Irão só ressuscita acordo nuclear com garantias dos Estados Unidos

Os Estados Unidos devem “dar garantias de que não abandonam” o acordo nuclear com o Irão e admitir a “culpa” pelas marcha-atrás da anterior administração norte-americana, exigiu esta segunda-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Teerão. Isto para que as negociações com o objetivo de retomar o entendimento de 2015 forem bem-sucedidas. Na mesma linha, a diplomacia iraniana deixa claro que as sanções impostas por Washington deve de forma verificável.

Carlos Santos Neves - RTP /
Um soldado iraniano fotografado durante uma manifestação, em Teerão, na passada quinta-feira, para assinalar os 42 anos desde a tomada da embaixada dos Estados Unidos naquele país Abedin Taherkenareh - EPA

“Os Estados Unidos deveriam mostrar que têm a capacidade e a vontade de dar garantias de que não abandonariam o acordo, se as conversações para reavivar o acordo forem bem-sucedidas”, afirmou um porta-voz do Ministério iraniano dos Negócios Estrangeiros.

Em declarações citadas pela agência Reuters, o porta-voz Saeed Khatibzadeh estabeleceu também a exigência de ver levantadas todas as sanções impostas ao regime dos ayatollahs, isto num processo que possa ser verificado.

Khatibzadeh vincou ainda que Washington deve “reconhecer a culpa pelo abandono do pacto”.

Esta posição é assumida a escassas semanas do retomar das conversações entre o Governo iraniano e as potências internacionais, tendo em vista ressuscitar a letra do acordo de 2015 – assinado sob os auspícios da Administração Obama e torpedeado pela mão da Presidência de Donald Trump.

O Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, clamou na passada quinta-feira que o seu país não deve transigir “de qualquer forma” na defesa de interesses nacionais.
No sábado, reunidos em Moscovo, os ministros dos Negócios estrangeiros do Irão, Hossein Amirabdollahian, e da Rússia, Serguei Lavrov, defenderam conjuntamente que o acordo relativo ao programa nuclear iraniano deve ser restaurado na sua formulação original.

Nos termos do acordo de 2015, assinado por iranianos e potências internacionais, Teerão retirou o pé do acelerador do respetivo programa de enriquecimento de urânio, em troca do levantamento de sanções impostas por Estados Unidos, Nações Unidas e União Europeia.

O reinício das conversações está previsto para o dia 29 de novembro.
O sinal amarelo francês
Na passada quinta-feira, o Ministério francês dos Negócios Estrangeiros quis deixar claro que o também o Irão enfrenta a ameaça de sanções renovadas, mesmo com o retomar das conversações à vista.

Recorde-se que as potências ocidentais deixaram cair, em setembro, planos para uma nova resolução condenatória do Irão, no quadro do conselho de governadores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Isto já depois de Teerão ter aceitado prolongar a monitorização de parte das suas atividades nucleares e ter convidado para conversações o diretor da AIEA, o general Rafael Grossi.

O passo atrás de Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Alemanha acabou, na prática, por evitar uma escalada com os iranianos, que acabaria por inviabilizar o retomar das conversações com o regime.

O facto é que as potências ocidentais têm vindo a demonstrar crescente impaciência perante o que consideram ser a falta de abertura do Irão a inspeções completas às infraestruturas nucleares.

“O Irão deve retomar o diálogo e a cooperação com a Agência [Internacional de Energia Atómico] sem demoras, de forma a fazer progressos em assuntos pendentes”, declarou a porta-voz do Ministério, Anne-Claire Legendre.

A mesma porta-voz deixou claro que pelo menos Paris mantém extrema preocupação com as denominadas “falhas” iranianas no cumprimento de compromissos e obrigações, incluindo aqueles que foram invocados em setembro.

“Juntamente com os nossos parceiros, permanecemos muito atentos para assegurar que o Irão respeite os seus compromissos e permanecemos em conversações quanto à resposta a dar, vincou.
Manobras militares

Entretanto, no domingo, as forças militares iranianas deram início a um exercício anual nas proximidades do Golfo.Perto de um quinto do petróleo que é consumido no planeta é transportado pelo Estreito de Ormuz.


Este exercício, disse o almirante Mahmoud Mousavi, porta-voz das manobras Zolfaqar-1400, visa “demonstrar o poder militar e a prontidão para enfrentar inimigos”.

As manobras militares iranianas cobrem uma area que se estende do leste do Estreito de Ormuz até posições a norte do Oceano Índico, além de parte do Mar Vermelho, segundo noticiou a televisão estatal do país.

c/ agências
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