IRA, 30 anos de luta armada chegam ao fim
O Exército Republicano Irlandês (IRA) levou a cabo durante mais de 30 anos uma luta armada para conseguir a retirada britânica da Irlanda do Norte e a reunificação da ilha da Irlanda.
O IRA, também conhecido como o "Provisório", demarcou-se do [IRA] Oficial em 1969, ano da erupção da violência na Irlanda do Norte entre a maioria protestante e a minoria católica, que saíra à rua para exigir pacificamente igualdade de direitos.
A resposta violenta [dos protestantes] contra o incipiente movimento pelos direitos civis deixou a comunidade católica exposta aos ataques dos protestantes, defensores de uma Irlanda do Norte inserida no Reino Unido e dispostos a defender a sua hegemonia política, social e económica.
Naquele ano (1969), o IRA Oficial demonstrou ser uma mera memória histórica, um exército incapaz de defender a sua própria gente e de alcançar a unificação da ilha da Irlanda.
O IRA Provisório ocupou o seu lugar e iniciou uma campanha de terror ou de "libertação nacional e reunificação", segundo o seu ponto de vista, que causou até hoje cerca de 3.000 mortos e mais de 33.000 feridos.
Durante os primeiros anos da década de 1970, os "provisórios" cresceram à sombra da sua política do terror, da sua propaganda e alimentados pelos próprios erros do Governos da Irlanda do Norte, num primeiro momento, e britânico, posteriormente.
Em 1971, incapaz de erradicar a violência na província, o Governo do Ulster introduziu a "detenção sem culpa formada".
Um ano mais tarde, perto de 900 suspeitos terroristas republicanos, muitos deles inocentes, encontravam-se detidos em prisões da província.
Esta medida tomada pelo Governo e a morte de 13 civis por disparos de soldados britânicos durante uma marcha pelos direitos civis em Derry, a 30 de Janeiro de 1972 - o chamado "Domingo Sangrento" - encheram de jovens os "centros de recrutamento" do novo IRA.
No ano de 1972, o mais sangrento até à data, Londres tomou as rédeas do Governo da Irlanda do Norte ao suspender o Parlamento de Belfast, dominado desde 1921 por protestantes, que viram nesse acto uma vitória do IRA e o início do fim da sua união com a coroa britânica.
Nesse clima tenso, os republicanos, surpreendentemente, declararam um cessar-fogo e os seus representantes - entre eles o jovem Gerry Adams - dirigiram-se a Londres para entabular em segredo com o Executivo britânico conversações de paz.
Estas conversações acabaram por fracassar, dadas as exigências do IRA - que reivindicava a retirada total britânica do Ulster -, mas deixaram a impressão, entre os "mais políticos" da delegação, de que a luta armada não seria suficiente para alcançar a unificação da Irlanda.
Após a ruptura destas negociações, o IRA declarou o fim da sua trégua com a única linguagem que então utilizava: a 21 de Julho de 1972, fez detonar 20 bombas no centro de Belfast, matando nove civis e ferindo 130.
Até 1975, o IRA não anunciou qualquer outro cessar-fogo, convencido de que a sua campanha de atentados ia obrigar Londres a negociar e consciente de que a actuação das forças de segurança minava a sua capacidade de matar.
A médio prazo, o IRA compreendeu que a sua estratégia passava pela reorganização das suas unidades paramilitares, muito visíveis nas zonas nacionalistas católicas, em células clandestinas e secretas.
Para contrariar essa situação, o IRA decidiu desenvolver o aparelho propagandístico do seu "braço político", o partido Sinn Fein, dando-lhe liberdade para obter o apoio da comunidade católica à causa republicana.
As greves de fome do princípio dos anos 1980 colocaram o Sinn Fein e o IRA nas páginas da imprensa internacional, quando um dos prisioneiros, Bobby Sands, morreu de inanição pouco depois de assegurar um assento no Parlamento britânico.
Apesar de as exigências dos grevistas não terem "amolecido" a então primeira-ministra Margaret Thatcher, estas mortes convenceram o IRA da necessidade de complementar a luta armada com a acção política. Assim nasceu a dupla "estratégia das armas e da urna".
Após as breves tréguas de 1990 a 1994, o movimento republicano seguiu essa filosofia até ao seu último cessar-fogo, em vigor desde 1997, que serviu para incluir o Sinn Fein nas negociações multipartidárias que precederam a assinatura do histórico acordo de paz de Sexta-Feira Santa (1998).
Depois do anúncio de hoje, fica por comprovar se o IRA abandona os seus velhos métodos e as suas actividades violentas e adopta exclusivamente o caminho democrático das urnas.
SMS.
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