Irão quer ver Estados Unidos fora da região e Iraque ameaça Washington

por Joana Raposo Santos - RTP
"O importante é acabar com a presença degradante da América na região", disse o líder supremo iraniano Foto: EPA

O líder supremo do Irão alertou esta quarta-feira os Estados Unidos que devem retirar-se da região e considerou que o lançamento de mísseis, na última madrugada, contra bases aéreas que albergam tropas norte-americanas no Iraque, foi uma "bofetada" na cara dos EUA. No Iraque, um grupo paramilitar já prometeu retaliar contra Washington, uma vez que o ataque ordenado por Donald Trump matou, para além do general iraniano Qassem Soleimani, o comandante iraquiano Abu Mahdi al-Muhandis.

“Ações militares como esta não são o suficiente”, afirmou o ayatollah Ali Khamenei, referindo-se ao lançamento de mais de uma dúzia de mísseis por parte do Irão contra duas bases militares iraquianas utilizadas pelo exército norte-americano. “Esta região não vai aceitar a presença da América”.

“O que é importante é acabar com a presença degradante da América na região”, acrescentou o líder supremo iraniano durante um discurso transmitido na televisão estatal, no qual descartou também qualquer hipótese de retomar as negociações com os EUA sobre um acordo nuclear. “Conversas e negociações são o começo da intervenção norte-americana”, frisou.
Já o Presidente do Irão, Hassan Rouhani, disse esta quarta-feira aos Estados Unidos que Washington pode ter “cortado o braço” do general iraniano Qassem Soleimani, mas que a “perna” dos EUA seria cortada em resposta.

O lançamento de mísseis pelo Irão na última madrugada serviu de retaliação contra os Estados Unidos depois de Donald Trump ter ordenado, na passada semana, um ataque aéreo em Bagdade que resultou na morte de Soleimani, general considerado um herói no seu país e cujas cerimónias fúnebres moveram milhares de pessoas.
Javad Zarif, ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, também reagiu ao lançamento de mísseis pelo Irão esta quarta-feira. “A nossa ação foi em legítima defesa e os Estados Unidos devem evitar avaliá-la com base em ilusões”.

No Twitter, Zarif descreveu a medida como “adequada” e baseou-se num artigo da ONU para justificar a legítima defesa. “Não pretendemos uma escalada do conflito nem guerra, mas iremos defender-nos contra qualquer agressão”, escreveu.


Iraque promete retaliação contra EUA
Qais al-Khazali, comandante da milícia iraquiana apoiada pelo Irão, apoiou o lançamento de mísseis iranianos e disse que agora é a vez de o Iraque retaliar contra os EUA. “A resposta inicial ao assassinato do comandante e mártir Soleimani já aconteceu. Agora é altura de [o Iraque] dar a sua resposta inicial ao assassinato de Muhandis”.

Abu Mahdi al-Muhandis, vice-comandante das milícias Kataib Hezbollah, também foi morto durante o ataque aéreo ordenado por Donald Trump.

“Como os iraquianos são corajosos e cuidadosos, a resposta não será inferior àquela dada pelo Irão. Esta é uma promessa”, declarou al-Khazali, que lidera o grupo paramilitar xiita Asaib Ahl al-Haq, considerado pelos EUA como uma organização terrorista.

O primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdul Mahdi, apelou, porém, a todas as partes envolvidas que sejam contidas e que respeitem o Iraque, uma vez que a atual crise traz a ameaça de uma “guerra devastadora”.

Abdul Mahdi disse ainda ter recebido uma “mensagem verbal” do Irão na qual foi informado de que esse país estaria prestes a levar a cabo uma retaliação contra os Estados Unidos pela morte de Soleimani.

Teerão terá dito ao primeiro-ministro do Iraque que apenas pretendia atingir localizações onde se encontrassem alvos norte-americanos mas não especificou quais seriam esses locais.
Netanyhahu lança aviso ao Irão
Horas antes do ataque levado a cabo pelo Irão, a Guarda Revolucionária iraniana alertou Washington de que uma retaliação norte-americana poderá resultar em novos ataques contra os Estados Unidos ou seus aliados, incluindo Israel.

“Advertimos todos os aliados dos americanos, que disponibilizaram as suas bases a este exército terrorista, que será atacado qualquer território que constitua um ponto de partida de atos agressivos contra o Irão”, declarou a força militar.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyhahu, já respondeu à ameaça. “Quem quer que tente atacar-nos sofrerá o mais forte dos golpes”, garantiu, acrescentando que Israel “apoia completamente” a decisão de Donald Trump e que este devia ser felicitado por agir com “rapidez e ousadia”.

O Presidente dos Estados Unidos já veio desvalorizar o lançamento de mísseis pelo Irão, declarando, no Twitter, que “está tudo bem”.


“Estamos a avaliar danos e eventuais vítimas. Até agora, tudo bem! Temos as forças militares mais poderosas e melhor equipadas do mundo, de longe!”, escreveu Trump.
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