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Israel e Emirados Árabes Unidos estabelecem relações diplomáticas

por RTP
Kevin Lamarque - Reuters

O Presidente dos Estados Unidos anunciou esta quinta-feira que Israel e os Emirados Árabes Unidos chegaram a acordo para estabelecer relações diplomáticas bilaterais. O entendimento é descrito como parte de um acordo alargado para impedir a anexação israelita de territórios palestinianos na Cisjordânia.

O anúncio faz dos Emirados Árabes Unidos o primeiro Estado do Golfo Árabe a estabelecer relações diplomáticas com Israel e a terceira nação árabe a fazê-lo.

O Presidente norte-americano partilhou na rede social Twitter uma declaração dos dois países, reconhecendo o acordo.


"Agora que o gelo foi quebrado, espero que mais países árabes e muçulmanos sigam os Emirados Árabes Unidos", escreveu.

Posteriormente, na Sala Oval, Donald Trump afirmou aos jornalistas que este foi "um momento verdadeiramente histórico".


O acordo assinado por Israel e pelos EAU foi aplaudido pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, como "enormes boas notícias".
Israel celebra...
Os líderes políticos de Israel e de Abu Dhabi corroboraram a satisfação de Donald Trump.

"Yom histori (um dia histórico)", escreveu o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em hebraico, na rede social Twitter.


Netanyahu anunciou no mesmo tweet que iria revelar pormenores sobre o acordo numa alocução ao país pelas 20h00 locais.

O príncipe herdeiro de Abu Dhabi preferiu sublinhar que o acordo inclui o fim da anexação israelita de novos "territórios palestinianos".


"Numa ligação entre o Presidente Trump e o primeiro-ministro Netanyahu, um acordo foi alcançado para encerrar qualquer anexação adicional de territórios palestinianos", escreveu o xeque Mohammed bem Zayed Al Nahyane, também no Twitter.

A deceção palestiniana com o acordo foi por outro lado evidente.
... Palestinianos gritam traição

O Hamas, que controla a Faixa de Gaza, acusou os Emirados Árabes Unidos de "espetarem uma faca" nas costas dos palestinianos devido ao acordo, insinuando uma traição.

O acordo "não serve à causa palestiniana de forma alguma", afirmou o porta-voz do Hamas, Hazem Qassem. "Isto encoraja a continuação da ocupação (israelita), negando os direitos do povo palestiniano e aumentando as agressões contra nós", acrescentou.

A Autoridade Palestiniana fez por sua vez duras críticas ao texto. Hanan Ashrawi, do Comité Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), considerou que "Israel foi recompensado por não declarar abertamente o que tem feito à Palestina de forma ilegal e persistente desde o início da ocupação".


 Na opinião igualmente expressa no Twitter em nome da Autoridade Palestiniana, Ashrawi acrescentou que os Emirados Árabes Unidos saíram da sombra das "negociações secretas e normalização com Israel", numa referência à natureza do acordo.

Já o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, que governa a Cisjordânia ocupada, convocou uma "reunião de emergência" para hoje à noite da direção palestiniana, para discutir a normalização das relações entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, informou a agência oficial Wafa.

No final do encontro, segundo a Wafa, a direção palestiniana deve anunciar a sua reação à normalização anunciada.
Alargar a rede de amigos de Israel
O estabelecimento do acordo é um enorme triunfo para Donald Trump em ano de eleições presidenciais. Poderá vangloriar-se de ter conseguido dar um passo gigante na pacificação do Médio Oriente e na normalização das relações entre Israel e os seus vizinhos árabes e muçulmanos.

Com efeito, uma das consequências admitidas no texto do comunicado conjunto, publicado por Trump, será precisamente a colaboração entre todos para alargar o círculo de amigos de Israel na região.

"Os Estados Unidos, Israel e os EAU confiam que mais progressos diplomáticos com outros países são possíveis, e todos irão trabalhar em conjunto com este objetivo", refere-se.

Israel compromete-se ao mesmo tempo a não avançar com a anexação formal dos territórios ocupados na Cisjordânia, um dos pontos chave de um plano de estabilização para a zona proposto por Donald Trump em janeiro passado.

Isso mesmo fica explícito no texto divulgado esta quinta-feira. "Resultante deste progresso diplomático e a pedido do Presidente Donald Trump com o apoio dos Emirados Árabes Unidos, Israel irá suspender a declaração de soberania sobre as áreas previstas no plano Visão do Presidente para a Paz, e centrar a partir de agora esforços na normalização de relações com outros países do mundo árabe e muçulmano".

A concretizar-se, essa normalização será a maior vitória de sempre dos EUA no Médio Oriente.
O que prevê o acordo
Desde 1967, quando venceu a Guerra dos Seis Dias que visava limpar a então nova nação do mapa, que Israel é um espinho cravado no coração do Mundo Árabe, sendo tratado como tal pela maioria dos países da região, sobretudo a coberto do pretexto de defesa dos interesses palestinianos sobre áreas controladas por Israel.O Irão xiita jurou mesmo apagar o Estado hebraico da face da Terra.

Múltiplas resoluções foram emitidas pelas Nações Unidas ao longo dos anos, para tentar resolver a questão.

A primeira de todas, datada precisamente de 1967 após a guerra dos seis dias, apelava à "retirada dos territórios ocupados por parte de Israel, em troca do reconhecimento da sua soberania, integridade territorial e independência."

Nela se fundaram várias tentativas de normalização do problema, todas fracassadas no objetivo de pacificação final, mas que foram permitindo a Israel firmar-se, ao mesmo tempo que se iam garantindo os interesses palestinianos, incluindo o direito a um território próprio.

Ao longo dos anos, primeiro o Egipto, e depois a Jordânia, aceitaram a spresença de Israel na área, embora mantendo-se muitas vezes críticos da estratégia israelita.

Agora, chegou a vez dos Emirados Árabes Unidos. O acordo terá sido conseguido ao fim de vários meses de negociações lideradas pelo genro de Donald Trump, Jared Kushner, de origem judaica.

O acordo prevê que delegações de Israel e dos EAU se reúnam nas próximas semanas para assinar acordos bilaterais em áreas tão variadas como "investimento, turismo, voos directos, segurança, telecomunicações, tecnologia, energia, saúde, cultura, ambiental e o estabelecimento de ambaixadas recíprocas, entre outras áreas de benefício mútuo".

"Estabelecer laços diretos entre duas das mais vibrantes sociedades e economias desenvolvidas irá transformar a região ao impulsionar o crescimento económico, com realce para a inovação técnolófgica e forjar relações pessoa-a-pessoa mais apertadas", antevê o documento.

O impacto específico no destino próximo dos povos palestinianos não é aflorado no acordo.

Sinal dos tempos, as duas partes comprometem-se a juntar de imediato esforços no desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus, responsável pela pandemia de Covid-19 que assola o mundo.
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