Teerão reagiu com ironia ao corte de relações diplomáticas por parte de Riade, este domingo. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão afirma que a Arábia Saudita usou o incidente na sua embaixada como um pretexto para aumentar tensões.
Riade encerrou a sua missão diplomática em Teerão após um ataque, este domingo, contra a sua embaixada, reprimido pelas forças de segurança iranianas.
“O Irão agiu de acordo com as suas obrigações diplomáticas para controlar a grande onda de emoção popular que se levantou”, após a execução na Arábia Saudita de um popular clérigo xiita, no sábado passado dia 2 de janeiro, afirmou o porta-voz do Ministério, Hossein Jaberi Ansari.
“A Arábia Saudita beneficia e prospera com o prolongar de tensões”, acrescentou Ansari durante uma entrevista televisionada. “Usou este incidente como desculpa para aumentar as tensões”, considerou.
A execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr, que apelava a manifestações pacíficas pró-democracia no reino da Arábia Saudita, onde era muito popular, provocou protestos um pouco por todo o mundo junto às embaixadas sauditas.
"Vingança divina"
Em Teerão, o edifício da embaixada foi atacado e invadido na madrugada deste domingo, por uma multidão que incendiou e destruiu mobiliário antes da intervenção da polícia. Nenhum diplomata saudita estava no local.
O Governo iraniano condenou tanto o ataque como a execução de Nimr al-Nimr. O Ayatolah Ali Khamenei afirmou mesmo que a Arábia Saudita receberá uma "vingança divina" pela execução do clérigo xiita.
A resposta imediata de Riade foi ordenar a saída de todos o seu corpo diplomático do Irão, dando 48 horas aos diplomatas iranianos para abandonarem o reino saudita.
O clérigo xiita foi acusado por Riade de apelar ao terrorismo.
União Europeia avisa
O grupo armado sírio Jaich al Islam aplaudiu por seu lado o corte de relações diplomáticas, afirmando que o apoio de Teerão às milícias xiitas que operam em território sírio estava a desestabilizar o Médio Oriente e a aumentar as tensões sectárias na Síria.
O grupo sunita islamita é o mais influente na área de Damasco e faz parte de um bloco de oposição síria apoiado pela Arábia Saudita, cujo fito oficial é conseguir negociações de paz entre os rebeldes e o Governo sírio do Presidente Bashar al-Assad.
Teerão tem ajudado Assad a combater a rebelião sunita, com homens e armamento e o apoio às milícias xiitas libanesas do Hezbollah. Para o Jaich al Islam o Irão tem estado a "ameaçar a segurança da região por exportar milícias criminosas que espalham a destruição e estão plenas de violência sectária".
A responsável pela política externa da União Europeia avisou domingo o ministério iraniano dos Negócios Estrangeiros que o renovar das tensões entre o Irão xiita e a monarquia sunita da Arábia Saudita poderia deitar por terra as conversações de paz sírias.
O conflito na Síria iniciou-se em março de 2011 com a revolta da população sunita que exigia a demissão de Assad. A guerra, que envolve agora no terreno as maiores potências da região, provocou já 250.000 mortos, milhões de deslocados e de refugiados e reforçou o poder do grupo extremista Estado Islâmico, conhecido também pelo acrónimo árabe Daesh.