Investigadora da HRW receia reforço da ditadura da Coreia do Norte
A investigadora espanhola Lina Yoon, que se dedica a documentar as violações aos direitos humanos na Coreia do Norte, considerou preocupante a forma como o regime está a aproveitar a pandemia para reforçar o controlo através do isolamento.
"A Coreia do Norte foi desde sempre um buraco negro, mas agora está mais escuro. Nunca esteve tão escuro nos últimos 20 anos", disse Yoon à agência Efe, referindo-se ao encerramento do país, que dificulta informações sobre a situação alimentar e os abusos do regime.
Perante a situação, a investigadora da organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) decidiu revelar a sua identidade.
Yoon pretende aproveitar a ocasião porque se aguarda a apresentação de um relatório sobre a Coreia do Norte na Comissão de Direitos Humanos da ONU destinado à promulgação de uma nova resolução sobre o regime.
A investigadora, 41 anos, natural de Oviedo, manteve oculta a sua identidade desde que começou a trabalhar para a HRW em 2014, tanto nos vários artigos publicados até ao momento, como nos múltiplos relatórios que realizou, nomeadamente sobre abusos sexuais de que são vítimas as norte-coreanas e sobre o brutal regime de prisão preventiva em vigor no país.
"Tenho mantido este `perfil` (não público) principalmente para proteger as pessoas com quem tenho estado em contacto", explicou.
Yoon tem falado com desertores, contrabandistas norte-coreanos que entram e saem do país, diplomatas, trabalhadores humanitários e, na medida do possível, com todas as pessoas com ligações à ditadura.
Os contactos que mantinha alteraram-se, assinala Yoon, com o endurecimento das sanções, que reforçaram a segurança da República Popular da China na fronteira, assim como com as medidas de confinamento contra a pandemia de covid-19, que acabaram por provocar o encerramento quase total do país.
No ano 2020, Pyongyang aprovou normas que permitem ao Exército disparar contra todos os que se aproximem da fronteira, tendo sido o ano em que se registou o menor número de desertores.
As medidas sanitárias "extremas", diz Yoon, fizeram com que no último trimestre as importações da República Popular da China que fornece à Coreia do Norte cerca de 90% dos produtos de que necessita, fossem quase inexistentes.
"Desde outubro que não entrou praticamente nada, nem comida nem medicamentos", afirma a investigadora, acrescentando que "está muito preocupada" com a segurança alimentar dos cidadãos do país até porque uma série de tufões destruiu as colheitas agrícolas do verão passado.
O regime recusa-se a receber ajuda humanitária com "receio" de propagação do SARS-CoV-2.
O encerramento das fronteiras deixou praticamente "desertas" as embaixadas, delegações de organizações não-governamentais e organismos das Nações Unidas, cujos elementos não foram substituídos.
Yoon referiu-se também à nova lei aprovada no final de 2020 que restringe a informação do exterior.
Habitualmente, as autoridades norte-coreanas fazem rusgas para requisitar DVDs, cartões SD ou memórias externas multimédia para computadores assim como telefones chineses que permitem realizar ligações para fora do país.
"Esta nova lei persegue e castiga de forma mais específica aqueles que têm dispositivos eletrónicos e que não se encontrem registados pelo Governo", acrescenta a investigadora.
"As medidas acionadas por Kim Jong-un afetaram a distribuição da informação, a distribuição de comida assim como qualquer tipo de mercadorias, com o encerramento de fronteiras. Foram precisamente as áreas que o regime perdeu nos anos 1990", com o colapso da economia e o agravamento da situação alimentar.
Em relação à nova resolução da ONU, Yoon afirma que a HRW pede "preocupação contínua e persistente sobre a questão da responsabilidade penal" dos membros do regime que cometem abusos e pede para que continue a ser "documentada a situação de direitos humanos para que se possam tomar novas medidas".
Yoon pede também ao Conselho de Direitos Humanos da ONU para dar maior acesso a especialistas policiais para que "sigam o dinheiro" ligado a produtos que a Coreia do Norte exporta - principalmente para China - como o carvão e perucas que são resultado de trabalhos forçados.