então União Soviética e pelo pós-guerra do Vietname.

A invasão indonésia ocorreu em 1975 quase como uma inevitabilidade, face ao precipitar dos acontecimentos iniciados com a queda da ditadura em Portugal, a 25 de Abril de 1974.

A braços com a urgência de negociação com os movimentos de libertação nas ainda colónias africanas, a que se juntava a impossibilidade do envio de novos contingentes militares, Portugal manteve com Timor o mesmo comportamento do passado: a distância ajudava a dissolver as responsabilidades.

O cenário foi completado com a cumplicidade das chancelarias ocidentais, exposto no passado dia 29 de Novembro com a divulgação em Washington de 39 documentos do Arquivo de Segurança Nacional (National Security Archive), que descrevem os contactos diplomáticos em redor de Timor-Leste após a queda da ditadura em Portugal que levou à descolonização.

A resistência timorense à invasão foi feroz, mas a disparidade dos meios em confronto cedo ditou o resultado final, com muitos dirigentes da FRETILIN a serem mortos em combate, outros a refugiarem- se nas montanhas, construindo ao longo de 24 anos uma teia de resistência que se manteve até 1999, quando finalmente a Indonésia aceitou retirar-se, passando para as Nações Unidas a administração do território.

Xanana Gusmão, líder da resistência à ocupação e actual presidente da República, é o paladino do pragmatismo das relações externas de Timor-Leste, em que a Indonésia joga um papel fundamental.

Curvando-se perante as vítimas, Xanana considera que "a melhor justiça, a verdadeira justiça" para com as vítimas "foi o reconhecimento, pela comunidade internacional, do direito do povo de Timor-Leste à autodeterminação e independência".

Os registos históricos não têm correspondência no presente, com Timor-Leste a manter com o antigo ocupante uma relação pragmática evidenciada pelo peso deste na sua economia.

O ocupante do passado é actualmente o principal abastecedor das importações timorenses, com 41 por cento, e é também o segundo mercado das ainda incipientes exportações de Timor-Leste, com 13 por cento do total.


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