Investigação. Sniper israelita atirou deliberadamente para matar jornalista palestiniana

por RTP
"Houve mais de 16 tiros disparados contra Shireen e os colegas que estavam com ela" Reuters

A 11 de Maio deste ano, a jornalista palestiniana Shiren abu Akleh foi mortalmente atingida na cabeça pelo disparo de um militar israelita quando fazia reportagem na cidade de Jenin, na Cisjordânia. Depois de vários inquéritos terem provado que o disparo foi feito por um sniper das IDF (Israel Defense Forces), uma outra investigação levada a cabo por uma organização sediada em Londres vem agora determinar que a intenção dos israelitas era matar a jornalista da Al Jazeera.

Quatro meses depois, a investigação cujos resultados foram hoje tornados conhecidos foi levada a cabo pela Forensic Architecture, grupo sediado em Goldsmiths, Universidade de Londres, que investiga casos de violência de Estado e violações dos Direitos Humanos, e pela Al-Haq, organização palestiniana de Direitos Humanos com sede na cidade de Ramallah, na Cisjordânia.
 
De acordo com a análise da equipa conjunta da Forensic Architecture e da Al-Haq, Shiren Abu Akleh foi deliberadamente visada pelos tiros do sniper israelita que integrava uma patrulha do IDF em Jenin, a terceira cidade palestiniana. 

Depois de Israel ter admitido que o disparo foi realizado por um dos seus militares – durante meses as autoridades israelitas sustentaram a teses de que havia a possibilidade de ter sido um militante palestiniano o autor desse disparo –, a investigação conjunta diz ter reunido provas irrefutáveis de que os disparos partiram não só de uma arma israelita como foram feitos deliberadamente com vista a matar a jornalista.

A conclusão das duas organizações de defesa dos Direitos Humanos contraria assim uma terceira tese dos israelitas que, depois de admitirem a autoria do disparo que atingiu Abu Akleh na cabeça a centenas de metros do ponto onde se encontrava a jornalista, o atribuíam a um erro.

Depois de examinar o ângulo do disparo, a investigação determinou que o atirador israelita estava ciente de que havia jornalistas na área e descartou igualmente uma das teses iniciais de Israel de que havia um cenário de confronto entre o IDF e resistentes palestinianos em Jenin na altura do ataque.

Refere ainda a investigação que o sniper israelita disparou durante dois minutos, alvejando deliberadamente também todos aqueles que se aproximaram de Abu Akleh para lhe prestar um primeiro auxílio.

O atirador terá disparado três vezes: seis balas da primeira vez, depois oito e, por fim, mais sete. Uma destas balas matou Shiren Abu Akleh, atingindo-a entre o colete à prova de balas e o capacete. Dois minutos depois, o atirador disparou novamente por três vezes para impedir os esforços dos colegas que tentavam resgatar a jornalista.

Israel rejeita investigação criminal

Várias investigações conduzidas pelas Nações Unidas, grupos israelitas e palestinianos de Direitos Humanos e vários meios de comunicação concluíram que Abu Akleh foi morta por um soldado israelita. No entanto, já este mês, admitindo a “forte possibilidade” de o IDF ter matado Abu Akleh, Israel fez saber que não será aberta qualquer investigação criminal sobre o caso.

Entretanto, uma queixa já entrou no Tribunal Penal Internacional pela mão da família da jornalista, que exige que seja feita justiça e que o responsável seja punido pelo homicídio.

“Como dissemos anteriormente, e como outros relatos disseram anteriormente, houve mais de 16 tiros disparados contra Shireen e os colegas que estavam com ela. Chegaram até a visar a pessoa que estava a tentar puxá-la para um local seguro depois de ter sido abatida”, lamentou Anton, irmão de Shiren.

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